William Carlos Williams (1883-1963)
Por que eu hoje escrevo?
A beleza das
caras terríveis
de gente nossa que não é ninguém
me estimula a isso:
mulheres de cor
trabalhadoras diaristas –
idosas e experientes –
voltando à casa de noitinha
com suas velhas roupas
suas caras em velho
carvalho florentino.
Também
as peças bem ajustadas
de vossas caras me estimulam –
cidadãos de prol –
só que não
da mesma maneira.
AS ÁRVORES BOTTICELLIANAS
William Carlos Williams (1883-1963)
O alfabeto das
árvores
vai desmaiando na
canção das folhas
as hastes cortadas
das finas
letras que escreviam
inverno
e frio
foram iluminadas
com
pontas de verde
pela chuva e o sol –
As regras simples
e estritas dos ramos
retos
vão sendo alteradas
por ses de cor
pinçados, por cláusulas
devotas
os sorrisos de amor –
. . . . . .
até as frases
desnudas
se moverem como braços
e pernas de mulher sob o tecido
e em sigilo o louvor
entoarem do desejo
e do império do amor
no estio –
No estio a canção
canta-se por si
acima das palavras surdas –
OS POBRES
William Carlos Williams (1883-1963)
É a anarquia da pobreza
que me encanta, a velha
casa amarela de madeira recortada
em meio às novas casas de tijolo
Ou uma sacada de ferro fundido
com gradis representando ramos
folhudos de carvalho. Isso tudo combina
com as roupas das criançasque refletem cada período e
estilo da necessidade –
Chaminés, telhados, cercas de
madeira e metal numa época
sem cercas delimitando quase
coisa alguma: o velho
de suéter e chapéu preto
a varrer a calçada –
os seus três metros de calçada
na ventania que inconstante
virou-lhe a esquina para vir
tomar conta da cidade inteira
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"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA
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