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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O VERBO SE FEZ CARNE

Georges Bernanos (1888-1948)


O Verbo se fez carne, e os jornalistas daqueles tempos não souberam de nada!

A Virgem não teve nem triunfo nem milagres. Seu filho não permitiu que a glória humana a tocasse, ainda que com a mais tênue extremidade de sua grande asa selvagem. Ninguém viveu, sofreu e morreu tão simplesmente e numa ignorância tão profunda da própria dignidade, de uma dignidade que no entanto a coloca acima dos anjos. Pois afinal ela havia nascido sem pecado, que espantosa solidão! Uma fonte tão pura, tão límpida, tão pura e tão límpida, que ela nem podia ver nela a própria imagem, feita apenas para a alegria do Pai – ah, solidão sagrada!

A Virgem era a inocência. Você tem consciência daquilo que somos para ela, nós, a raça humana? Ah, naturalmente, ela detesta o pecado, mas afinal não tem qualquer experiência dele, aquela experiência que não faltou aos maiores santos, até mesmo ao santo de Assis, por mais seráfico que seja.

O olhar da Virgem é o único olhar verdadeiramente infantil, o único olhar de criança que jamais foi erguido sobre nossa vergonha e nossa infelicidade.


BERNANOS, Georges. Diário de um pároco de aldeia. São Paulo: Paulus, 1999. p. 209-211