segunda-feira, 30 de abril de 2012

ELA DA JANELA DA CASA DOS RUELAS

Jairo Nolasco

Localizada estrategicamente em um morrete na esquina da Luiz Meirim Pedreira com a Desembargador Távora fica a fantasmagórica 'casa dos Ruelas', uma das famílias(de origem lusitana) mais abastadas da sociedade cruzeirense em décadas de outrora. Estrategicamente, porque dela se avistaria o movimento de gente que chega e sai pelo rio Juruá.

A caminho de vários mercados de produtores e marreteiros, hoje, o movimento de pessoas ainda é grande naquela parte da cidade. Às pressas os transeuntes ignoram a paisagem já cansada. A velha casa a cada dia fica cada vez mais invisível. É como não existisse mais. É a monotonia da pressa moderna.

Abaixo do que um dia foi uma pequena sacada protegida por barras de ferro e acima da porta principal frontal está gravada em relevo a data 1940, provavelmente ano de sua inauguração. Estranha mania da época que parecia adivinhar que ficaria a construção para a posterioridade a mostrar a exuberância de um passado não tão perfeito.

A velha construção pertence hoje a um comerciante forte desta plaga. Dizem que não vende e nem troca. Queria mesmo era derrubá-la. Possivelmente em seu lugar ergueria mais uma dessas lojas ou mercadinho ultrapassados e apertadinhos que nem estacionamento ou qualquer outro conforto oferecem aos usuários.

Coisa da mentalidade tacanha que ainda reina por aqui de achar que só existe movimento comercial se for " perto do rio". Reza a lenda que só não conseguiu seu intento porque o prefeito à época declarou ser a casa 'patrimônio histórico', portanto embargando a demolição.

Conta-se que ainda foi oferecido outro terreno em troca. Por birra, o empresário não aceitou, como também não permitiu a reconstrução da casa. O empresário espera vencer o poder público pelo cansaço.

Se a conversa popular é verdadeira ou não, eu não sei. Só sei que como não sou nem um pouco normal, vez ou outra costumo passar horas a contemplar a construção fantasma e invisível aos outros. Isto porque uma força estranha que eu não poderia explicar me atrai o olhar e pensamento quando por ali passo.

Como num filme a mente viaja aos anos 40. Vejo a casa de paredes novas, toda pintada de branco com detalhes em vermelho, com ampla escadaria. Ouço vozes, choros e risos. Vejo reuniões de gente importante e bem trajada. Naquela casa, o poder econômico e político da pequena e isolada cidade era passado em conversas à boca pequena.

Se tivesse talento para escritor faria um romance a partir daquelas imagens. Mas sou só um blogueiro sem dom e de paupérrima qualidade.

Na pequena sacada aparece o que parece ser um figura feminina. Eu ouço o que ela fala sem que ninguém veja. Ela diz que o tempo gira e a roda da fortuna também. O que hoje é certo, amanhã não terá continuidade. O dinheiro e o poder sempre trocará de mãos.

Essa é a mensagem que a velha casa me diz. Essa é a sua sina e assim quis o destino que permanecesse em pé até hoje, daquela forma ali esquecida, como esquecida foi a história de seus antigos proprietários. Se ela tivesse sido reformada mesmo mantendo a arquitetura original jamais me despertaria tamanha curiosidade.

Sorte de muitos que existem poucos loucos como eu a ver ou imaginar coisas onde não existem e que na verdade não têm serventia alguma ao mundo real. A cidade não precisa mais dela. O que é do passado ficou por lá, preso ao tempo e espaço.

Mas aquela casa antiga e em ruínas me intriga, sobretudo porque ela não me diz do passado e sim do presente e de um futuro próximo, de uma verdade insofismável : a mudança é a única certeza.

Quem sabe não seja eu que precise mudar primeiro...

domingo, 29 de abril de 2012

FILHAS DE UM TEMPO QUE SE QUER LONGE

Leila Jalul


Kátia Regina Lamar da Matta, ou simplesmente Catita, como gostava de ser chamada, era um raro exemplar de beleza mignon. Uma boneca de porcelana, mais parecia. Como parecia não saber que era linda e doce. E que cantava como um sabiá.

No colégio, de tradição rígida como a do Pedro II, por mais que aumentasse a sola dos sapatos e ficasse empertigada, era sempre a última da fila. Perto de Izilda, sua melhor amiga, com seus 1,87 cm, então, desaparecia. A turma pedia para que tomasse cuidado... Que poderia ser pisada pela aliá grosseira, desajeitada e descuidada.

Gozaram e curtiram a juventude alegres, sem complexos que atrapalhassem as florações dos seus momentos joviais. Cumpriram, cheias de garbo, a jornada de disciplina do conceituado colégio. Levaram a sério a fase da vida que admitia deslizes, sem cometê-los.

Por serem filhas de militares, absorveram as represálias da época com naturalidade e conformação. Sem sofrimentos, pois que desconheciam a realidade além dos muros das casernas dos verde-oliva do Exército, dos asas douradas da Aeronáutica e dos cisnes brancos da Marinha.

Na vila militar da cidade serrana seus destinos pareciam selados. Com militares ou descendentes destes casariam. Chegariam ao altar passando por baixo das espadas dos cadetes, devidamente uniformizados com fardas de gala e sorrisos Colgate.

Por puro determinismo, assim deveria ser.

E assim aconteceu.

A primeira a casar foi Izilda Tavares Montenegro - a Grande. Estava linda. Uma noiva sem defeitos. Com seus 1.87 cm mais parecia estar ao lado do baixinho Ricardo Mansueto como se um gigante de braços dados com sua bengala de cabo de marfim.

Brigadeiros, Generais e Almirantes, com suas esposas e devidamente trajados, faziam a festa parecer uma solenidade de entrega de espadas. Não deixava de ser, afinal. O rito perfeito era a tônica. Sem erros ou lambanças. Festa com horário marcado para começar e terminar. Festa para alto comando nenhum colocar defeito.

O enlace de Catita com Rogério Palmares, também filho de militar, foi um tanto diferente. O período de ouro dos fardados estava no apagar das luzes. Em sendo assim, até por economia de pompas, foi bem discreto. Não só por isso...

Rogério, no seio familiar e na vila militar - para desgosto dos pais e do país - era tido e reconhecido um rebelde. Esteve envolvido com baderneiros comunistas e andou se amigando com a clandestinidade. Nada que manchasse sua festa de casamento, apesar dos olhares enviesados da casta.

A noiva estava linda. Uma bonequinha vestida com pura seda e grinalda de renda branca.

Nada de baile no clube militar. Padrinhos, pais e o pequeno grupo de convidados, no acanhado recinto da sacristia, ergueram um brinde aos noivos. E só!

Dali mesmo, no carro popular do agora marido, seguiram para a lua-de-mel em Búzios. Depois da lua-de-mel, instalaram-se no apartamento de quarto e sala, em Niterói, onde Rogério trabalhava como gerente de uma concessionária de carros.

Nada perto do confortável modelo que Catita tinha junto aos pais. Procurava não dar tratos à bola. Era nova, afinal, e não duvidava do amor que sentia pelo esposo.

Isso não quer dizer, porém, que não sentisse arrependimentos de ter saído de casa tão cedo para enfrentar as batalhas da vida.

Seu primeiro emprego foi numa casa noturna de primeira classe, cujo contrato exigia duas horas de apresentação no palco, na base do piano e voz, interpretando compositores da MPB, inclusive os odiados pelos seus pais e por seus amigos de farda.

Casa cheia. Sempre! A voz de Catita agradava gregos, troianos e vascaínos.

Numa noite, pouco antes de iniciar sua jornada, recebe uma ligação da mãe dando conta de que Izilda estava hospitalizada e pedia sua presença, com urgência, se possível.

No dia seguinte, sem pensar em nada, subiu a serra. No trajeto, por não ter sido esclarecida, fez mil e uma conjecturas sobre o que teria acontecido com a amiga. Estaria grávida? Perdera o bebê? Algo mais sério? Doença incurável?

Entrou no apartamento do hospital sorrindo para a amiga acamada. Izilda apresentava a palidez da morte. Tinha curativos nos pulsos e logo então foi possível entender do que se tratava.

O frasco de soro pendente indicava a hora de ser por outro substituído. Esperou que assim acontecesse e só então, ao lado da amiga, segurando uma de suas mãos, esperou que dela partisse a revelação. Estava disposta a não puxar assunto.

Ficou assim por duas longas horas, até que Izilda, com voz baixa, entrecortada por suspiros e sinais de cansaço, decidiu contar sobre o que a levou ao insano gesto e que pode ser assim resumido:

Nos primeiros meses de casada com Ricardo Mansueto pôde ver a verdadeira personalidade do rapaz. Em todos os cômodos da casa, nos locais mais escondidos, foram instalados gravadores e câmeras de alta tecnologia. Que só veio a descobrir essa mania araponga quando, num dia de tempestade, acolheu em casa um oficial amigo da família e seu pequeno filho de seis anos que saíra da escola e estavam ao sabor do vendaval.

