Árvore
Morta
Já
não balanças, ao sabor do vento,
enchendo-nos
de efêmera alegria,
nem
és a confidente do tormento
humano,
ou da ventura fugidia.
Já
não te expandes para o firmamento
nem
ouço, à tua fronde, a melodia
de
alígero cantor que busca alento;
o
lavrador em ti não vê magia...
Jaz,
na campina, teu corpo estirado,
qual
enorme gigante que deitasse,
após
renhida luta, fatigado.
Mas
berço, esquife, casa ou lenha pura
(em
teu lugar já outra árvore nasce),
embora
morta, o teu valor perdura. p. 14
Manaus,
11.5.1942.
֎
Paisagem
rústica
Como
a vida é risonha, assim distante
da
bulha interminável das cidades!
Aqui
frondeja um cumaru gigante,
que
se ergue, altivo, em meio às tempestades;
ali
se espanta uma inhambu, errante,
a
fugir das insídias e maldades;
além
suspira a juriti, arfante,
como
a embalar as dores e as saudades.
E
quando o sol descamba, ao fim do dia,
a
alma da gente, leve, se inebria,
num
clima bom de encantamento e festa.
Desce
a noite. No espaço o luar flutua
e,
no alto, branca, muito branca, a lua
semelha
um coração sobre a floresta. p. 17
Abunã,
1.1943.
֎
A
Vazante
Arrogante,
soberbo, cheio, o rio,
transpondo
as altas margens, imponente,
qual
serpe de satânico assobio,
cobria
as terras, ao fragor da enchente.
Com
a vazante, porém, humilde, esguio,
vencido
leão, sem garras, impotente,
chegado
o tempo abrasador do estio,
deslizando
ele vai, calmo e silente.
Também,
no coração, as águas crescem
dos
rios da Ilusão e da Esperança,
e
tudo é sonho, força, alacridade.
Em
seguida, no entanto, elas decrescem
e
o coração, secando, é só lembrança
da
enchente que passou, – a mocidade. p. 19
Rio
Branco, Acre, 1943.
֎
Cromo
A tarde morre. No poente,
todo em chama, o sol se esvai.
E as árvores, brandamente,
Sussurram um lânguido ai.
Hora de sonho, esta! A gente
em pensamentos se abstrai.
Sopra brisa. De repente,
o crepe da noite cai.
A natureza esmaece
e, fatigada, adormece,
envolta no espesso véu.
Surgem as estrelas, bando
de criancinhas circundando
pelo terreiro do céu. p.27
Rio Branco, Acre, 1945.
JOBIM, Romeu. Cantos do caminho. Brasília:
Trianas, 2003.
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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