sexta-feira, 18 de abril de 2014

EMILY E A ANGÚSTIA

Emily Dickinson (1830-1886)


Reflito, a Terra é pequena
A angústia – absoluta –
Muitos os males,
Mas o que importa?

Penso, podemos morrer.
A melhor vitalidade
Acaba por perecer.
Mas o que importa?

Cogito que lá no céu
– Não sei como – deve haver
Alguma nova equação.
Mas, e então?

*

Eu saberei porque, quando findar o tempo
E quando dos porquês eu não mais cogitar.
Na escola do céu toda sorte de angústias,
Cada uma por si, Cristo irá explicar.

Ele me falará das promessas de Pedro.
Perplexa, ao recordar todo o horror dessa hora,
Por certo esquecerei esta gota de angústia
Que me escalda agora, que me escalda agora.

*

Minha vida duas vezes
Encerrou-se antes do fim;
Outro evento para mim
Incrível, sem esperança,

Imenso como os primeiros
Talvez se oculte no Eterno.
O que sabemos do céu
– O adeus –
É o que nos basta do inferno.


DICKINSON, Emily. Poemas. Tradução Idelma Ribeiro de Faria. São Paulo: Hucitec, 1986. 73, 83, p.89

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DOM HÉLDER CÂMARA


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