segunda-feira, 2 de março de 2015

A ALMA DO MENINO

Tagore (1861-1941)


Se ele quisesse, o menino poderia voar para o céu, agora mesmo.

Mas de modo nenhum quer deixar-nos.

Agrada-lhe descansar a cabecinha no seio da mamãe e não suportaria deixar de vê-la.

O menino sabe de muitas coisas; mas, poucos no mundo podem entender o sentido de suas palavras.

Não quer falar, de modo nenhum.

Quer apenas ouvir as palavras da sua mãe. E por isso são tão inocentes os seus olhares.

O menino possuía um monte de ouro e de pérolas, no entanto veio para a terra como um mendigo.

Veio sob esse disfarce por algum motivo.

Este caro mendigo, pequeno e despido, pretende ser o mais débil, para ser-lhe permitido pedir muito amor à sua mãe.

No diminuto país da lua crescente, o menino estava livre de qualquer vínculo.

Mas não renunciou à sua liberdade sem razão.

Ele sabia que há um lugar de alegria infinda em um pequeno canto do coração materno e que estar preso e apertado por dois braços queridos é mais doce do que a distância desta liberdade.

O menino não sabe chorar. Ele morava no país da felicidade perfeita.

Mas preferiu chorar por algum motivo.

Embora saiba atrair o coração afetuoso com o sorriso do seu querido rosto, os seus gritinhos por pequeníssimas dores, suscitam um laço dúplice, um laço de felicidade e de amor.


TAGORE, Rabindranath. Tagore, obras selecionadas: O jardineiro, Lua crescente, Gitanjali, O cisne. Rio de Janeiro: Livros do Mundo Inteiro, 1974. p.97-98

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DOM HÉLDER CÂMARA


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