domingo, 30 de junho de 2019

O GRÊMIO LITERÁRIO DO SERINGAL PARAÍSO

Abaixo, publicamos duas notícias do jornal O Município, de Tarauacá, sobre a fundação de um grêmio literário no seringal Paraíso, no alto rio Muru, em 1913, mesmo ano de elevação de Vila Seabra à condição de cidade. É um dos raros registros desse tipo de agremiação nos seringais acreanos, o que demonstra a importância da economia da borracha naquela época, e ajuda a compreender o processo de colonização da região. É claro que a agremiação era fruto dos filhos de seringalistas que, no entanto, não invalida a importância do fato, sobretudo numa região estereotipada como inculta e longe da civilização. Também corrobora nossa tese de que, no primeiro ciclo da borracha, os seringais tinham predominância sobre as “cidades”. I.M. 
Cabeçalho do jornal O Município, que circulou em Tarauacá de 1910 a 1937.


Registramos, com prazer, a comunicação que tivemos de haver sido criado, no Seringal Paraíso, o Grêmio Literário “Tobias Barreto”, devido à iniciativa de uma plêiade de moços dedicados a cultura das letras. Aplaudindo tão bela ideia, damos publicidade à carta que nos foi dirigida pelo presidente da referida agremiação, a cujos sócios desejamos ótimos proveitos nos exercícios da inteligência.
“Paraíso, 5 de Agosto de 1913. Exm.º Sr. Dr. Pedro Leite. – Saudações cordiais. – Sendo V. Exc.ª o introdutor da civilização no Departamento do Tarauacá, com a fundação do campeão de letras destas zonas, O Município, cumpre-me comunicar-lhe que uma plêiade de jovens amigos da ciência e da literatura, reunidos no seringal “Paraíso”, resolveu fundar um grêmio tomou o nome do imortal “Tobias Barreto”, com sede no supra referido seringal. Desde já contamos com vosso valioso apoio de jornalista e provecto homem de letras. Ficou assim, organizada a diretoria: Bento Marques de Albuquerque – Presidente; José Targino da Silveira – Vice-presidente; Antonio G. Pereira – Secretário; José Marques Sobrinho – Tesoureiro; José Galdino – Orador oficial. Sem mais, sou de V. Exc.ª Am.º Obr.º Attº. – Bento Marques de Albuquerque. – Presidente.

O MUNICÍPIO, Tarauacá-AC, 24 de agosto de 1913, Ano IV, N. 152, p.2


ATA DE FUNDAÇÃO DO “GRÊMIO LITERÁRIO TOBIAS BARRETO”

Aos trinta e um dias do mês de Julho do ano de mil novecentos e treze, reunidos em a casa do Exm.º Sr. Coronel Antonio Marques de Albuquerque, uma plêiade de rapazes, que se dedicam ao cultivo das letras pátrias, resolveram fundar um Grêmio Literário que ficou denominado, “Grêmio Literário Tobias Barreto”, com sede no Seringal Paraíso, em homenagem a personalidade literária d’aquele grande e fecundo escritor, que tão úteis e relevantes serviços prestou a literatura nacional, marcando com a sua passagem pela vida, uma fase de tão grande desenvolvimento, que causou a maior admiração, não só em seu país, como entre nações mais cultas do mundo. E por assim terem deliberado, lavrou-se a presente ata que vai por todos assinada. Na mesma ocasião foram eleitos por unanimidade de votos para preencherem os cargos da diretoria que tem de dirigir os trabalhos do Grêmio no presente ano; para presidente: Bento Marques de Albuquerque, para vice-presidente: José Targino da Silveira, para secretário-geral: Antonio G. Pereira, para orador oficial: José Galdino, para tesoureiro: José Marques Sobrinho. Também foram eleitos para a comissão que tem de elaborar os estatutos do Grêmio os seguintes consócios: Francisco Avelino Maciel, José Targino da Silveira e José Pereira de Albuquerque, para em comissão saudarem o Exmº Sr. Coronel José Marques de Albuquerque, pelo motivo de seu aniversário natalício, e agradecerem a este conspícuo cidadão o apoio que manifestou para o progresso da nossa agremiação.
Por proposta do consócio José Galdino, foi inserido na presente ata um voto de agradecimento ao Exmº Sr. Coronel Antonio Marques de Albuquerque, não só por ter posto a sua casa a disposição de nossa agremiação, como também pelo apoio que manifestou para o engrandecimento da mesma, para a reunião de assembleia geral, e discussão dos estatutos que tem de ser discutidos e aprovados nessa ocasião, ficou designado o dia sete de setembro do corrente ano.

Rio Muru, Paraíso, 31 de Julho de 1913

Bento Marques de Albuquerque
Antonio G. Pereira
José Galdino
José Targino da Silveira
Francisco Avelino Maciel
Raimundo B. Leão
João P. de Albuquerque
José Pereira de Albuquerque
José Marques Sobrinho
Manoel Marques de Albuquerque

O MUNICÍPIO, Tarauacá-AC, 28 de setembro de 1913, Ano IV, N. 157, p.1

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Quando se sonha só, é apenas um sonho, mas quando se sonha com muitos, já é realidade. A utopia partilhada é a mola da história."
DOM HÉLDER CÂMARA


Outros contatos poderão ser feitos por:
almaacreana@gmail.com