quinta-feira, 20 de outubro de 2016

“AS BESTAS VOLTARAM”

Gilberto A. Saavedra – Rio de Janeiro

Uma reflexão atual sobre o destino do nosso mundo; os receios e incertezas da humanidade de si ver novamente, envolvida em um novo conflito de proporções gigantescas e, que o homem pensasse, refletisse com sabedoria jamais haveria.

Eu não sei o significado da vida      (Nunca procurei saber)
Não sei de onde eu vim                      (Jamais saberei)
Também não sei quem eu sou         (?)
E nem para onde eu vou                    (?)

Mas uma coisa eu sei afirmar categoricamente:
A vida é fantástica
Viver é muito bom
Os estranhos e misteriosos enigmas do céu, não são para mim.

Eu sei também que não sou dono de nada
Nem minhas pernas conseguirão em levar-me ao túmulo.
O poder, tirania e arrogância
Na hora da morte, caiem por terra sem ser preciso fazer nada.

O meu abençoado planeta não é meu e nem de ninguém
A terra é do espaço, somente um grãozinho de areia só,
Um micro feixe de luz, perdido na imensidão
Da grandiosidade e espantosa formosura do Universo.

Eu sei com convicção
Que a nossa amada terra em tamanho
Nada representa para o infinito Cosmos
Com suas gigantescas e imensuráveis bilhões de Galáxias.

Neste mundo ninguém é dono de nada
O homem nunca colocou a cabeça para pensar
Refletir e avaliar com sabedoria, a importância
De que nem mesmo a Terra é eterna e segura no espaço.

Tudo que foi construído tem início e fim
Nossa vida, é somente um piscar de olho
Comparada com os decorridos bilhões de anos
E os outros bilhões que virão, se o homem deixar.

Como se vê
A nossa vida é minúscula
Quase que não há tempo para nada
Uma correria num apertado espaço.

Mas nós humanos não sabemos viver em harmonia
De aproveitarmos essa ínfima luz, que nos foi dada uma única vez
Unindo os povos da pequena terra, sem as guerras
Com muita felicidade, alegria, amor e paz mundial.

Desde o início da história
Do homem na terra
Que o mundo terra
Jamais teve paz.

O homem prefere se matar nas batalhas
Desde que o mundo é mundo;
O homem prefere viver assim
Ao lado das Bestas.

Todas as histórias mundiais que conhecemos
São lindas contadas nos livros
Mas na realidade todas elas
Foram feitas com muito ódio, ganância e extermínio.

Eu vejo o tempo passar, o tempo voar.
Eu vejo guerras, guerras e mais guerras...
E as bombas continuam caindo e caindo...
Mas o homem finge ignorá-las.

Eu vejo as lágrimas que escorrem em rostos tristonhos,
Em choros em silêncio dos filhos risonhos,
Já sem pátria, sem comida e sem orientação;
Mas o homem finge ignorá-las.

Eu vejo olhares inocentes sem percepções,
Ofuscados pela luz sem brilho na escuridão,
Eu vejo um mundo cruel e bestial;
Mas o homem finge não vê-los.

Eu via um planeta todo azul mas, é só miragem lá do céu.
Eu sei que, se houvesse somente, uma ínfima gota de
Compreensão, o homem traria soluções;
Mas o homem finge ignorá-las.

As bombas continuam caindo...
Transformando o azul celeste
Num amanhã de cinzas negras;
E o homem finge ignorá-los.

Sou feliz,
Mas ao mesmo tempo não sou;
Tenho paz,
Mas ao mesmo tempo não posso ter;

Na minha mesa há fartura,
Entrementes, quantos estão morrendo de fome;
Sou alegre de bem com a vida,
Mas quantos choram de tristeza;

Sou livre,
Mas quantos são sacrificados pela tirania;
Sou criança, um período maravilhoso da vida,
Eu sou um menino órfão sem um amanhã;

Eu tenho os meus pais juntos a mim,
Os meus padeceram nas guerras;
Eu tenho uma pátria,
Eu sou apátrida, não tenho nacionalidade.

Às vezes, eu penso que estou sonhando,
Um sonho cruel. Quero acordar para acabar com o pesadelo.
Mas não consigo compreender o mundo
O ser humano enlouqueceu
Quanto mais ao passar do tempo
Mais bestial se transforma
A humanidade reza, ora e pede paz, pois:
“AS BESTAS ESTÃO SOLTAS NOVAMENTE”

APOCALIPSE TENEBROSO

Erlan Nogueira de Moura


Há tempos a ferrugem que destrói a visão
A água que se descontrola na drenagem
Os hospitais que fazem do leito seu próprio chão
Tiroteio no presídio não é mais novidade.

