quinta-feira, 29 de outubro de 2015

CANÇÃO PARA O MEU TEMPO

Eduardo Alves da Costa


Não peças ao poeta
uma canção discreta
num tempo de conquistas
e loucuras.
Para a liberdade
ou para a morte:
é que o mundo caminha:
e isto requer estrutura.

Quando te aproximas
segurando o copo, em pose estudada,
tenho vontade de te dar um murro
para que acordes no século vindouro
com a tua problemática suspirante.

Ah, meu pequeno, a tua vida!
Tua amada te traiu com teu melhor amigo,
não suportas o professor de estética
e teu pai não te deu o carro prometido.
Já não vais à Europa?
Tua vida é lixo
e teus dias se acrescentam à História
como o pipi que as crianças fazem na praia.
Queres um minuto de atenção para o teu soluço
e me agarras o braço
e insistes
e te aborreces quando não escuto.

Espera... na tua agitação
deixaste cair uma gota de licor
na tua calça de flanela.
Aceitas um conselho?
Abandona de vez as festinhas de sábado
e lança teus nervos distendidos
até a outra margem
para que os outros,
os que vêm depois de ti,
encontrem passagem.


COSTA, Eduardo Alves da. No caminho com Maiakósvki: poesia reunida. São Paulo: Geração Editorial, 2003.p.40-41

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