A reação de Ricardo foi violenta. Desde aí, sem razão de ser, Izilda passou por sessões de inquisição. Onde esteve, com quem falou, o que falou e por que falou.

O telefone da casa, também veio a descobrir, estava no grampo. Uma conversa de desabafo com a mãe foi sabida por Ricardo Mansueto, vírgula por vírgula, o que o aborreceu o suficiente para quase espancá-la.

À medida que Izilda falava, Catita se espantava com o sofrimento porque passava a amiga. Ainda assim, tudo o que ouviu era pouco para que justificasse o extremado ato.

Deixou-a à vontade para, se quisesse, contasse o que de tão grave havia acontecido. E veio o relato.

Ricardo Mansueto, por seu complexo de inferioridade, ciúme desmedido e cabeça má formada pelos mentores da gloriosa de 31 de março, armou uma cilada para a esposa. Contratou um Zé qualquer de sua laia para que a cortejasse, com insistência. E assim, numa curta viagem que fez com os pais, o tal Zé qualquer se fez presente.

Flores, elogios e paparicos, tudo gravado com um equipamento de bolso cedido ao espião pelo próprio esposo.

Estranhei muito a presença e a insistência do rapaz - disse Izilda à Catita.

– Estranhei muito, mas gostei. Há tempos um homem não me dizia tão belas palavras. E mamãe, sem pensar nas consequências, convidou o distinto para jantar. Foi quando esta foto foi tirada. Veja.

Catita pegou a fotografia amassada e não viu nada demais, além de três pessoas jantando. Somente a mãe de Izilda estava sorridente. O Zé contratado, com olhar amoroso e Izilda séria, de cabeça baixa, como se incomodada com a situação.

As gravações e a foto, quando entregues a Ricardo Mansueto, causaram-lhe furor. Por três dias e três noites submeteu Izilda à intermináveis sessões de tortura psicológica – a pior das torturas – para que revelasse quem era aquele homem, se tinha dormido com ele, se já dormira com outros. E foram estas inquirições que levaram Izilda ao extremo desespero.

Disposta a encurtar os caminhos da conversa, Catita foi rápida e quis logo saber se a amiga voltaria a conviver com Ricardo Mansueto.

- Sim, papai esteve aqui ontem. Pediu-me que entendesse o Ricardo e desse-lhe uma chance de provar seu amor por mim. Disse-me, ainda, que Ricardo agiu por amor. E além do mais, Izilda, Ricardo está prestes a ser promovido e, qualquer passo em falso, poderá atrapalhar a conquista da nova patente. Estou disposta a tentar...

Catita, por mais vontade de dizer à amiga que Ricardo não mudaria, por ter personalidade distorcida, por seu mau caráter, nada disse. Pegou sua bolsa e desceu a serra. Precisava estar descansada para cantar na casa noturna, ao som do piano, interpretando peças clássicas da época. Peças que traduziam a insatisfação com o infernal período de dominação dos fardados.

Finda a noite, Rogério Palmares, o rapazola que esteve aliado a baderneiros comunistas, amigado com a clandestinidade e foi mal visto pelos pais e pelo país não entendeu o ardor com que foi amado até quase o amanhecer.

O amanhã de ontem, para ele, foi realmente outro dia...



* Publicado originalmente no site Lima Coelho.

sexta-feira, 27 de abril de 2012

AO UAU! UAU! BALANÇO ARTE

ao Isaac Melo
Clodomir Monteiro
26.04.2012


ao uau uau de cachorro
uau amor de canino

vai vai subindo morro
quer quer quer tocar sino

rói rói rói que colosso
rói de unha menino
céu céu céu desce poço
quer beber som divino

seu uau uau de amigo
céu uau uau não esquece
cauda de arte abrigo
ao uau uau agradece




* Quando ainda recente estive em Rio Branco, Clodomir Monteiro me recebeu por duas vezes em seu apartamento. Falei pouco, ouvi muito. Com seu jeito simples e olhar profundo foi me revelando e desvelando coisas de seu mundo poético e da poesia. Nasceu 'parcerias' e a amizade. Ressignifiquei meu fazer poético. Sair renovado e renovando, pois, como disse Rubem Alves, 'quem passa pelo fogo leva em seu rosto as cores do arco-íris'.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

CONVITE POÉTICO

Verve do amor é a poesia
versa o poema conserva
amor sem verve não ferve
com quem poema conversa

Clodomir Monteiro

Faço o convite aos estimados amigos a visitarem e conhecerem o espaço literário do poeta Clodomir Monteiro. Atual presidente da Academia Acreana de Letras, Clodomir pertenceu a vários movimentos poéticos de vanguarda, em especial ao "Instauração Praxis", liderado pelo poeta paulista Mário Chamie. Possui trabalhos em revistas, jornais e antologias no Brasil e exterior. Publicou, entre outros, Derroteiro de Rotinas (1976, Ed. Quiron/Praxis, SP), Costura Geral Sob Medida (1977, Gráfica do Senado) e A Sinuca da Olaria (1980, Ed. Massangana, Recife).
Acerca de sua poesia Mário Chamie já afirmou: “Uma das revoluções básicas da poesia praxis é, justamente, a instauração da paródia interna no corpo da palavra e do poema. Clodomir Monteiro realiza essa paródia, pela qual o poema diz o que não está escrito e escreve o que não diz. Uma dicção ambivalente como o próprio transcurso da realidade.”
Sem mais delongas, pois um poeta da envergadura de Clodomir Monteiro dispensa bajulações e floreios. Sua obra fala por si só.

O QUARTO LADO DA VIDA (***)
Clodomir Monteiro

me mando pro mar das bermudas
vestindo casaco e na proa
sou parte anterior desta nau

não falo se olho me penso
dormindo no musgo do casco
mergulho na linha do som

pretendo afundar os três cones
sumindo nos vãos de meus dedos
são furos na água do nada

se sopro sedentro de ar
percebo meu mastro agitado
sem nada na onda que anda

se finjo renascer de um boto
rosando regaços de virgens
são penas que apenas depeno

roendo memória de amigos
retiro o casaco e me abraço
navego eu andor da existência

resisto descer ao convés
reato os três lados da barca
não sei se já vou ancorar

o barco de quem me decifra
no quarto lado navega




(***) obs: este poema completo contém sua repetição. Sendo escrito a partir da leitura de baixo para cima, incluindo o título (que ficaria no fim do poema). Sugiro que esta leitura de baixo para cima, o leitor deve fazê-la para sugerir a navegação que me decifra (a mim que é também o próprio leitor lendo-se).

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Abaixo o link do blog O QUARTO LADO DA VIDA, de Clodomir Monteiro, disponibilizado ao público hoje. Aí poderão ser saboreados outros poemas do autor.


Abraços poéticos!
Isaac Melo

quarta-feira, 25 de abril de 2012

OS CORVOS E OS HERÓIS - Leila Jalul


Na quinta-feira, dia 19 deste, reuni uns poucos amigos no meu apartamento. Uma rabada no tucupi fumegava num panelão de quarenta litros. O cheiro invadia corredores e os outros apartamentos.

Tem quem não goste do aroma, mas... Exploda-se!

Alguém há de perguntar: mas como, se na Bahia não tem jambu, não tem tucupi? Na Bahia tem tudo, baby!

A mudinha que trouxe do Acre deu crias que florescem o ano todo. Primeiro plantei no quintal de casa e tirei novas mudas. Agora, que vivo em apartamento, passei mudas para uma agricultora que vive num assentamento dos sem terra, a Dona Lorena, e tenho jambu na cuia grande.

O tucupi, eu mesma preparo. Vou à farinheira, recolho a preciosidade, retiro a goma e faço meu carnaval de tacacá, pato e rabada na hora que bem entendo ou desejo. Velho também tem desejos, gosto de repetir.

Até a chicorinha, que aqui o povo chama de coentro do Maranhão, mandei plantar. A murupi - rainha, princesa e primeira dama das pimentas - eu tenho em casa numa enorme jardineira, na bancada do meu quarto e que não deixo ninguém olhar, para não botar quebranto. Serei besta?

Na sala, tomando um caldinho no copo, estavam dois amigos advogados gays que, muito em breve, realizarão a festa do tão sonhado casamento. Também estavam um médico chileno e sua esposa e filho, estes paraenses.

Além deles, completando a tropa, três coleguinhas da imprensa e mais um biólogo por eles convidado, que mora em Aracaju City.

Depois da rabada e do creme de graviola, hora de jogar conversa no tablado.

Primeiro, serelepe, baixa na tenda o Jacques Wagner. Por ser autoridade máxima, meus amigos foram com calma. Falaram primeiro os do contra. O médico chileno, por desconhecimento da política baiana e brasileira, manteve-se afastado do debate. É de bom tom! Estrangeiro tem que ficar mudo. Quando o assunto é política, sim!

