quinta-feira, 30 de abril de 2015

PROF.ª DR.ª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG É ELEITA PRESIDENTE DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS

A Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg, com a chapa intitulada “Tecido da Cultura Acreana”, foi eleita nova presidente da Academia Acreana de Letras (biênio 2015-2017). A eleição ocorreu neste dia 30 de abril, na Casa de Cultura, em Rio Branco. Luísa Lessa nasceu nas cabeceiras do igarapé Humaitá, afluente do rio Muru, distante oito dias de barco da cidade de Tarauacá. Iniciou os seus estudos em Cruzeiro do Sul, depois em Rio Branco, e, em seguida, Rio de Janeiro.

Uma das maiores estudiosas de linguagem da região, Luísa Lessa possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre - UFAC (1979); Mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense - UFF (1985); Doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (1992); Pós-Doutorado em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Professora aposentada da Universidade Federal do Acre (2003); Professora Visitante Nacional Sênior - CAPES (2010-2014).

Além disso, atualmente escreve para os jornais: Agência Amazônia de Notícias (2008-2014); Gosto de Ler (2010-2014); A Gazeta (1988-2014). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: Língua Portuguesa, Dialectologia Social, Linguagem e Ensino, Linguagem e Identidade Cultural, Lexicologia e Lexicografia, Onomasiologia, Fonologia da Língua Portuguesa, Semântica da Língua Portuguesa, História da Língua Portuguesa, O Português do Brasil, Gramática Histórica, Filologia Românica, Produção Textual, Redação Jornalística I, Gramática da Língua Portuguesa, Estilística da Língua Portuguesa, Linguística Aplicada ao Ensino de Português, Redação Jornalística II, Redação Jornalística III, Redação Jornalística IV, Epistemologia e Metodologia da Pesquisa.

É autora do Atlas Etnolinguístico do Acre - ALAC (1991-2015); Autora do Dicionário do Acre (2003); Autora de Termos e Expressões Populares do Acre (1985); Autora do Glossário Vale do Acre: látex e agricultura de subsistência (1996); Autora das Cartas Lexicais do Atlas Etnolinguístico do Acre (2011).

É membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundadora da Academia dos Poetas do Acre;  Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da International Writers and Artists Association (IWA), sediada na cidade de Toledo, Ohio, USA. Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2011-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Orientadora de bolsistas PIBIC (Campus Floresta - UFAC); Pesquisadora DCR do CNPq (2015-2018). Grã-Chancelar da medalha J.G. de Araújo Jorge, pela Academia Juvenil Acreana de Letras.

A nova diretoria é composta por:

Presidente: Luísa Galvão Lessa Karlberg
Vice-Presidente: Claudemir Mesquita
1º Secretário: Margarete Edul Prado Sousa Lopes 
2º Secretário: Maria de Fátima H. Almeida
1º Tesoureiro: Álvaro Sobralino Neto
2º Tesoureiro: Olinda Batista Assmar
Diretoria de Patrimônio: Francisco de Moura Pinheiro
Diretoria de Imprensa: Sílvio Martinelo
Diretoria de Biblioteca: Mauro D’Ávila Modesto
Relações Públicas: Dalmir Rodrigues Ferreira
Assessoria Jurídica: João Crescêncio de Santana

CONSELHO FISCAL:
Naylor George
Florentina Esteves
Edir Marques de Oliveira. 

terça-feira, 28 de abril de 2015

CARTA ABERTA DA PROF.ª DR.ª LUÍSA GALVÃO LESSA KARLBERG AOS IMORTAIS DA ACADEMIA ACREANA DE LETRAS

Rio Branco, 27 de abril de 2015
Excelentíssimos pares da Academia Acreana de Letras,


Apresento-vos a proposta de trabalho de “TECIDO DA CULTURA ACREANA”, que pretendemos devolver no Acre, enquanto Diretoria da AAL, para o biênio 2015-2017.

Digo-vos que dedicarei o melhor de meus esforços, caso seja eleita Presidente, para fazer da Academia Acreana de Letras uma instituição forte, ativa, participativa, construtora e impulsionadora da literatura regional, bem como iremos trabalhar para o bom cultivo do idioma pátrio, considerando que os acreanos fazem parte dos 200 milhões de brasileiros que sonham em Língua Portuguesa.

