“Fico velando – os olhos
nas estrelas
Pontos
de luz dispersos na amplidão
A
mesma força que há em nós – há nelas
É
tudo uma questão de vibração
Somos
uma mudança permanente
Cada
célula – Universo em ascensão
E
nós – matéria e espírito irmanamente
A
cabeça no céu – os pés no chão”.
(Lourdes Ramalho)
Na viagem do Norte ao
Nordeste estabelecemos sair do Acre e chegar ao Ceará. Por quais cidades
passaríamos foi se definindo ao longo do caminho, como não havia previsão de
tempo para encerrar, fomos além, sem um roteiro preestabelecido, nem uma
sequência ordenada, mas a parada em determinadas cidades já estava definida,
dentre elas, Campina Grande, na Paraíba.
Em Campina Grande não tenho
antepassados, mas para mim a cidade tem um valor não apenas simbólico, mas
também, materialista e histórico, pelo fato de que, na década de 1980, a
Universidade Federal da Paraíba, naquela cidade, formava mestres para a vida.
Eu não estudei lá, mas bebo na fonte de quem pôde aprender naquele importante
centro marxista, teorias que têm orientado algumas pessoas. Indiretamente
aquela instituição me influencia a estabelecer parâmetros políticos e sociais,
na ciência, na arte e na vida.
A nossa ida à Campina Grande
foi motivada pela arte cênica, o teatro, a peça Frei Molambo, que traz na
abertura deste capítulo, pequeno trecho de uma das músicas da peça, de autoria
da escritora e dramaturga, Lourdes Ramalho e mais especificamente, o trabalho
do meu companheiro Jorge Carlos, que já atravessou o Atlântico, daqui para lá e
de lá para cá, algumas vezes, apresentando o Frei Molambo por várias cidades da
Europa e do Brasil. Quando Jorge falou para a escritora, da exibição da peça em
diferentes lugares do mundo, arrancou expressiva e emocionada frase de Lourdes
Ramalho, mais ou menos assim - … é tão bonito, saber que o meu trabalho saiu
pelo mundo, isso faz pensar que valeu à pena!
Decorrido mais de trinta
anos que o Jorge tinha estado na casa de Lourdes Ramalho, já não se recordava
do endereço, mas ele não esqueceu o banquete que foi servido no café da manhã,
na casa da escritora. Segundo ele, na mesa estava tudo que tem num bom café
nordestino, melhor nem descrever… Além da fartura, chamava a atenção, a
diversidade dos frequentadores, que incluía convidados, mendigos, penetras e
até os que por acaso acabavam indo, a convite de alguém do teatro. O Jorge
conheceu o famoso café da Dona Lourdes, quando participou de um Festival de
Teatro, com um grupo do Acre.
Embora tudo se encontre na internet, não encontramos o endereço da Lourdes Ramalho, então o melhor local para iniciar a busca, foi no Teatro Municipal Severino Cabral, que fica no centro de Campina Grande. Lá encontramos um grupo de atores que estavam reunidos, para tratar da montagem da peça “As Velhas”, também de autoria de Lourdes Ramalho. Mesmo o grupo de atores demonstrando interesse em nos ajudar e embora soubessem onde ela mora, não nos forneceram o endereço, mas informaram telefones de pessoas que nos ajudariam.
Embora tudo se encontre na internet, não encontramos o endereço da Lourdes Ramalho, então o melhor local para iniciar a busca, foi no Teatro Municipal Severino Cabral, que fica no centro de Campina Grande. Lá encontramos um grupo de atores que estavam reunidos, para tratar da montagem da peça “As Velhas”, também de autoria de Lourdes Ramalho. Mesmo o grupo de atores demonstrando interesse em nos ajudar e embora soubessem onde ela mora, não nos forneceram o endereço, mas informaram telefones de pessoas que nos ajudariam.
Teatro Severino Cabral,
Campina Grande, Paraíba.