Falou-se muito, principalmente sobre estradas e problemas na saúde. Em determinado momento - estava eu na cozinha - alguém falou que o prócer baiano derruba dois litros de uísque por dia. Pronto! Foi a deixa para que os admiradores petistas, com veemência, partissem para a defesa.

Uma defesa bonita, diga-se! Jugular de petista emocionado pula mais forte que a dos oposicionistas.

Um dos advogados, que conhece bem e que privou da amizade de Jacques, negou a derrubada dos litros de uisque e calou as bocas contrárias, com uma simples batida de martelo:

- “Entre o povo do ACM e o de Jacques Wagner, ponham a mão nas consciências e decidam quem está fazendo a melhor administração”.

A emoção calorosa deu lugar ao silêncio. Contra fatos não há argumentos.

Mais uma rodada de cerveja e entram na roda os prefeitos do sul do Estado. Eu e o pobre do biólogo de Aracaju, por pouco ou nada sabermos quem são os tais reis da municipalidade, ficamos calados. Mas sem deixarmos de prestar atenção, até para aprendermos mais sobre a política baiana.

Embora, de minha parte pelo menos, prefira ficar sem aprender, não deixei de dar pitacos sobre o que significou para a Bahia o velho cacique Antônio Carlos Magalhães.

O relato de uma médica, que trabalha em três cidades vizinhas, foi o que mais evidenciou que o fenômeno político ACM não é um fenômeno qualquer: algumas pessoas ainda o classificam como uma espécie de pai - o pai da pobreza. Ou como um Deus - o Deus da pobreza. E sentem saudades... Muitas! E parecem órfãos. E são!

Sempre ouvi falar do amor dos baianos pelo velho político. Não sabia que era tanto. Do que foi contado pela médica, uma senhorinha por ela atendida, de mais de oitenta anos, tem, entre as imagens dos seus santos de devoção, uma enorme fotografia do falecido senador. Em momentos de aflição, a ele recorre e pede a cura de um câncer no estômago. E recusa a médica e a fazer um tratamento...

Outro comensal da honorável rabada no tucupi, não sei precisar quem, falou sobre fé e sobre a necessidade das pessoas em eleger heróis e salvadores da pátria e que, da veneração a caírem na cegueira crônica, é um salto pequeno.

Foi nessa altura da conversa, por fim, que o biólogo de Aracaju usou da palavra e citou Chico Mendes, o herói amazônico. Não sei precisar se ele sabia que eu era do Acre e que conhecia o Chico. Creio que não. É bom ser desconhecida! Muito bom! É ótimo! É maravilhoso!

É meu costume dizer que bebo, mas, por precaução, não me entrego ao vício doloroso da “imbriaguêis”. Também costumo dizer que minha cultura etílica não me permite excessos. Quando o Chico Mendes apareceu na tenda, por curiosidade, fiquei apenas alisando latas, quieta e na escuta.

O biólogo, beirando aí os 66, 67 anos, não mais, desceu o cacete no mito Chico Mendes e na imagem falsa do herói fabricado por políticos, pela igreja católica, o bispo, pelos antropólogos, em especial uma antropóloga, pela imprensa e pelos artistas globais, referindo-se, especificamente, à carimbada figurinha de Lucélia Santos.

Falou mais: falou na carona que a senadora Marina Silva pegou na alma de Chico Mendes para chegar ao poder e aos píncaros da glória e da fama.

Menos, menos, pensei eu. Só pensei. Nada falei. Também acho que, como dizem aqui, - “quem não sabe rezar, bem direitinho, finda xingando Deus”.

Falou sobre uma aluna de escola pública que, recentemente, foi aprovada para ingressar na Universidade de Harvard.

Que - continuou disparando o biólogo, - a tecla batida por Marina de ter se alfabetizado aos 17 anos, nada diz, uma vez que há gente se alfabetizando aos 80, com mais inteligência e menor sorte que ela, até por falta de carona na alma de alguém.

Porém, - matraqueou o homem de Aracaju – “Chico Mendes tem sido mais que benevolente com Marina. Talvez ela mereça essa benevolência. Marina não é corvo e nem bandida, apesar de verde”.

“Chico Mendes foi um lutador. Um bravo! Apenas isso!” - disse, com a voz firme de quem não é gago.

O cara demonstrava conhecer palmo por palmo da floresta virgem. Pareceu ter tomado cachaça com tira-gosto de rodelas de caju com o Chico Mendes (nem sei se o Chico bebia) nos botequins de Xapuri.

O certo é que, de verdade, ele conheceu muito bem e trabalhou por mais de quinze anos na Amazônia. Contou que, apesar de radicado em Belém, o chão do Acre foi muito pisado por ele.

Mas como? Nunca vi o tal biólogo, nem mais gordo, nem mais magro! Minha casa sempre foi abrigo e ponto de encontro de pesquisadores, professores, artistas, prostitutos (as), boêmios e desocupados, em geral.

Gente do INPA, do Emílio Goeldi, da WWF, da FAO, do Canadá, do Peru, da Groenlândia e da China, a todos conheci. Menos o biólogo de Aracaju City. Seria um fantasma?

Deixei o homem-biólogo falar. O assunto estava interessante e eu precisava ouvir, sem interrupções. É muito difícil não interromper, pedir um aparte, zinho, zinho, que seja. A velhice me fez paciente. Continuei ouvindo.

Disse o homem sobre particularidades do seringueiro e de sua esposa, hoje viúva de Chico e que eu, mesmo tendo morado no Acre por mais de sessenta anos, nunca ouvi falar. Que Chico havia sido expulso do PT e não recebeu apoio da cúpula do partido. Que, que, que...

E disse mais, muito mais. E ouvi o mais e o muito mais, como se fosse um poste. Calada! Não puxei bandeira com estrela vermelha, não cantei leros para o sol a brilhar soberano sobre as matas que o vêm com amor, não exibi RG e nem batistério. E tive razões para tal. Se eu falasse, na certa, o biólogo calaria.
- “A inteligência está em quem sabe ouvir” – mamãe dizia.

E não foi só a velha quem disse tal e sensata verdade. É preciso saber ouvir. E cantar!

No calor da conversa, plateia atenta, o biólogo de Aracaju, com seu estonteante tirocínio, decretou:

“Há verdes do Acre que são chegados ao banditismo”.


- “O único besta desta história, morreu, e, por sua ingenuidade e beleza cidadã, deve estar envergonhado. Por tudo e por todos, está envergonhado”...

- “Os verdes do Acre são corvos. Corvos que comem a carne apodrecida que nem mais existe. Chico era um bom sujeito. Das melhores figuras humanas que já conheci. Era um bravo! Lutou pela sobrevivência e ponto final”.

- “Seu único pecado foi engatar uma quinta por conta de inescrupulosos que, de má-fé, cutucaram com vara curta a onça que nele apenas despertava e, por consequência, aceleraram a sua morte”.

- “Chico Mendes não morreu por conta da sanha dos fazendeiros. Morreu, isso sim, pelas incitações dos aliados famintos. Nenhum se pôs à sua frente ou lhe serviu de escudo. Em bom português, foi boi de piranha”.

- “Quem sabia de espera da caça, quem conhecia a floresta tal qual Chico conhecia, tinha consciência do dia da caça e do dia do caçador. Homens puros e feras simples sabem de si. O que Chico não conhecia, não sabia e nem deduzia, era do instinto das humanas feras. Estas encaminharam Chico ao patíbulo. Sem dó e sem piedade”.

Não redargui. Em momento algum protestei. Nem com força e nem de leve. A velhice me fez respeitosa. Com pessoas e opiniões. Com opiniões, principalmente.

Não é só o biólogo de Aracaju City que assim pensa. Mesmo no Acre, há quem pense o mesmo, principalmente sobre a fome da viúva Ilzamar por $$. No Blog do Altino Machado, li, um comentarista até se atreveu a indicar uma terapia ocupacional para a distinta senhora. Viúva não é profissão, deve assim imaginar.

Quando todos se foram, após a rapa do tacho da panela de rabada no tucupi, com saudades, lembrei de Bertold Brecht:

- “Triste do povo que precisa de heróis”.

Triste, ainda mais, acrescento eu, é ter governos que não respeitam os direitos adquiridos, os atos jurídicos perfeitos e as sentenças transitadas em julgado. Triste é não respeitar quem merece respeito. Triste, verdadeiramente triste, é ser marginal da história e dos tempos. Mais e mais triste, tristíssimo, até, é viver na solidão!

E fui mais além: pensei nos corvos citados pelo biólogo e filósofo. Visualizei imagens do que é sermos por eles farejados e comidos depois de mortos. E até vivos! Eles estraçalham memórias. Corroem ideais. São insaciáveis os corvos. Sejam verdes, sejam pretos. São bandidos e vorazes. Serão sempre corvos. Covardes e espúrios.

Do Chico Mendes, guardo a lembrança que guardo. Não como herói. Preservo a que o imortalizou na defesa da floresta.

Do biólogo de Aracaju City, a quem nunca vi, nem mais gordo e nem mais magro, feliz ou infelizmente, nada sei. Nem quero saber.
Se o que pensa é certo, só sabe ele!