A nossa responsabilidade é imensa, mas estamos de mãos dadas com a comunidade regional para revitalizar a Academia Acreana de Letras, importante instituição para o fomento da Cultura, Literatura e das Letras no Acre. Deve ser essa Augusta Casa uma instituição cultural ciosa das altas tradições de Civilização e Cultura que são glorioso apanágio de nosso povo.

A AAL abriga renomados intelectuais que podem contribuir para o desenvolvimento do Estado, em muitas áreas do conhecimento. E, nesse cenário, nós iremos valorizar cada membro do sodalício, naquilo que sabe melhor fazer, divulgando suas produções acadêmicas e motivando-o na concretização de seus projetos e no engajamento das políticas culturais no seio da AAL, sempre harmonizadas com a sociedade.

Pedimos que votem em “TECIDO DA CULTURA ACREANA”, a única Diretoria que se apresenta para este pleito. Pretende-se, com esse título dizer que ‘o tecido da cultura voltará a ser tecido no seio da AAL’. Tecer a partir de esperanças antigas, sonhos novos. E dos sonhos novos, nova realidade, novo tecido a ressaltar a beleza e a diversidade cultural do Acre.

Não se pretende realizar milagres, mas seremos os Gigantes nessa Nova Jornada. Seremos os acadêmicos que saltarão dos fatos para a imaginação e da imaginação para o mundo das ideias, das realizações, em busca de dias melhores para a AAL. Pensamos como Victor Hugo: “O futuro tem muitos nomes. Para os fracos é o inalcançável; Para os temerosos, o desconhecido; Para os valentes é a oportunidade”. É esta última que abraçamos.

Pedimos que compareçam à Casa de Cultura, rua Pernambuco, bairro Estação Experimental, no horário das 9 às 17 horas e votem na Chapa intitulada “TECIDO DA CULTURA ACREANA”.

Conclui-se com a célebre frase de John F. Kennedy: “A mudança é a lei da vida. E aqueles que apenas olham para o passado ou para o presente irão, com certeza, perder o futuro”. E nós iremos trabalhar para dignificar a Academia Acreana de Letras, aproximá-la dos escritores, poetas, cientistas e a comunidade do Acre e do mundo.

Saudações acadêmicas.

Prof.ª Dr.ª Luísa Galvão Lessa Karlberg


Observação: Para aquelas pessoas que não me conhecem, coloco, aqui, um resumo do meu CV.

LUISA GALVÃO LESSA KARLBERG - Possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre – UFAC (1979); Mestrado em Letras pela Universidade Federal Fluminense – UFF (1985); Doutorado em Letras (Letras Vernáculas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ (1992); Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Professora aposentada da Universidade Federal do Acre (2003); Professora Visitante Nacional Sênior – CAPES (2010-2014). Atualmente escreve para os jornais: Agência Amazônia de Notícias (2008-2014); Gosto de Ler (2010-2014); A Gazeta (1988-2014). Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Língua Portuguesa, atuando principalmente nos seguintes temas: Língua Portuguesa, Dialectologia Social, Linguagem e Ensino, Linguagem e Identidade Cultural, Lexicologia e Lexicografia, Onomasiologia, Fonologia da Língua Portuguesa, Semântica da Língua Portuguesa, História da Língua Portuguesa, O Português do Brasil, Gramática Histórica, Filologia Românica, Produção Textual, Redação Jornalística I, Gramática da Língua Portuguesa, Estilística da Língua Portuguesa, Linguística Aplicada ao Ensino de Português, Redação Jornalística II, Redação Jornalística III, Redação Jornalística IV, Epistemologia e Metodologia da Pesquisa. É autora do Atlas Etnolinguístico do Acre - ALAC (1991-2015); Autora do Dicionário do Acre (2003); Autora de Termos e Expressões Populares do Acre (1985); Autora do Glossário Vale do Acre: látex e agricultura de subsistência (1996); Autora das Cartas Lexicais do Atlas Etnolinguístico do Acre (2011); Membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundadora da Academia dos Poetas do Acre;  Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da International Writers and Artists Association (IWA), sediada na cidade de Toledo, Ohio, USA. Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2011-2018)); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Orientadora de bolsistas PIBIC (Campus Floresta - UFAC); Pesquisadora DCR do CNPq (2015-2018).

segunda-feira, 27 de abril de 2015

ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE A PROSTITUIÇÃO NO PRESENTE E NO FUTURO (1892)

Georg Simmel (1858-1918)
Friné o Trata de Blancas – Débora Arango (1907-2005)

