domingo, 31 de janeiro de 2016

SEPARAÇÃO DO EMBIRA

O jornal O Município, de 8 de março de 1931 (Num. 822, Ano XXII), de Tarauacá, trazia a seguinte notícia do anseio dos moradores de Feijó pela separação do município de Tarauacá:

“SEPARAÇÃO DO EMBIRA
 Dizem de Villa Feijó que os habitantes dos rios Embira e Jurupary se congregaram para se separarem da tutela do Tarauacá em face do abandono em que vivem.
Querem crear um Município seu, que trate de melhorar e fazer progredir aquella importante zona, já que o do Tarauacá delles só lembra na ocasião da colheita dos impostos.
Para mais acelerarem o seu “desideratum”, tratam de fundar um jornal em Villa Feijó, em cuja frente está o prestigioso doutor Epaminondas Martins.
Em qualquer parte do mundo deve predominar o “crescei e multiplicai”. É o que se dá no Embira que não deve ficar na estacada pela incúria de governos incompetentes.
Nós sempre lembramos que aquella zona tem direito à consideração dos administradores deste Município, pois rende e produz tanto como este rio e o Murú.
“Quem adeante não olha, atraz fica”...”

A tão sonhada independência política e territorial de Feijó viria no dia 21 de dezembro de 1938, quando, por meio do Decreto-lei Federal n.º 968 é elevado à categoria de município, sendo desmembrado definitivamente de Tarauacá.
Avenida Epaminondas Martins (195?)

Praça da Bandeira (195?)
As duas fotos que ilustram são da década de 1950 (195?), do Arquivo dos Municípios Brasileiros, disponíveis na Biblioteca do IBGE. A primeira foto é da Avenida Epaminondas Martins; e a segunda, da Praça da Bandeira.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

REVOADA DE GRILOS

Isac de Melo 


Que santos grilos são esses
Que de forma contundente
Se instalaram no passado
Permanecem no presente
E até de forma aguerrida
Penetram na nossa vida
Fundindo a cuca da gente

São os grilos da saúde
No descaso com doentes
Grilos dos falsos profetas
Na usurpação dos crentes
Na horta do camponês
Até na forma das leis
Nos embargos infringentes

Distribuição de cotas
Pra entrar na faculdade
Estatuto da criança
A lei da maioridade
Até o processo lento
E o mau atendimento
De quem tem prioridade

Invertendo os valores
Partindo do pré-suposto
Que o militar fardado
Não pode negar seu posto
Numa atitude rara
A polícia mostra a cara
E o ladrão esconde o rosto

Violentar virou moda
Por conta da impunidade
Já não dá mais nem cadeia
Pois virou banalidade
E além de premeditado
Está sendo praticado
Por menores de idade

Na maioria dos casos
O crime é recorrente
Nossa lei mal redigida
Protege o delinqüente
A toga por força plena
Dá-lhe a progressão da pena
E ele estupra novamente

Deputados mensaleiros
Que vão de quadrilha a lobe
Brincam com nosso dinheiro
Fazendo de tudo um hobe
Como é que eu explico
Se a lei que protege o rico
É a mesma que prende o pobre?

Mensaleiros condenados
No supremo tribunal
Assumindo seus mandatos
Como se fosse legal
Burlando o curso da história
E enlameando a memória
Do congresso nacional

Pessoas somem do nada
Sem deixar nenhum indício
No caso do Amarildo
E do garoto Fabrício
Isso acontece com seres
Enquanto nossos poderes
Ficam fazendo comícios

Nós fomos espionados
Por racks americanos
Que procurando saber
Nossos desejos e planos
Não foram nem informados
Que estamos amparados
Pelos direitos humanos

Está entregue às baratas
Nossa pátria gloriosa
Só temo que deputados
De maneira vergonhosa
Reunidos em um bosque
Criem a lei Levandowisk
Pra prender Joaquim Barbosa

Tem grilos na segurança
Grilos na educação
Como nas provas do ENEM
Que eu vi um cidadão
Que muito antes da hora
Ele contava vitória
Com o gabarito na mão

O Marcelo perceguine
Que assassinou os pais
Coronel exonerado
Por ter falado demais
Governo não quer embargo
E pra não perder o cargo
Gruda até no satanás

Nicolau dos Santos Neto
Cadê essa criatura?
Que sorridente exibia
Exuberante postura
De repente se acomoda
Numa cadeira de rodas
E perde a magistratura