Nota: as falas do biólogo, embora entre aspas, expressam, de forma geral, o seu pensamento. Dizem a síntese do seu ponto de vista. Não há fidelidade total. Ao pé da letra, não. Quem me conhece, entretanto, sabe do tamanho da minha memória.
Mal terminada a deliciosa rabada no tucupi, corri para a máquina e escrevi esta crônica. Retirei alguns ranços e adociquei os termos mais pesados.




*Crônica originalmente publicada no site Lima Coelho.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

TARAUACÁ: NO LIMIAR DE SEU CENTENÁRIO

Isaac Melo

 

BREVE HISTÓRICO


O século XIX é um século de grandes explorações na Amazônia. Surgem as famosas expedições de Francisco de Orellana, William Chandless, Henry Walter Bates, Alfred Russel Wallace, Spix e Martius, Francisco Castelnau e Deville, sem falar nos inúmeros exploradores que subiam os rios amazônicos em busca das chamadas "drogas do sertão" e, posteriormente, atraídos pela borracha.

É difícil precisar quando a região de Tarauacá começou a ser povoada. Sabe-se que em 1850, o Padre Constantino Tastevin, no seu livro Le Fleuve Juruá, refere-se a um amigo português que subiu frequentes vezes o Juruá até Marari, e até mesmo ao rio Tarauacá, para troca de produtos europeus com os índios, que cambiavam produtos nativos da região. Mas um dos primeiros a percorrer a região foi João da Cunha Correia, este já em 1854 havia divisado as águas do "rio das tronqueiras".

A Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE 1957 e 1960) por sua vez ressalta que a exploração das terras marginais do “Tarauacá”, intensificou-se a partir de 1877, com a emigração de nordestinos. Em 1899, um grupo de imigrantes chega à confluência do rio Muru com o Tarauacá, fundando aí, o seringal “Foz do Muru”, que em breve cresceu de importância, pois era aí o ponto de partida para as explorações dos altos rios. O marco inicial, porém, da verdadeira história da desbravação da região, a se ter notícia positiva, data do ano de 1890, quando um grupo de desbravadores penetrou nos rio Muru e Tarauacá, na exploração de demarcação de longas faixas de terras, e formaram os primeiros seringais.

Seringal Foz do Muru, desenho em bico de pena de Percy Lau a partir de uma fotografia. Da esquerda para a direita: barraca do motorista de rio; barracão, morada do proprietário e sua família; barraca, hospedaria dos empregados; armazém e loja. No porto, batelões com motogodile à popa. Este conjunto erguia-se à margem direita do rio Muru, cuja foz, no rio Tarauacá, estava a cerca de duzentos metros, a contar do barracão, para a esquerda de quem vê o desenho. Antes de serem tragadas pelo rio, essas contruções foram demolidas. (informações em TOCANTINS, Leandro. Os olhos inocentes. São Paulo: Philobiblion, 1984. p. 201)

 Foz do Muru, posteriormente também chamado Bairro Leôncio de Andrade, chegou a ser formado por um conjunto de casas de madeiras, algumas com telhas francesas, que davam à construção as insígnias patriarcais de uma casa-grande. O paraibano Alfredo Lustosa Cabral, depois de sete anos no seringal Redenção, Alto Tarauacá, de propriedade de seu irmão, de regresso a Patos, sua terra natal, registra o dia em que Tarauacá foi elevada à categoria de vila:

“Em princípio de janeiro de 1907, chegara ao porto de Redenção o navio “Manauense”, da firma comercial J. H. Andersen & Cia. embarcação nova, havia chegado dos estaleiros de Liverpool e a primeira viagem empreendida foi essa ao Tarauacá. Baixamos e, com dois dias, ancoramos na foz do Muru onde se encontravam seis navios fora o nosso. Chegamos felizes, pois havia ali uma festa. Estavam-se inaugurando, nesse dia, Vila Seabra. Achavam-se presentes todas as autoridades – juiz, promotor, tabelião, delegado, agentes do fisco.
Assistimos à festa, ouvindo discursos, vivas, apitos de navios e espocar de garrafas.
À tarde, o seringal da boca do Muru, já era vila Seabra, tomando o nome daquele conhecido vulto da política nacional.
Findos os discursos, ouvia-se o hino da Pátria por um gramofone e, ao som do mesmo, danças animadas com os discos da Casa Edson.
Não havia mulher na festa.
Às cinco horas da tarde, saiu pela mata uma comissão tendo, à frente, autoridades locais, para a inauguração de algumas avenidas, deixando-se nas mesmas as respectivas placas.” (CABRAL, 1984, p.107)

Tarauacá, enquanto vila, foi inaugurada pelo Dr. João Virgulino de Alencar, em 01 de janeiro de 1907, edificada inicialmente numa área medindo 500 x 400 metros, doada pela firma J.V. de Meneses e Filho, sendo ofertante os sócios José Vitorino de Meneses e Juvêncio Vitorino de Meneses, este proprietário do seringal Novo Destino, rio Tarauacá, falecido em Belém do Pará em 16 de março de 1914. Em 1904, com a primeira divisão territorial-administrativa dada ao Acre, Tarauacá passa a figurar no Departamento do Alto Juruá, sendo desmembrada deste Departamento em 1912, quando passa a constituir a sede do Departamento do Tarauacá, instalado em 19 de abril de 1913, data que deu origem as outras na qual teve início a vida do município. A prefeitura do Departamento foi instalada pelo coronel Antônio Antunes de Alencar, que se tornou o primeiro prefeito deste Departamento, permanecendo no cargo até 27 de julho de 1914.

Coronel Antônio Antunes
de Alencar
Antônio Antunes de Alencar era um dos seringalistas que havia lutado ao lado de Plácido de Castro na Revolução Acreana. Era o chefe do batalhão chamado Acreano composto por aproximadamente 360 homens. Também foi membro do Conselho Municipal de Xapuri (desfeito logo após Plácido tomar frente à Revolução), criado pelo Intendente boliviano Juan de Dios Bulientes com o intuito de pacificar e assim ter o domínio sobre o território acreano. Além disso, Antônio Antunes de Alencar foi aclamado governador provisório do Estado do Acre pelo Partido Autonomista do Juruá que havia instituído uma Junta Governativa por volta do ano de 1910. Sabe-se que até 1938 ele trabalhava e vivia no sertão baiano.



Enquanto município, Tarauacá foi criado em 24 de Abril de 1913 pelo então Dr. Sansão Gomes de Sousa com o nome de Seabra, em homenagem ao Ministro da Justiça do Brasil José Joaquim Seabra. Nesse ano, Seabra contava com uma população de 813 habitantes, sendo 523 homens e 290 mulheres, destes apenas 34 eram naturais do Território. Sansão Gomes faleceu em Belém do Pará, em 14 abril de 1931. O sistema de intendência no Brasil perdurou até 1930, quando mudou-se a designação de intendente para prefeito, como permanece até hoje. Fora então Sansão Gomes o primeiro prefeito de Tarauacá.

A 1º de outubro de 1920, em face da nova organização territorial administrativa dada ao Acre, é extinto o Departamento do Tarauacá, continuando todavia em vigor o Município de Tarauacá. Em 1943, em virtude do Decreto-lei Federal nº 6.163, a cidade de Seabra mudou a sua designação para “Tarauacá”, palavra de origem indígena que quer dizer “rio dos paus ou das tronqueiras”.
Tarauacá inicialmente foi uma cidade planejada, como revela sua planta.

OS PRIMEIROS HABITANTES

Índios Kaxinawá em Transwaal,
no rio Jordão, afluente do rio Tarauacá,
em 1924. Foto Blog do Netuno
Não dar para falar da história de Tarauacá, a começar pelo seu próprio nome, sem mencionar a presença marcante dos povos indígenas. A região era habitada por diversos grupos, os quais a maioria brutalmente foram massacrados, expulsos ou amansados. O marechal Candido Rondon chegou a registrar os seguintes grupos nessa região no início do século XX: Amauaca – localizado no rio Jordão; Bendiapa – localizado no rio Gregório, afluente do Juruá (Aruak – Katukinas); Catuichi – no rio Gregório; Kaxinawa – no rio Jordão e rio Muru; Contanau – no rio Tarauacá; Kurina ou Kulino – no riozinho de Pebedo (sic) e rio Gregório; Jaminawa – nos rios Envira, Tarauacá e Breu.

Em seu relatório ao Ministério da Agricultura referente ao ano de 1910, o engenheiro João Alberto Masô, denunciava a violência contra os povos indígenas. Narra ele o brutal fato ocorrido em 1899, quando no Rio Gregório foram mortos aproximadamente 400 índios da Tribo Ajubins, provavelmente extinta, pelo peruano Carlos Scharff e seu conterrâneo Eufrain Ruiz. Carlos Scharff trucidou ainda todos os indígenas das Tribos Jaminara (sic), no rio de mesmo nome, e os que habitavam o Paraná do Ouro.