Foto: Oliveira de Castela,
2015
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Como não usamos telefones
celulares, teríamos que buscar um telefone público, o que está em pleno desuso
ou em fase de extinção, lamentavelmente, então não tivemos a paciência de
esperar, confiamos no fato de que a escritora era uma mulher extremamente
conhecida e morava no centro da cidade, certamente algum comerciante saberia
informar, dito e feito, nada como andar com o GPS (Golpe de Pura Sorte) ligado.
Na casa de Lourdes Ramalho
fomos atendidos por uma de suas assistentes. Ficamos no escritório olhando as
obras dela, vendo reportagens e outros documentos que tratavam do trabalho da
escritora, mulher que aos 95 anos de idade, após acordar da sesta, prepara-se
para receber visitas, dar entrevistas e outras conversas, mas não gosta de
tirar fotografias, assim nos foi recomendado.
Com imensa simpatia ela nos
recebeu. Ouviu com atenção o Jorge contar a “peregrinação” com o Frei Molambo,
citando o nome das cidades nas quais ele se apresentou. Eu contei a ela, que
minha irmã Izabel de Castela, já trabalhou na peça “As Velhas”, numa montagem
com seu grupo de teatro, no Acre. Cheia de orgulho, a escritora Lourdes Ramalho
disse que a Universidade Estadual da Paraíba estará lançando em breve, uma
publicação com a coletânea, de cem obras suas.
Dona Lourdes nos contou
passagens de sua vida, a coragem que ela precisou ter para enfrentar a
situação, de ser esposa de um desembargador, numa época em que a mulher deveria
estar cuidando da casa, do marido e dos filhos, enfrentar os preconceitos de
uma sociedade machista para poder realizar seu trabalho. Ela acreditava nos
frutos daquele esforço.
Para nós, eu e o Jorge,
atriz e ator, podermos ser recebidos da forma como fomos, por uma mulher, com a
experiência profissional da dramaturga que acumula mais de cem peças escritas,
aos 95 anos de idade e ouvir diretamente dela, a sua história de vida, é
realmente uma oportunidade muito valorosa.
O tempo decorreu numa
conversa amistosa, que não teria hora para acabar, se não fosse a nossa
sensibilidade, com um grupo de estudantes que aguardava, para fazer uma
pesquisa com a escritora. Ela, por sua vez, insistia para que ficássemos, sem
se importar com as outras pessoas que estavam à espera. Este gesto dela, era a
sensibilidade de dedicar mais tempo para receber retorno de seu trabalho,
levado por duas pessoas que vieram de longe, enquanto o grupo de alunos estava
sempre ali na sua cidade. Ela gostou de nós, disse que estava recebendo pessoas
muito bonitas.
Leiam
aqui as crônicas anteriores:
- Primeira: O início é no Cai N’Água
- Segunda: Capitais da borracha
- Terceira: A “Pérola do Tapajós”
- Quarta: Uma noite de medos e macacos
- Quinta: Infâncias roubadas na Amazônia
- Sétima: O Cariri que nos habita
-
Oitava: De Fortaleza à Trairí é um pulo!
- Nona: Nova Olinda e Santana do Cariri
Uma visita assim enriquece a mais monótona ou enfadonha viagem, o que não é o caso dessa Odisseia de vocês! Eu nunca ouvi falar da Lourdes Ramalho! Ou seja, a viagem está trazendo Cultura para nós e com detalhes que nos fazem sentir como se lá estivéramos... Muito obrigado pela oportunidade!
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ResponderExcluirSempre considerei que a riqueza não se mede em valores monetários, mas isso é coisa minha...
No entanto, estas viagens que a Eliana e o Jorge têm feito revelaram-me que eu tenho dois amigos imensamente ricos. E como eu me sinto orgulhoso da sua riqueza e da sua amizade! São ricos porque, com facilidade, têm encontrado pepitas de ouro, diamantes e pérolas valiosas em cada cidade por onde passam. Esse contacto, com gente tão interessante e com tanta história para contar, não tem preço. É de um valor incalculável. Bem hajam!
Reinaldo
Uma correção: A Universidade que fará a publicação das 100 obras da dramaturga Lourdes Ramalho é a Universidade Estadual da Paraíba e não a Universidade Federal da Paraíba, como consta no meu texto.
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