Nas ruas a solidão é outra vez atormentada
O caminho de volta é um cenário oculto
A segurança atual é uma grande cilada
E ainda tem Polícia parando depois disso tudo.

Escolas falidas na mesma gravura
Semáforo queimado na curva fatal
Disciplina cortada que incentiva a cultura
Plano de aula agora é tudo virtual.

Sistema estranho que eterniza o “patrão”
Olhos abertos no bom samaritano
A coragem de um santo não é medida pela ação
Às vezes o óbvio não é visto neste plano.

Aqui o progresso é o crime sofisticado
Internautas do ministério em conflito moral
Recrutamento de pacto chega em carro blindado
O silêncio da sociedade é um triste sinal.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

NA ILHA, DA LIA DE ITAMARACÁ

Eliana Ferreira de Castela

               

Pés saltitantes na areia,
Mãos que sacodem e se juntam
Saia rodada, colar a dar voltas,
Corpo que dança, serpenteando no ar.
É roda, é ciranda.
É Lia de Itamaracá.

Sentimento inebriante
Os corações abrandados
Voz, que ecoa distante,
Gente que encanta ao cantar
É roda, é ciranda.
É Lia de Itamaracá.

Nas praias da ilha, a lua levanta,
Tudo reflete com pleno fulgor
O suor dos corpos tece u’a manta
Contracenando com as ondas do mar
É roda, é ciranda. 
É Lia de Itamaracá.



A visita à ilha de Itamaracá, não tinha outro propósito, senão conhecer, Maria Madalena Correia do Nascimento - Lia, figura pública, a cirandeira mais famosa do Brasil, e quem sabe do mundo. Requisitos estes que nos fez ver tudo com curiosidade, atenção e imaginação equivocada, pelo fato de pensar que ela não seria encontrada num lugar tão simples e com tanta facilidade. Grande engano, porque foi numa rua estreita, com esgoto a céu aberto, onde em alguns momentos, tivemos que saltar, para não afogar o pé na lama, em uma casa simples que se destaca apenas pela decoração peculiar, onde encontramos a artista.

Sem ter o endereço de sua residência, saímos andando pela ilha e perguntando por ela, todas as pessoas sabiam onde ela morava, quando perguntávamos, diziam – quem a Lia da ciranda? Numa demonstração de extrema popularidade junto aos moradores. No bairro do Jaguaribe, descemos do trenzinho de madeira, que faz o transporte entre os povoados/bairros da ilha de Itamaracá. Seguimos a rua indicada cheios de ansiedade, que acabamos passando sem perceber, que a casa dela já havia ficado para trás alguns metros, quando uma transeunte nos orientou. Somente quando paramos na frente da casa dela pensamos - que ousadia… Dizer o que para ela ou para quem abrisse a porta? Será que havia alguém na casa? E se ela não quisesse nos receber?

         Todos os questionamentos caíram no chão, quando ela mesma abriu a porta, não havia dúvida que era ela! Aquela mulher grandiosa, na altura e na expressão, vestida de bermuda jeans e camiseta que trazia sua própria foto, na cabeça havia um lenço ou uma toca que escondia seus cabelos, semblante sério e olhar penetrante. Abriu o portão, com o olhar circulando nossos corpos de cima a baixo, perguntou do que se tratava, com palavras que já nem lembro mais. Nossa resposta foi a mais honesta possível – queríamos conhecê-la!
Na casa da Lia de Itamaracá
Foto: Oliveira de Castela, 2015

Diante de nossa resposta, firme e sem rodeios, ela foi aos poucos abrindo um sorriso e nos deixando à vontade. Falou que estava sem o espaço da dança, que tudo estava no chão, referindo-se ao processo de retirada de barracas construídas ilegalmente na praia e que só retomaria às danças, quando houvesse uma definição e disse - “eu gosto de tudo certinho” - referindo-se ao fato de não querer construir em área irregular. Descontraída diante de nossa alegria por estar com ela, posou para algumas fotos conosco e nos presenteou o catálogo de uma exposição multimídia de fotos e objetos sobre o seu trabalho, que foi aprovado pela Caixa Econômica Federal, no ano de 2013.