Inúmeras foram as “correrias” realizadas pelos exploradores para expulsar os indígenas das terras com o intuito de abrir seringais. Tarauacá abrigou um dos maiores algozes dos povos indígenas, o lendário e sanguinário Pedro Biló. Alfredo Lustosa Cabral narra uma dessas correrias no início do século XX nas proximidades do seringal Primavera, no Alto Tarauacá, contra os catuquinas:

“De pronto, foi organizada uma correria.
Era preciso ação pronta, decidida, urgente. Compunha-se de vinte homens com trezentos cartuchos Winchester cada um. (...) Penetrando na mata foram dar com as malocas depois de terem andado três dias. (...) Tomaram chegada às seis horas, hora em que o selvagem costuma estar reunido. Dormiram a certa distância do aceiro. Às cinco da manhã, avançaram formando cerrado tiroteio.
A mortandade foi grande, mas escafederam-se muitos.
Aproximando-se dos barracões conseguiram prender uns 15 corumis. Os novinhos deixaram. (...) De regresso, os prisioneiros começaram a gritar demais, sendo preciso abandoná-los, deixandos à toa, perdidos. Outros praticavam selvageria destampando a cabeça dos inocentes com balas.” (CABRAL, 1984, p. 61)

Ao todo só nessa região do Departamento do Alto Juruá vivia uma população de aproximadamente 20 mil indígenas. Hoje no Acre todo são um pouco mais de 15 mil, segundo dados do IBGE 2010, sendo Tarauacá o segundo município acreano em concentração de terras indígenas, com oito áreas que equivalem 9,8 % do município, distribuídos em 30 aldeias, com aproximadamente 1639 habitantes.

OS PRIMEIROS DESBRAVADORES

Entre os primeiros desbravadores da região de Tarauacá estão os nordestinos. Entre eles encontramos os nomes de João, José e Antonio Marques de Albuquerque. Este faleceu no seringal Paraiso, rio Muru, em 11 de novembro de 1919, sendo um dos desbravadores desse rio; Antonio Patriolino de Albuquerque – um dos desbravadores do rio Tarauacá, faleceu em agosto de 1914 na Estrada de Ferro de Bragança, estado do Pará; Antonio Frota de Meneses – grande comerciante aviador e desbravador da região, falecido no Rio de Janeiro no dia 25 de setembro de 1915; Manoel Probem de Albuquerque – um dos desbravadores dos rios Tarauacá e Envira. Faleceu na fazenda Corcavado, em Tarauacá, no dia 11 de agosto de 1943, aos 81 anos de idade; Hipólito de Albuquerque e Silva – um dos desbravadores e prefeito de Tarauacá. Pai do escritor José Potyguara; Joaquim Gonçalves de Freitas; Joaquim Teixeira de Sousa; Francisco Caetano de Oliveira; Francisco Queiroz de Oliveira; etc. A maior parte destes ajudou a fundar o seringal Foz do Muru.

ELETRICIDADE

Exemplo de uma Locomovel importada
da Europa. Esta fica no museu
de Usina Velha, em Ijuí – RS.
A primeira usina de luz elétrica em Tarauacá foi inaugurada no dia 12 de junho de 1920. Fora adquirida pelo capitão Agnelo de Sousa, e ficou sob a responsabilidade da Intendência. Três anos depois, em 19 de agosto de 1923, o então motor de explosão existente na Usina Elétrica foi substituído por uma locomovel, vinda de Cruzeiro do Sul, cedida pelo governo do Acre. A locomóvel, uma máquina a vapor, foi usada no início do século XX nas grandes indústrias e também na produção de energia elétrica em cidades do interior. Uma nova Usina em alvenaria foi construída no dia 05 de fevereiro de 1943, na administração do prefeito Manoel Vieira da Cunha.

O CINEMA EDISON

Tarauacá teve a primeira casa de cinema do Departamento. Trata-se da Empresa Cinematográfica EDISON, de propriedade de José Moreira de Resende, inaugurada em 08 de Agosto de 1915. O cinema contava com um pequeno botequim interno, e oferecia a seus clientes ingressos a custo de 3$000 na primeira classe, e 2$000 na segunda. Entre outros filmes, chegou a exibir: Sorte de Juliquever, O Diamante de Budha, Tortoline rouba a bicicleta, O vencedor de Cadiz, A Tormenta, Jerusalém Libertada e Irreparável. Em ocasiões especiais chegava a ter duas sessões diárias. Também há referência de que a data de fundação do Cinema Edison é 06 de dezembro de 1915, menos provável.

GRÊMIO ACREANO

Entre uma das primeiras agremiações em Tarauacá encontra-se o Grêmio Acreano, inaugurado em 05 de abril de 1914, com um alentado discurso pronunciado, como diz um jornal contemporâneo, pelo Dr. Oscar de Paula Guimaraens, à época, redator-chefe do Jornal O Estado, orgão de interesse do Departamento.

SOCIEDADE MUSICAL EUTERPE TARAUACAENSE

Música e dança desde cedo fizeram parte da vida social tarauacaense. O primeiro a oferecer aulas de danças foi o professor José Júlio Nogueira, no ano de 1916. O professor Nogueira dava aulas em sua própria residência. Quanto à música, Maria Amelia de Souza Magalhães, professora diplomada pelo Instituto Nacional de Música, dava aulas de piano (teoria e solfejo). Também em 1916 o professor Simplício Ribeiro iniciava a Sociedade Musical Euterpe Tarauacaense.

CENTRO LITERÁRIO E RECREATIVO DR. LAURO SODRÉ

A literatura também fora algo levado em consideração pelos primeiros habitantes de Tarauacá. Assim, no domingo, 18 de março de 1917, era iniciado por José Rodrigues Bispo de Santiago, em sua alfaiataria, sob a presidência do Dr. Oswaldo Hardman Castello Branco, promotor público da comarca, o Centro Literário e Recreativo Dr. Lauro Sodré. A alfaiataria de Bispo de Santiago denominava-se Atelier Acreano, e localizava-se no Bairro Senador Pompeu.

SOCIEDADE SPORTIVA E DRAMATICA TARAUACAENSE

Esporte e dramaturgia muito mexeram com a sociedade tarauacaense. As apresentações teatrais inicialmente ocorriam no palco do grupo escolar João Ribeiro. Aí se deu as primeiras apresentações da “Sociedade Sportiva e Dramatica Tarauacaense”, fundada por iniciativa dos sócios José da Cruz de Sá, Bento Marques de Albuquerque, Antonio Murú Ramos de Meneses e Manoel Honorato de Souza. A esse grupo também se integraria o escritor e promotor José Potyguara e o maestro Mozart Donizetti. Com a fundação do Teatro Municipal, em 1933, as apresentações da Sociedade passaram a ocorrer aí. Já em 08 de dezembro de 1942, um grupo de desportistas fundava dois clubes denominados “Guarani” e “Tarauacá”.

CASAS COMERCIAIS E SERVIÇOS

CASA ACREANA – propriedade de Antônio da Costa Santos e Cia. Localizava-se à margem do Rio Tarauacá.
ATELIER ACREANO – propriedade de José Rodrigues Bispo de Santiago. Localizava-se no bairro Senador Pompeu.
PENSÃO SAPHA – propriedade do comerciante José Sapha. Era um hotel de primeira ordem e localizava-se na Rua do Comércio, no bairro Senador Pompeu.
PALMIRINHA – propriedade de Raimundo Moura. Era uma fábrica de cigarros especialmente manipulados à mão. Cigarros Bragantinos e Acaráenses.
CASA SAMARITANA – propriedade de Nagip Said, fundada em 1921.

JORNAIS


Exemplar do Jornal Official
destacando o assassinato de
 Sólon da Cunha

O MUNICÍPIO – primeiro jornal fundado em Tarauacá. Era propriedade de Pedro Gomes Leite Coelho, teve como gerente Henri Froissart. O primeiro número saiu em 28 de setembro de 1910. Um incêncio, em 14 de fevereiro de 1914, devorou o prédio e as oficinas do jornal. Leite Coelho faleceu em Tarauacá no dia 11 de outubro de 1937.

A ALVORADA – jornal fundado em 11 de agosto de 1913 pelos operários do jornal O Munícipio.

O ESTADO – o jornal era orgão oficial da prefeitura do Tarauacá. Seu primeiro número saiu em 29 de janeiro de 1914, e se manteve apenas por esse ano. Tinha como redator-chefe Dr. Oscar de Paula Guimaraens.

O TARAUACÁ – surgiu em substituição ao jornal O Estado. Passou a circular a partir de 11 de outubro de 1914.

O DEPARTAMENTO – também orgão da prefeitura, sob a direção do Coronel José Vicente Assumpção, prefeito do Departamento. Seu primeiro número circulou em 15 de novembro de 1914. O jornal perdurou até 02 de abril de 1916.

