terça-feira, 30 de abril de 2013

ARTE DE ENSINAR E DE APRENDER

Prof.a Luísa Lessa
Site Gosto de Ler 


     O professor e filósofo da University of Cambridge, Ludwig Wittgenstein, diz que “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. Numa versão metafórica pode-se afirmar que ‘as perguntas que fazemos apontam o ribeirão onde desejamos beber’. Com essas palavras deseja-se dizer que os educadores precisam refletir, sempre, sobre as necessidades dos alunos, as perguntas mais simples que fazem em sala de aula. Afinal, essas perguntas revelam o mundo de cada ser que se coloca diante do professor, esse grande educador do mundo. As perguntas revelam a sede de conhecimento dos alunos. Assim, também, revelam a arte de ensinar e a arte de aprender.

      Entre a arte de ensinar e a arte de aprender existe uma grande diferença, não obstante acharem-se ambas intimamente entrelaçadas. Em geral, quem começa a aprender o faz sem saber por quê. Inicialmente pensa ser por necessidade, por uma exigência dos pais, da sociedade, por um desejo de muitas outras coisas às quais costumam atribuir esses porquês. Mas quando já começa a vincular-se àquilo que aprende, vai despertando na pessoa interesse e, ao mesmo tempo, reanimam-se as fibras adormecidas da alma, que começa a buscar, chamando ao estudo, gerando os estímulos que irão criar a capacidade de aprender.

      Os mundos dos estudantes são imensos! Sua sede não se mata bebendo a água de um mesmo ribeirão! Querem águas de rios, lagos, lagoas, fontes, minas, chuva, poças d’água. Enquanto as respostas dos professores revelam, muitas vezes, as águas que perderam a curiosidade, as águas do ribeirão conhecido, comumente a repetição da mesma trilha batida que leva ao mesmo lugar. É preciso atrair o aluno, despertá-lo para o novo, para o mundo, mostrar que a vida oferece milhões de lições, que eles saibam escolher as melhores. Motivá-los a isso, a empreender viagens pelos livros. O professor é o mediador entre o conhecimento e a aprendizagem.

      Todavia, não se pode perder de vista que ensinar é antes de tudo um ato de AMOR. Pois toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. E esse afeto não é dar beijinhos, fazer carinho. Afeto, do latim affetare, quer dizer ir atrás. O “afeto” é o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o eros platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado.

      Por isso tudo é bom ao professor ouvir seus alunos. É que nas conversas com eles que se observam os mundo diferentes que se cruzam na sala de aula. Thomas Mann, no seu livro José do Egito, conta de um diálogo entre José e o mercador que o comprara para vendê-lo como escravo, no Egito: -“Estamos a um metro de distância um do outro. E, no entanto, ao seu redor gira um universo do qual o centro és tu e não eu. E ao meu redor gira um universo do qual o centro sou eu, e não tu.” É fascinante esse diálogo por que traduz mundos distantes que se aproximam do professor em sala de aula. E ouvir esses mundos é dialogar com a multiplicidade da vida. É ter oportunidade de deslindar portas, janelas antes não visitadas ou abertas para o OLHAR atento e sábio do professor.

      Diante desse mundo escola/professor/aluno, deixam-se, neste texto, duas indagações: o que é o que o ser aprende, e para que se aprende?  As respostas não são difíceis. Aprende-se e continua-se aprendendo, adquirindo hoje um conhecimento e amanhã outro, de igual ou de diversa índole. Primeiro se aprende para satisfazer às necessidades da vida, tratando de alcançar, por meio do saber, uma posição, e solucionar ao mesmo tempo muitas das situações que a própria vida apresenta.

     Hoje, raros são os professores que têm prazer de ensinar e se dedicam aos  alunos. Muitos acham que estão perdendo tempo precioso, um tempo em que poderiam dedicar a escrever artigos, preparar livros, fazer pesquisas. Mas aquele SER que é  um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão relacionadas com os seus estudantes – inclusive a si mesmo. Por isso tudo, espera-se que um dia professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos, sobre a construção de um mundo melhor para todos. A EDUCAÇÃO é o único caminho capaz de moldar vidas, mudar o mundo, torná-lo mais humano e melhor para se viver.


* LUÍSA LESSA pertence às Academias Brasileira de Filologia e Acreana de Letras.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

ODE DE RICARDO REIS


Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
            Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
            Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
            Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
            Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos,
            Deixem-me crer
O que nunca poderei ser.

27-9-1931



PESSOA, Fernando. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 286

SOBREVOANDO O ARENA DA FLORESTA

Imagens captadas (aeromodelo) pelo meu primo cinegrafista Josenir Melo, do estádio Arena da Floresta, em Rio Branco, Acre.

domingo, 28 de abril de 2013

EXCÊNTRICO

"Figuro entre os excêntricos para os quais as setenta e poucas pulsações do coração deste milagre chamado homem inspiram um respeito muito mais profundo que os milhares e milhares de revoluções de um motor." Werner Bock


apud CORTÁZAR, Julio. Obra Crítica 2. [Org. de Jaime Alazraki; trad. Paulina Wacht e Ari Roitman]. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. p.98

sábado, 27 de abril de 2013

MÚSICA BRASILEIRA

Penso que a música brasileira (desculpem-me a generalização) não está em crise, mas é antes a sociedade que perdeu seus referenciais primordiais (éticos, morais etc.). Qualquer coisa vale, se vender. E rosto de jovenzinho afeminado vende mais ainda, que dirá corpo ‘sarado’, e se mostrar bunda de mulher, aí é sucesso absoluto. E se aparecer no Faustão é a glória do panteão (da mediocridade). A música que os principais meios de comunicação apresentam sequer merecem o nome de MÚSICA. É no máximo produto de mercado; portanto, sua função é vender; portanto, descartável. Duvido que daqui cem anos Michel Teló, Naldo e cia. ainda serão tocados; a não ser para se mostrar o que a música não é; ou, caso a humanidade tenha definhado de vez. O que é bem provável, se continuar nesse ritmo.

Porém. No entanto. Todavia. Há muitas pérolas entre essa sujidade toda. É só ver, por exemplo, programas como Sr. Brasil (Rolando Boldrin), Viola Minha Viola (Inezita Barroso), e outros desses canais de alcance mais limitado. Canções que nos tocam, que tem algo a nos dizer, nos desinstalam. E que não são imiscuidas de letras cheias de trocadilhos de cunho e apelo sexual. Sinceramente não sei o que um “lek, lek, lek” pode acrescentar à existência de uma criatura. Mas ninguém dá aquilo que não tem. Inteligência não se passa por osmose. É muito melhor virá foquinha de auditório do Sílvio Santos, a bater palmas, do que estimular um pouco o cérebro procurando perceber, por exemplo, o que está por trás da música “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil, que torna a canção ainda mais bela e significativa. É claro que numa festa ou numa balada não se vai filosofar sobre o que uma música quer dizer ou deixa de dizer. Por sua vez, ouvir Luan Santana, em sã consciência, já acho uma insanidade. Mas como se diz: “gosto não se discute”. Eu prefiro discutir, a descer goela abaixo qualquer coisa que pode ser tudo, menos música.


Clique para ouvir a bela interpretação de Maria Bethânia de Cálice.

LOCUÇÕES DE PIERRÔS

Jules Laforgue (1860-1887)


Teu coração tem fiador honesto,
O meu vive de duplicatas
            Levadas
            A protesto.





apud POUND, Ezra. Abc da literatura. São Paulo: Editora Cultrix, 1973.