Nem chegou a esfriar
O caso do mensalão
Já surgiu outro mais caro
Chamado de petrolão
Que roe com gosto de gás
Os cofres da petrobrás
Deus, salve a nossa nação

Estupro banalizado
Proliferou o ladrão
Assalto à mão armada
Transformou-se profissão
A coisa ficou tão feia
Que quem vive na cadeia
É o pobre cidadão

Saudades da minha infância
De quando havia respeito
Eu dizia: bença pai
E saía satisfeito
Aprendi desde menino
Quando ouvir o nosso hino
Levar a mão sobre o peito

A professora chegava
Todos lhe davam bom dia
Numa só voz afinada
Sem sussurro ou gritaria
Dali pra frente o silêncio
Fazia jus ao bom senso
E a educação fluía

Santos grilos no PROCON
Órgão do consumidor
Que em prol dos nossos direitos
A telexfree embargou
Acarretando em juízo
Um enorme prejuízo
Justo ao investidor

Grilos na internet móvel
Telefone celular
Aifone aipede aipode
Tablet pra variar
Tanta tecnologia
Transformando em agonia
Pra quem se atreva a comprar

No transporte coletivo
Ta faltando correção
Na catraca, nos assentos
Segurança e direção
Nas paradas nem se fala
Pairam buracos de bala
E marcas de arrastão

Sobre globalização
Tome tento e fique esperto
Alguém me disse outro dia
E eu achei muito certo
Que a internet hoje
Aproxima quem ta longe
Mas afasta quem ta perto

A direção destrutiva
Acaba de se instalar
O cara sai atrasado
De manhã pra trabalhar
Acha-se o dono da estrada
Desvia pela calçada
E só pára pra brigar

Coitadinho do idoso
Que por ser aposentado
Passou a tornar-se vítima
Constantemente é roubado
Às vezes sem deixar trilha
Alguém da própria família
Ceifa a vida do coitado 

Grilos com tantos grileiros
Matando a mata e seus donos
Tomando as terras dos índios
Forjando nelas seus tronos
Queimando a fauna e a flora
Empurrando para fora
A família dos colonos

Grilos ao ver nossos cofres
Ajudar outros países
Como se a gente não fosse
Passivos das mesmas crises
Com nosso sangue e suor
Talvez fosse bem melhor
Regar as nossas raízes

Não é justo nem humano
Tirar de onde não tem
Doar a quem não precisa
Em detrimento de alguém
Pois quem puser quem acena
Numa embarcação pequena
Pode naufragar também. 


Sebastião ISAC DE MELO é natural de Rio Branco, onde nasceu em 1953. Ingressou na carreira militar no Exército Brasileiro em 1981, estando na reserva desde 2005. Serviu como músico em batalhões do Acre, Amazonas, Roraima, Ceará e Amapá. Exerceu ainda a função de mestre na Banda de Música do 1º Batalhão B COM DIV em Santo Ângelo-RS e Banda de Música do 44º BIMTZ em Cuiabá-MT. É autor de Cordel Reflexivo (2011), A Bíblia em literatura de cordel (2012) e Urucum (2014). Possui formação em Teologia pela Faculdade de Ciências Sociais Filosofia e Teologia da Amazônia.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

ZAQUEIRA

Isac de Melo 


O meu tempo de menino não foi nada brincadeira
Meu pai era lavrador minha mãe arrumadeira
Na hora da refeição chorava de dar canseira
Segundo mamãe falou, nem peito nem mamadeira
Nossa casinha de palha recheada de goteira
A luz era lamparina não havia geladeira
Eram quatro criolinhos e uma negrinha faceira
Quando mamãe trabalhava levava a negrada inteira

Era Joãozeira Zaquera Gustera e Tonhera
Diz a minha irmã Luzia nunca ouvi tanta besteira

Cresci brocando roçado vivi serrando madeira
Me vi plantando verdura vendendo porco na feira
Trabalhei de encanador fui mestre na bitoneira
Toquei e cantei na noite só nunca bati carteira
No dia em que me casei e minha filha nascera
Comprei móveis cama e mesa dei pra minha companheira
Mas não consegui pagar nem a prestação primeira
A loja veio e levou a minha mobilha inteira

Era Joãozeira...