Máquina de impressão do jornal O Tarauacá, que era 
impresso no porão do Teatro Municipal. Década de 1970.
Foto: Tarauacá Notícias
Exemplar do Jornal O Tarauacá. Década de 1970. Foto: Tarauacá Notícias
JORNAL OFFICIAL – entrou no lugar de O Departamento. Foi fundado pelo funcionário da Prefeitura, Severiano Rodrigues, tinha como redator o advogado Bezerra Filho. O primeiro número circulou em 11 de abril de 1916. Esse jornal noticiou e registrou todo o episódio que envolveu a morte do delegado Sólon da Cunha, filho de Euclides da Cunha, no Seringal Mira Flores, Rio Envira. O jornal foi extinto em 08 de abril de 1918.

A REFORMA – jornal de propriedade e direção do coronel José Florêncio da Cunha. O primeiro número saiu a 12 de maio de 1918. O jornal perdurou até 1925, retornando no ano de 1929, e permaneceu até 1934. Caracterizou-se por ser um periódico de oposição aos prefeitos do Departamento de Tarauacá. Florêncio da Cunha, pai de Gualter Marques Batista, por sua vez, pai de Djalma Batista, foi advogado no departamento de Tarauacá e Tefé (AM), e também prefeito das respectivas cidades.

ACRE FEDERAL – sua primeira edição saiu em 14 de março de 1932, sob a direção do advogado Dr. Rafael Dornelas Camara e outros.

OPERARIO ACREANO – o primeiro número circulou na cidade em 15 de dezembro de 1932, sob a direção do Dr. Custódio Freire e Raimundo Eustáquio de Moura.

IGREJA

Igreja de São José na cidade de Tarauacá, toda construída de madeira, e coberta quase totalmente com folhas de palmeira. (Nota de Antônio Teixeira Guerra, em 1955. // Foto: Tibor Jablonsky do C.N.G.)
Atual Igreja Matriz de São José.
A presença da Igreja Católica nessa região se deu com o Pe. Raimundo Fernandez, de Belém, em 1885. Mas só em 1913 é erguida uma capelinha, pelo então Pe. José Frisch. A construção de uma capela maior se deu a partiu da iniciativa da senhora Evangelina Valverde de Vasconcelos, esposa de José Thomas da Cunha Vasconcelos, que fora prefeito de Tarauacá, deputado e governador nomeado do Território do Acre. No dia 30 de abril 1916 ela reuniu diversas pessoas e juntas decidiram construir a capela de São José. O local escolhido localizava-se na então chamada Praça São José, o terreno pertencia ao tenente Raphael Maurício Belém, e foi adquirido pela comissão por dois contos de réis (2:000$000). Mas só no dia 27 de outubro de 1924 deu-se início a construção da capela, que ficou pronta em 1925, sendo que no dia 19 de março foi transladado de um altar improvisado no grupo escolar João Ribeiro, para a nova capela a imagem de São José, em procissão. O primeiro vigário nomeado pela prelazia do Alto Juruá a Tarauacá foi Padre José Bischosfberger, que chegou à cidade em 14 de junho de 1936. A cidade inaugurou mais adiante, na vépera de natal de 1938, a nova igreja de São José, esta permanceu até 1956, quando foi construída a atual Igreja São José, estando à frente da paróquia os Padres Guilherme e Henrique Klein.

O TEATRO MUNICIPAL

O Teatro Municipal, hoje Teatro José Potyguara, foi fundado no dia 26 de Janeiro de 1933, tendo sido erguido pela Dona Constância de Meneses, com projeto de Inú Ximenes, velhos comerciantes de Tarauacá, na administração municipal de José Florêncio da Cunha. Em seu palco encenou-se peças teatrais do escritor José Potyguara e peças orquestrais do maestro Mozart Donizetti, autor da música do Hino Acreano. Por muitos anos o teatro permaneceu como o principal ponto de encontro das famílias tarauacaenses, o lugar dos saraus, peças teatrais, cantatas, músicas ao piano, bailes, eventos beneficentes. É hoje o principal monumento dos tempos áureos da borracha em Tarauacá.

CENTRO CEARENSE DO TARAUACÁ

Particularidades de uma terra na qual havia uma presença marcante de nordestinos cearenses, sendo que em 25 de Março de 1914, era instalado, numa casa em que um dia funcionou o Conselho Municipal, o Centro Cearense do Tarauacá, por iniciativa de Júlio Pereira Rocque, João Frota Menezes e Francisco de Assis Bezerra Filho, cearenses, é claro!

O Centro Cearense do Tarauacá abrangia todo o departamento de mesmo nome. Funcionou de fato e com plena organização. Em seu estatuto regimental, o auxílio e proteção ao Ceará precediam a do departamento. Eis o primeiro artigo, ipsis litteris:

“Art.1. O C.C. com sede em Vila Seabra é uma associação que tem por fim auxiliar e proteger o Ceará, o departamento do Tarauacá, os cearenses e os seus associados quando e como se fizer preciso e na medida de suas forças.”

O segundo artigo, entre outras coisas, apregoava que admitia-se para sócios do Centro exclusivamente os filhos do Ceará. É importante lembrar que poucas pessoas, à época, eram naturais da região. Sendo assim, não há nada de anormal a ideia de um centro onde os patrícios pudessem se encontrar, manter suas tradições, etc. como ocorreu no Sul do país e em muitos outros lugares ao redor do mundo.

Entre outras funções, o Centro Cearense tinha como objetivo promover a criação de um Jornal, “O Cearense”; fundar uma sala de leitura e biblioteca organizada, o que de fato aconteceu; criar um curso noturno (aliás, aí deu aulas de português o Dr. Hugo Carneiro, que mais tarde se tornaria governador do Acre, à época exercia a advocacia em Tarauacá); um horto botânico e campos de aclimação de plantas; fazer plantios ordenados de seringueiras; organizar orçamentos e fazer plantas, etc. Sem dúvida, um trabalho pioneiro e ousado, para época e região, e que, na verdade, se tornou uma das primeiras experiências de organização da sociedade tarauacaense.

Conforme constava no artigo segundo do estatuto, o Centro funcionaria até 24 de Fevereiro de 1915. Sabe-se, no entanto, que o Centro Cearense do Tarauacá prolongou-se por mais algum tempo e tornou-se uma referência para a sociedade local da época.

LETRAS TARAUACAENSES

A publicação literária, apesar de escassa, não foi de toda olvidada no início da história de Tarauacá. Relatórios e relatos, além dos jornais, compõem o quadro dos primeiros cronistas e das primeiras manisfestações literárias referentes à cidade. Um dos primeiros trabalhos a se referir a Tarauacá foi o livro “Cartas do Acre”, do advogado e promotor público do Alto Juruá, Antônio José de Araújo, publicado em 1910 no Rio de Janeiro. O livro surgiu a partir de uma série de Cartas enviadas do Alto Juruá ao proprietário do jornal “O Palladio”, da cidade de Santo Antônio de Jesus, na Bahia. Entre as cartas, estão quatro escritas em Foz do Muru e Vila Seabra, entre 08 de setembro de 1909 e 12 de março de 1910. Outro livro que registra esse período, apesar de ter sido publicado apenas em 1949, é “Dez anos no Amazonas: 1897-1907” do paraibano Alfredo Lustosa Cabral. O livro é bastante rico em detalhes da vida nos seringais, seu desbravamento, cultura, história, etc. O autor viveu esses dez anos no seringal Redenção, Alto Tarauacá, propriedade de seu irmão Silvino Lustosa Cabral.

Nos jornais locais por sua vez despontaram os nomes de Luis de França, Brocoyó Filho, Hermes Fontes, Aristarcho, Ulysses Castello Branco, Hito Roiz, Waldemiro Potsch, Carlos Nascimento, alguns escrevendo poesias de cunho social. Maior parte não era natural da cidade, uma literatura, portanto, feita a partir da visão do elemento “colonizador” refletindo acerca da realidade local. Só com o passar dos anos é que foram surgindo vultos de expressão literária naturais de Tarauacá, dentre os quais se destacam:

JOSÉ GUILHERME DE ARAÚJO JORGE (Tarauacá, 20 de maio de 1914 – Rio de Janeiro, 27 de Janeiro 1987) – o maior poeta nascido nessa terra. Ganhou projeção nacional, e se tornou um dos poetas mais lidos do Brasil à sua época. Foi candidato a vereador e a deputado estadual e federal no antigo Distrito Federal (posteriormente estado da Guanabara), hoje Rio de Janeiro. Sendo eleito deputado federal em 1970, pela Guanabara, reelegendo-se para o terceiro mandato, em 1978. Recebeu o título de Poeta do Povo e da Mocidade. Publicou ao todo 36 livros, traduzido em diversos países, com milhões de exemplares vendidos.