Depois de conhecer Lia, já podíamos ficar à vontade para conhecer a ilha, visitar o Forte de Santa Cruz de Itamaracá, popularmente, Forte Orange, contemplar o mar, passear pela praia… Foi assim que soubemos que o forte encontrava-se fechado para reforma, sem previsão de data para reabrir, então ficamos circulando aquela estrutura imensa, construída pelos portugueses, para proteger a colônia da invasão holandesa. Graças a inquietude, desobediência às regras, normas e proibições, atitudes tão próprias do Jorge, ele empurrou a porta, onde constava uma placa com aviso proibindo a entrada de pessoas, que não fossem os trabalhadores da obra, ele entrou e fez algumas fotos no interior do forte. Sempre avalio que forte, é o que os muros dos Fortes escondem, pois muitos deles serviram de prisões, para presos políticos na época da ditadura militar.

Pérolas

Sob o sol escaldante,
Sobre a areia ardente,
Na atmosfera do labor,
Mulheres coletam ostras
Incrustadas nas pedras.
Dos rostos corados,
Brotam gotas de suor
Escorre madrepérola.


              Chamou a nossa atenção um grupo de mulheres, no horário de sol a pino, com pequenos instrumentos, martelando e raspando pedras na praia. Mesmo chegando próxima a elas, não identificamos o que faziam, para matar a curiosidade, o jeito foi perguntar. Elas coletavam ostras. Seus rostos suados tinham uma particularidade, estavam maquiadas, usando sombras azuis nos olhos. Aquele toque feminino, no trabalho duro, dava leveza à paisagem, na praia do Forte Orange, em Itamaracá.

Mulheres catando ostras na praia do forte Orange
Foto: Oliveira de Castela, 2015

Uma das trabalhadoras falou que não coletava ostras para vender, pois não compensava, era muito trabalho para pouco dinheiro, porque no final, quem de fato ganhava, eram os donos dos restaurantes. Elas preferiam dar para os filhos comerem. A queixa da coletora é a mesma dos extrativistas e dos pequenos produtores rurais que dão o maior duro, enquanto o atravessador obtém o maior lucro.

Deixamos a Ilha de Itamaracá com a alegria de haver conhecido a cirandeira Lia e passar cinco dias balançando na rede, ao som das ondas mar, comendo tapioca, bolos, sucos de frutas e outras guloseimas regionais, numa pousada de baixo custo e excelente acomodação.

Ó cidade linda

“Nessas terras do Sul ele nasceu, amiga.
Aqui, nesses campos que se estendem em busca do infinito,
Correm livres os animais e as lendas”.
Jorge Amado

           
As ruas, ladeiras, largos e as casas de Olinda, exibem um ar festivo. As sombrinhas coloridas do frevo estão sob o “guarda chuva” do talento, que é próprio do povo nordestino, que deixa a alegria gritar mais alto que qualquer dificuldade. Muitos são os espaços que abrigam a arte daquela gente de criatividade intensa, na poesia presente na música, pinturas, danças, e na maneira de lidar com a natureza e dela tirar o sustento da vida.

Dentre os espaços de cultura de Olinda, um é muito especial para nós,  o Terraço de Olinda. É o casarão que oportuniza diversos artistas de diferentes áreas, com apoio e incentivo da Marisa Reis, que é responsável pelo espaço, local onde os artistas podem produzir e comercializar os seus trabalhos.

No Terraço de Olinda, em 2013 realizamos o lançamento da Folhinha Poética. Naquele ano, o espaço abrigou o evento, Alt Fest, de responsabilidade de Tuppan Poeta. Oportunidade em que pudemos conhecer um pouco mais do rico universo de poetas pernambucanos.

Em 2015, o Terraço de Olinda estava em processo de reestruturação, de suas instalações físicas, após haver sofrido danos no seu telhado, pelo desgaste de tempo. Embora Marisa Reis estivesse com muitos afazeres, não deixou de nos acolher, com carinho e atenção especial. Ela disponibilizou um cantinho, para guarda de parte de nossa bagagem, durante os dias que fomos à Ilha de Itamaracá.

Talvez tenha sido a magia de Olinda, que acolheu a arte culinária do português Jaime Alves, proprietário e chef, do Restaurante Tribuna Sabores Ibéricos. No Tribuna, já estivemos outras noites e lá sempre come-se muito bem, mas naquela noite, além do bom vinho e iguarias como bolinho de bacalhau e bacalhau com batatas a murro, a mesa foi servida com a experiência de vida do amigo Jaime, e no que pese a já conhecida cozinha portuguesa, a sua história foi o prato que melhor nos alimentou, ao longo dos cinco anos que visitamos Olinda. 