Tudo agora é só saudade pura crua e verdadeira
Da casinha onde eu morava da comidinha caseira
Da escola da pracinha dos quitutes da doceira
Das paixões das professoras, do cipó de goiabeira
Vida boa tempos idos da igrejinha de madeira
Dos engenhos dos açudes dos pajés das benzedeiras
Do forró de pé de serra do plantio de macaxeira
Da crença em Nossa Senhora e no trabalho da parteira

Era Joãozeira Zaquera... 


Sebastião ISAC DE MELO é natural de Rio Branco, onde nasceu em 1953. Ingressou na carreira militar no Exército Brasileiro em 1981, estando na reserva desde 2005. Serviu como músico em batalhões do Acre, Amazonas, Roraima, Ceará e Amapá. Exerceu ainda a função de mestre na Banda de Música do 1º Batalhão B COM DIV em Santo Ângelo-RS e Banda de Música do 44º BIMTZ em Cuiabá-MT. É autor de Cordel Reflexivo (2011), A Bíblia em literatura de cordel (2012) e Urucum (2014). Possui formação em Teologia pela Faculdade de Ciências Sociais Filosofia e Teologia da Amazônia.

RAZÕES DO CORAÇÃO de José Potyguara

No dia 26 de janeiro último, o “Theatro Municipal” de Tarauacá completou 83 de existência, inaugurado no dia 26 de janeiro de 1933. Abaixo, um anúncio do dia 19 de fevereiro de 1933 no Jornal A Reforma da peça “Razões do Coração”, de José Potyguara, encenada pela primeira vez no dia 29 de janeiro de 1933 no Teatro Municipal de Tarauacá, hoje Teatro José Potyguara. Veja transcrição do anúncio da peça:



THEATRO MUNICIPAL
Sociedade Sportiva e Dramatica Tarauacaense
Domingo, 19 de Fevereiro de 1933

sob o patrocínio dos Snr. Drs. Edgard Castro, José Potyguara, Leoncio Rodrigues Coreneis Auton Furtado e José Florêncio da Cunha

benefício do scenographo amador
Antonio Muru
O IMPECÁVEL CREADOR DO PAPEL DE JOAQUIM 

1.ª Parte
Quarta representação do melodrama
em três actos
RAZÕES DO CORAÇÃO
de autoria do Dr. José Potyguara
Ornado com 13 lindos números de música do maestro Mozart Donizetti

2.ª Parte
A Interessante Farça em 1 Acto
BOLIU... PAGOU
No primeiro intervalo o travesso Raimundo Acreano cantará a marcha
VOCÊ NÃO ME DISSE NADA...

Cadeira numerada 2$000 – Geral 1$000
ATTENÇÃO! – creança occupando cadeira paga como adulto.

Os ingresso podem ser encomendados, desde já, ao sr. Arnaldo Farias, thesoureiro da “Sociedade Sportiva e Dramatica Tarauacaense”

domingo, 24 de janeiro de 2016

TARAUACÁ NO INÍCIO DA DÉCADA DE 1960

Essas fotos revelam partes da cidade de Tarauacá-AC no início da década de 1960. Eles integram o arquivo de José Altino Machado (1924-2011), que governou o Território do Acre entre os anos de 1961 a 1962, e foram digitalizadas e disponibilizadas pelo jornalista acreano Altino Machado, que recebeu esse nome em homenagem ao ex-governador. As fotos foram tiradas por ocasião da visita do governador à cidade Tarauacá.

Centro de Tarauacá, onde hoje é a Praça Tarauacá. Vê-se ao fundo parte do Teatro José Potyguara, o primeiro do Acre, inaugurado em 1932. O governador aparece aqui no primeiro plano (de terno mais claro), ao lado do prefeito (provavelmente Reydiner Matos).

Governador caminhando ao lado do prefeito e populares.


Centro de Tarauacá, rua onde hoje é a praça Tarauacá. No lado esquerdo da foto, que não aparece, fica a Igreja Matriz de São José.
Ainda na praça central de TK.

Governador recebendo os cumprimentos do prefeito de Tarauacá, Reydiner Matos (?) por ocasião de sua visita.

Governador e autoridades locais em frente a Igreja de São José.

Governador e autoridades no Coreto da Praça Central de Tarauacá.

O antigo Fórum de Tarauacá.

O antigo prédio da Prefeitura de Tarauacá.

Rua do Comércio.

Rua do Comércio ou Ponte.

Algumas das ruas (trapiches).

Rua do Comércio.

*Informações que possam nos esclarecer mais sobre essas fotos podem ser enviadas para nosso e-mail: almaacreana@gmail.com