DJALMA DA CUNHA BATISTA (Tarauacá, 20 de fevereiro de 1916 — Manaus, 20 de agosto de 1979) – cientista, pesquisador, escritor, literato, homem de profunda cultura. Formou-se em Medicina pela conceituada Faculdade de Medicina da Bahia, em 1939, tornando-se um dos médicos mais conceituados da região Norte pelas suas pesquisas, entre outras no campo da Tisiologia. Foi presidente por três vezes da Academia Amazonense de Letras e presidente do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Publicou, entre outras, as seguintes obras: Letras da Amazônia (1938); Da Habitalidade na Amazônia (1965); O Complexo da Amazônia (1976); Cartas da Amazônia (1989, póstuma), publicado por Guimarães de Oliveira. Em 1996 foi publicado sobre ele o livro “Djalma Batista: um humanista da Amazônia”. A editora Valer, do Amazonas, reeditou algumas de suas conferências num livro intitulado Amazônia, Cultura e Sociedade (2003), e O Complexo da Amazônia, a mais importante obra de Djalma Batista.

RAIMUNDO ACREANO RODRIGUES DE ALBUQUERQUE, o Raimundo Rodrigues (Tarauacá, 26 de outubro de 1919 – São Paulo, 03 de outubro de 2010) – poeta, escritor, professor e jornalista. Pertenceu a várias academias de letras, entre elas, maçônicas. Viveu desde 1965 em São Paulo, onde faleceu. Escreveu inúmeras obras didáticas, maçônicas, e literárias, entre as quais: Riachão (1957); Trovas do Ontem e do Hoje (s/d); Sonetos e outras poesias (2009).

JOSÉ POTYGUARA DA FROTA E SILVA (Sobral, 1903/9? – Rio de Janeiro, 1991) – promotor de justiça, professor e escritor. Apesar de não ser acreano, Potyguara exerceu uma influência muito grande na cultura e na vida social de Tarauacá e do Acre, publicando livros, peças teatrais e revista. Escreveu: Sapupema: contos amazônicos (1942); Vidas Marcadas (1957); Terra Caída (1961); e Do seringal ao asfalto (1984). Entre as peças teatrais, escreveu Alma Acreana (1930) e Razões do Coração (1933).

LEANDRO TOCANTINS (Belém, 1928 – Rio de Janeiro, 01 de julho de 2004) – escritor, sociólogo, poeta, ensaísta. Chegou a Tarauacá com menos de um ano de idade, seus pais Van Dyck Amanajás Tocantins e Iraídes Góes, se estabeleceram, mais precisamente no rio Tarauacá, seringal Foz do Muru, de onde administravam seringais, herança da liquidação da Casa Aviadora Barbosa & Tocantins, de Belém. O escritor sempre fez questão de recordar a influência que exerceu sobre sua vida e escritos a vivência nessa região. Tornou-se um dos autores, à sua época, mais respeitados em relação ao estudo amazônico. Escreveu obras que se tornaram clássicas como O Rio Comanda a Vida (1952) e Formação Histórica do Acre (1961), agraciado com o Prêmio Joaquim Nabuco de História Social da Academia Brasileira de Letras. Sobre Tarauacá escreveu um livro de memórias chamado “Os Olhos Inocentes” (1984), que recebeu o Prêmio Osvaldo Orico da Academia Brasileira de Letras.

JOSÉ HIGINO DE SOUZA FILHO (Tarauacá, 1929 – Rio Branco, 21 de outubro de 2010) – escritor, membro da Academia Acreana de Letras. Era filho de José Higino de Souza, então grande pecuarista de Tarauacá, dono da Fazenda São José. Foi o fundador do SESI e SENAI no Estado do Acre, o qual esteve à frente por 17 anos. Escreveu SENAI – 10 anos contribuindo para o desenvolvimento do Acre; O trabalho vence tudo (1993); A Luta Contra os Astros (1994); e Segundo Hound (2009).

Entre os escritores naturais de Tarauacá vivos, encontramos:


FRANCISCA TRINDADE LOPES – nasceu no Seringal Estirão, em 1939, filha de Francisco Lopes de Lima e Raimunda Trindade Lima. É formada em História pela UFAC (1984). Reside em Rio Branco – AC. É autora do romance Ô de casa! (2003); e do livro Contos e Crônicas.


MARIA SILENE DE FARIAS – nasceu em 14 de novembro de 1951, filha de Maria Deusa de Farias Franca e José Farias Franca. Esteve sempre muito envolvida com o movimento Cultural no Acre a partir dos anos 80. Em 2002 organizou e publicou Bairro Quinze e Cidade Nova, por meio da Prefeitura Municipal de Rio Branco e Fundação Cultural Garibaldi Brasil, da qual ocupou cargo de Presidente. Participou, entre outras, da Antologia dos Poetas Acreanos 1986 e Coletâneas de Poesia Acreanas, da Cia Teatro 4o Fuso (1981).

NÚBIA WANDERLEY – filha de Benício Otto da Silva e Walzira Wanderley da Silva, nasceu em 21 de agosto de 1951. A poetisa foi por muitos anos professora em Tarauacá, onde reside. Publicou os seguintes livros de poesia: Miscelânea (1984); Miscelânea vol.2 (1986); Miscelânea vol.3 (1988); a publicar, Miscelânea vol. 4.

JOSÉ CARLOS DA ROCHA – estudou em Manaus e em Fortaleza, onde se formou em Direito. Participou de vários movimentos estudantis: foi diretor da Tribuna Acadêmica da Faculdade de Direito do Ceará, diretor da União Nacional dos Estudantes, representou o Brasil no Congresso Internacional de Estudantes, em Istambul. Ocupou vários cargos públicos e, hoje, como procurador aposentado, reside no Rio de Janeiro. Aos 19 anos, reuniu os seus poemas no livro "Ela e outras poesias", que, todavia, não publicou. Atualmente, está com o projeto de reunir toda a sua produção (poesias, contos, crônicas) num livro, que já tem título: "Retalhos". (A informação é do site Jornal de Poesia).


FRANCISCO ALVES DE FREITAS – poeta e professor, com mais de três décadas de docência. É Licenciado em Letras Vernáculo pela Universidade Federal do Acre. É autor das seguintes obras poéticas: O Homem, a natureza e o povo; e Brados de vida.


MOISÉS DINIZ – poeta, escritor e político. É formado em Pedagogia pela Universidade Federal do Acre. Em 2011 tomou posse na Academia Acreana de Letras. É autor, entre outros, de: Exclamações Populares; A Bandeira Gêmea; O Santo de Deus (2009).

LUÍSA GALVÃO LESSA – professora, pesquisadora e escritora. É pós-doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montreal, Canadá; doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro; mestra em Letras pela Universidade Federal Fluminense; membro da Academia Brasileira de Filologia e da Academia Acreana de Letras. Pioneira na Iniciação Científica na Universidade Federal do Acre, com quotas, via balcão, pelo CNPq (1989); autora do Centro de Estudos Dialectológicos do Acre; autora do Atlas Etnolinguístico do Acre; autora do Dicionário Termos e Expressões Populares do Acre (1985); autora do Glossário do Vale do Acre: látex e agricultura de subsistência (1996); e autora do Dicionário do Acre (2003).

VULTOS POLÍTICOS, CULTURAIS E ARTÍSTICOS


ALTEVIR LEAL (Tarauacá, 24 de julho de 1928 – Rio Branco, 1999) – Armador, comerciante, industrial e grande pecuarista. Era filho do português Avelino Leal e de Maria Assunção Morais Leal. Exerceu dois mandatos de senador pelo Acre (1975 a 1979, 1983 a 1987). (Informações organizadas a partir da Wikipédia).

JOÃO MENDES OLÍMPIO DE MELO (Tarauacá, 16 de dezembro de 1917 – Teresina, 01 de agosto de 1979) – Filho de Matias Olímpio de Melo e Maria José Mendes de Melo, nasceu no Acre quando seu pai era Juiz de Direito no Estado. É engenheiro agrônomo formado pela Escola de Agronomia da Bahia, com especializações na Arizona State University e no College of Agriculture em Iowa, e também pela antiga Universidade Rural do Brasil. Seu pai foi governador do Piauí entre 1924 e 1928 e se elegeu senador pela UDN em 1947 e 1954. Nesse ínterim, João Mendes Olímpio de Melo foi eleito prefeito de Teresina, em 1950, ingressando depois no PTB, legenda da qual foi presidente do diretório regional no Piauí. Exerceu o mandato de senador pelo Piauí e depois foi eleito deputado federal, em 1962, migrando para o MDB após a instauração do Regime Militar de 1964, figurando como primeiro suplente de deputado federal em 1966, sendo efetivado em 1969 após a cassação de Chagas Rodrigues. É pai de Guilherme Melo, eleito deputado estadual em 1986, vice-governador em 1990 e empossado governador do Piauí em 1994 após a renúncia de Freitas Neto. (Informações organizadas a partir da Wikipédia).

JOSÉ RUI DA SILVEIRA LINO (Tarauacá, 13 de agosto de 1924 – Brasília, 07 de julho de 1987) – filho de Manuel Lino Filho e de Edwiges da Silveira Lino. Engenheiro Agrônomo, foi inspetor do Ministério da Agricultura. Estreou na política pelo PTB e foi eleito suplente de deputado federal em 1954 e 1958 sem que exercesse o mandato. Foi nomeado governador do Território Federal do Acre pelo presidente João Goulart, posteriormente deixou o cargo para concorrer às eleições de 1962 quando foi eleito deputado federal. Foi reeleito à Câmara dos Deputados em 1966, 1970 e 1974. (Informações organizadas a partir da Wikipédia).