Cabe registrar que, quem nos apresentou o Jaime e o seu restaurante foi Crhistian Cunha, o pernambucano que é personagem do livro Was Bach Brasilian, do Jorge Carlos. Crhistian é um artista que aprisiona na caixa de fósforos imagens captadas de vários lugares do mundo, através da técnica de pinhole, do inglês pin-hole, que é a câmera sem lentes. Naquela noite especial de novembro, mesmo que num curto tempo, ele fez parte do banquete, o que foi uma pena, não esperou o prato principal – histórias e cantorias - ele precisou sair antes.

            Depois das iguarias acima mencionadas, Jaime nos serviu com maestria, fragmentos de sua história. Contou como ele conheceu o escritor Jorge Amado, autor do livro, O cavalheiro da esperança, que Jaime lera e despertou o interesse em conhecer a personagem do livro, Luiz Carlos Prestes. O que veio a acontecer posteriormente, quando Prestes se encontrava em Moscou, assim como Jaime, que também estava na capital da antiga União Soviética. Jaime fora como voluntário, para cozinhar durante os jogos olímpicos que viria a acontecer em 1980.

Além das histórias, Jaime conduziu as cantorias das músicas de caráter revolucionário, como as do português Zeca Afonso que é considerado ícone, da Revolução dos Cravos. Revolução esta que pôs fim à ditadura de Salazar em Portugal. Não poderia ter sido outro acontecimento, senão aquela noite em que o Restaurante Tribuna Sabores Ibéricos ficou aberto, só para nos receber, num dia que não é costume ser aberto e num horário em que já deveria estar fechado. Em poucas horas a conversa atiçou a chama vermelha da esperança, de podermos um dia hastear a bandeira dos sonhos. Olinda seria o fim da viagem, mas os ânimos despertos com a história do Jaime Alves nos puseram a seguir viagem com a utopia, mesmo voltando para casa.

Não só para refletir

Ouricuri, bacaba, bacuri,
Jatobá, juçara ou açaí,
Taperebá, mangaba,
Seriguela, sapoti.
É suco, doce, sorvete
Ou creme.
Salada destas frutas…
Nem pensar!
                                                     
                                                                                                  
            Na viagem pelos rios, estradas e ao sabor das frutas, o roteiro do Acre ao Ceará foi marcado com sucos, doces e sorvetes, de frutas que povoam territórios, com continuidades e intermitências. Ouricuri, no Acre, bacuri até Belém, taperebá apenas em Manaus, mas em Belém, a taperebá de Manaus é cajá, bacaba e açaí/jussara até ao Maranhão. No ceará, mangaba, seriguela, sapoti, umbu e umbu-cajá. Tamarindo, do Acre ao Ceará, com territórios intermitentes. Mas este não é um estudo de botânica.

Saboreamos vários frutos ao longo da viagem, mas aqui no texto, falar das frutas é apenas a maneira de ilustrar um trajeto que requer leveza ao ser executado, quando tantas outras coisas estabelecem forte relação com a vida das pessoas. Mesmo assim tenho que admitir que em muitos momentos elas deram mais que sucos e sorvetes, deram conteúdo ao contexto de vivências importantes, como a do motorista Amaro, que nos conduziu de Nova Olinda à Santana do Cariri, por exemplo, numa fala reflexiva sobre a vida e dificuldades dos sertanejos.

A viagem foi a oportunidade de dialogar com os Brasis, entender um pouco das razões da pobreza, das desigualdades e a necessidade de enxergar o que está fora das capitais. Olhar para as crianças, o futuro delas que na Amazônia e no Nordeste está muito comprometido.

            A importância de sermos recebidos na casa de pessoas públicas, como Lia de Itamaracá e Lourdes Ramalho, que sem nenhum protocolo ou prévio agendamento nos acolheram para participar suas experiências de vida e suas artes. Uma oportunidade de relevância.

Mais uma vez, podemos perceber a importância que tem a tecnologia da comunicação, mais especificamente as novas mídias, possibilitando tornar pessoas estranhas e desconhecidas, em grandes amigas, assim como poder manter forte, os laços com amigas e amigos que se encontram distantes. O desafio que temos com o uso dessa comunicação que é nova, mas que requer velhas práticas, como a responsabilidade, sem medo do que é novo.

A viagem foi a oportunidade de descobrir lugares fora da grande mídia e pessoas que estão fora das políticas públicas, mesmo quando elas, as pessoas, compõem as planilhas dos orçamentos públicos, isso porque os orçamentos públicos não vão chegar  a elas em conformidade com seus anseios. Viajar é preciso para conhecer realidades outras e para conhecermos a nós mesmos. 


Leiam aqui as crônicas anteriores:
- Décima Primeira: A feira de Caruaru