NABOR TELES DA ROCHA JÚNIOR – nasceu em Tarauacá no dia 07 de novembro de 1930, filho de Nabor Teles da Rocha e Rosaura Mourão da Rocha. Além de seringalista e comerciante, foi o primeiro governador do Acre eleito pelo voto direto após vinte anos, em 1982. Deputado estadual em 1962, 1966 e 1970 e deputado federal em 1974 e 1978, período em que migrou do PTB para o MDB após o Regime Militar de 1964. Senador em 1986, sendo reeleito em 1994. (Informações organizadas a partir da Wikipédia).

JOSÉ MARQUES DE SOUSA, o Matias (Tarauacá, 21 de janeiro de 1937 – Rio Branco, 25 de março de 1997), filho mais velho do migrante cearense Moisés Matias de Sousa e da acreana Maria Marques de Sousa, nasceu na colocação Ipu, seringal Restauração as margens do igarapé Penedo, em Tarauacá. Foi seringueiro, líder social, ator, diretor, teatrólogo e ativista cultural acreano. Utilizou o teatro amador para denunciar e reivindicar melhores condições de vida para as comunidades menos favorecidas. (Informações organizadas a partir da Wikipédia).

RAIMUNDO RIBEIRO MENDES, o Dim – ilustrador, cartunista e designer gráfico. Nasceu em 1964, autodidata, mais de 25 anos de profissão. Trabalhou nos jornais: O Jornal, O Diário do Acre, Folha do Acre e atualmente atua no Jornal A GAZETA como chargista e diagramador desde 1986. Dim foi o idealizador do I Salão Acreano de Humor. Tem obras de cartum espalhadas pelo Irã, Piracicaba (SP-Brazil), Kragujevac e Portugal. (Informação de Seção Judiciária do Estado do Acre - Espaço Cultural).

A HISTÓRIA PELA FOTOGRAFIA

Aspecto da rua do comércio, a mais importante da cidade de Tarauacá. A calçada suspensa de madeira vai até a margem do rio Tarauacá, ou mais propriamente, até a confluência deste rio com o Muru. Quase todas as casas do comércio que vemos na foto acima foram construídas de tábuas aparelhadas. Todavia no que diz respeito à cobertura esta pode ser de telha tipo francês, ou de folhas de zinco. Esta cidade já teve esplendor comercial quando a borracha alcançou o máximo, aliás isto é fácil de observar pelo próprio aspecto das construções e o tamanho das casas em relação com a vida parada que presenciamos nos nossos dias. Um aspecto comum é encontrarmos “pélas” arrumadas em frente da casa de comércio, como se pode observar na parte direita da foto, ou mesmo dentro da loja. (Nota de Antônio Teixeira Guerra, em 1955. // Foto: Tibor Jablonsky do C.N.G.)
Na cidade de Tarauacá um traço interessante da paisagem urbana é a existência das calçadas de cimento ou de madeira no meio da rua. Aliás todas as ruas da cidade possuem uma ampla calçada central e calçadas menores perpendiculares que dão acesso às residências. (Nota de Antônio Teixeira Guerra, em 1955. // Foto: Tibor Jablonsky do C.N.G.)
Aeroporto de Tarauacá. Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Geográficos de Campo.
Cadeia Pública, construída em 1920, pelo capitão Agnelo de Souza, então comandante da Companhia Regional, instalada em 11 de junho de 1916 pelo capitão do exército Eugênio Augusto Terral, seu primeiro comandante. (Informação em FILHO, José Higino de Sousa. A luta contra os astros. Recife: SENAI, 1994. p.234).
Banco de Crédito da Amazônia S.A. em Tarauacá. Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Geográficos de Campo.
Casas na rua Inocêncio de Menezes em Tarauacá (AC). Arquivo Fotográfico Ilustrativo dos Trabalhos Geográficos de Campo.
Fachada da Prefeitura e Teatro Municipal, em 1949.
Prédio onde, por mais de 70 anos, funcionou o Fórum da Comarca de Tarauacá, criada em 1913, sendo o primeiro juiz o Dr. Djalma de Mendonça, substituído, em 1915, pelo Dr. Matias Olímpio de Melo. (Informação em FILHO, José Higino de Sousa. A luta contra os astros. Recife: SENAI, 1994. p.233).
Grupo Escolar João Ribeiro, o mais antigo da cidade. Foi instalado em 20 de abril de 1921 pela professora Ernestina de França Cardoso, sua primeira diretora.
Mercado Público, construído em 1931 pelo prefeito capitão Hipólito de Albuquerque e Silva. A obra, que esteve a cargo do mestre Sebastião Alves Maia, considerado um verdadeiro artista na profissão, se compunha de dois compartimentos destinados a açougue e um espaço destinado ao comércio. No local, hoje, existe um hotel, o Tarauacá Palace Hotel. (Informação em FILHO, José Higino de Sousa. A luta contra os astros. Recife: SENAI, 1994. p.112).
Prédio onde funcionou a Prefeitura de Tarauacá até os anos sessenta. Ao lado, o Teatro Municipal. Perfilado, em frente, o Destacamento da Força Policial do município, em comemoração ao Dia da Pátria, no ano de 1949. (Informação em FILHO, José Higino de Sousa. A luta contra os astros. Recife: SENAI, 1994. p.111).
Rua com calçada de madeira. Foto de Hernondino Chagas.
Sede da Fazenda Corcovado situada num terraço de 200 metros de altura, e a pouca distância da margem direita do rio Tarauacá. A casa é toda construída de meadeira, e não está apoiada diretamente no solo e sim sobre estacas. Na parte interior da casa temos uma pequena parede de tijolos revestidos, e o telhado é todo feito com telhas do tipo francês. (Nota de Antônio Teixeira Guerra, em 1955. // Foto: Tibor Jablonsky do C.N.G.)
Seringal Estirão, no rio Muru, em Tarauacá. Propriedade de Francisco Santos. Possuía armazéns, escritório e estabelecimento. O fundo era de frente para o rio.
Rua com calçada de madeira. Foto de Hernondino Chagas.

Engenho Copacabana localizado próximo à sede da Colônia Marechal Hermes. O engenho é de propriedade da prefeitura municipal e utilizado pelos colonos para beneficiar os produtos, como seja a fabricação de farinha e de açucar mascavo. A prefeitura está, no entanto, providenciando um reequipamento deste engenho, transformando num “conjunto mecânico”. Em Tarauacá houve três colônias agrícolas: a colônia Marechal Hermes, fundada em 28 de junho de 1932 pelo coronel José Florêncio da Cunha; a colônia Epitácio Pessoa, fundada pelo Dr. Raimundo Vidal Pessoa, em 06 de novembro de 1921; e a colônia Joaquim Távora, do governo federal, porém, supervisionada pela Prefeitura. (Informações de Antônio Teixeira Guerra, em 1955. // Foto: Tibor Jablonsky do C.N.G.)




REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Antônio José de. Cartas do Acre. Rio de Janeiro: Typ. Jornal Commercio, 1910.
CABRAL, Alfredo Lustosa. Dez anos no Amazonas (1897-1907). Brasília: Gráfica do Senado, 1984.
COSTA, Craveiro. A Conquista do Deserto Ocidental. Brasília: Ed. Brasiliana, 1973.
FARIAS, Anastácio Rodrigues de. Diversos dados sobre o município de Seabra 1905-1943. Rio Branco, 1993.
FILHO, José Higino de Sousa. A luta contra os astros. Recife: Núcleo de Apoio Técnico Administrativo do Departamento Nacional do SENAI, 1994.
GUERRA, Antonio Teixeira. Estudo Geográfico do Território do Acre. Rio de Janeiro: IBGE, 1955.
LOPES, Margarete Edul Prado de Souza. Motivos de mulher na Amazônia: produção de escritoras acreanas no século XX. Rio Branco: EDUFAC, 2006.
MASÔ, João Alberto. Delegacia do Ministério da Agricultura no Território do Acre. Relatórios do delegado, engenheiro João Alberto Masô: 1910, 1911, 1912. Rio de Janeiro, 1913.
TOCANTINS, Leandro. Formação Histórica do Acre (2 volumes). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.
Jornal O ESTADO (Orgão dos Interesses do Departamento) – edição de 29 de março de 1914, No.9.
Jornal O DEPARTAMENTO (orgam da prefeitura) – edições de 1o de março de 1916, No 39; 12 de março de 1916, No40; e 19 de março de 1916, No41.
JORNAL OFFICIAL – edições de 16 de abril de 1916, No 1; 30 de abril de 1916, No 3; 28 de maio de 1916, No 7; 02 de julho de 1916, No 12; e 18 de março de 1917, No 49.