A indignação moral que a “boa sociedade” manifesta em relação à prostituição é, sob muitos aspectos, matéria de ceticismo. Como se a prostituição não fosse a consequência inevitável de um estado de coisas que essa “boa sociedade”, justamente, impõe ao conjunto da população! Como se fosse a vontade absolutamente livre das mulheres prostituir-se, como se fosse uma diversão para elas! Claro, entre a primeira vez em que o infortúnio, a solidão sem recursos, a ausência de alguma educação moral, ou ainda o mau exemplo do ambiente incitam uma moça a se oferecer por dinheiro e, por outro lado, a indescritível miséria em que, de ordinário, sua carreira se encerra, claro, entre esses dois extremos, existe na maior parte do tempo um período de prazer e despreocupação. Mas a que preço e quão breve! Nada mais falso do que chamar de “garotas de vida alegre”, essas infelizes criaturas e entender por aí que elas vivem efetivamente para a alegria: talvez para a alegria alheia, mas não decerto para a delas. Ou acaso se estima que seja uma delícia, noite após noite, em qualquer tempo – calor, chuva ou frio –, bater pernas pelas ruas para oferecer uma presa e servir de mecanismo ejaculatório ao primeiro indivíduo que aparecer, por mais repugnante que seja? Acaso se crê realmente que tal vida, ameaçada de um lado pelas doenças mais infectas, de outro pela miséria e pela fome, e em terceiro lugar pela polícia, acaso se crê que essa vida possa mesmo ser escolhida com esse livre-arbítrio que seria a única coisa a justificar, em contrapartida, a indignação moral? Sem dúvida, a prostituição superior, fora do controle, se vê melhor aquinhoada por mais tempo. Se a mulher for bonita e conhecer um pouco a arte da recusa, se ademais fizer teatro, então pode escolher os candidatos e mesmo as pulseiras brilhantes. À parte o fato de que a queda é, de ordinário, mais grave quando a interessada não tem mais à sua disposição os encantos que lhe permitiam comprar a vida in dulci jubilo, a sociedade se mostra curiosamente muito mais indulgente para com essa prostituição mais refinada (por certo capaz de se arranjar globalmente bem melhor do que a prostituição de rua e de bordel) do que para com a prostituição de nível baixo, a qual, no entanto – supondo-se que haja pecado nisso –, é muito mais sancionada pela miséria de sua existência do que a primeira. A atriz, que nada tem de mais moral do que a mulher de rua e, talvez, até se revele bem mais calculista e vampiresca, é recebida nos salões de que a prostituta de calçada seria expulsa por cães. As pessoas felizes, de fato, sempre têm razão, e a lei tão cruel que quer que se dê a quem possui e que se tome de quem nada tem não conhece executora mais severa do que a “boa sociedade”. Esta, que em toda parte só enforca os ladrõezinhos, também só despeja toda a sua indignação virtuosa sobre pobres mulheres de rua, mostrando pudor apenas em função da condição melhor ou pior das prostitutas. Isso porque a sociedade vê no infeliz seu inimigo – e não está errada nisso. Porque esse infeliz, o indivíduo desfavorecido por sua culpa ou não, sobre o qual pesa um juízo de exclusão equitativo ou não, será responsabilizado pela coletividade por não ter obtido melhor posição em seu seio. Ele a detestará, e ela o detestará em troca, lançando-o mais abaixo ainda. Do mesmo modo que o feliz possuidor recebe em acréscimo, além dos benefícios diretos da sua situação, um prêmio de felicidade devido ao fato de a sociedade respeitá-lo, elevá-lo ao pináculo e conceder-lhe por toda parte a prioridade, também o infeliz será, em acréscimo, punido por sua desgraça, porque a sociedade trata-o como seu inimigo nato. Pode-se observar todos os dias que o abastado escorraça o mendigo com cólera, como se fosse um erro moral ser pobre, como se isso justificasse, pois, a indignação virtuosa. Neste caso, como é frequente, a má consciência que o rico sete face ao pobre esconde-se atrás da máscara de uma legitimidade moral de maneira tão contínua, com pseudo-razões tão peremptórias, que a própria vítima acaba acreditando. A diferença que a sociedade estabelece assim no juízo e no tratamento que reserva à prostituição elegante e à prostituição miserável é um dos exemplos mais esclarecedores, ou mais tenebrosos, da equidade dessa sociedade, que torna o desgraçado, cada vez mais desgraçado, perseguindo-o por causa de sua desgraça, como se se tratasse de algum pecado cometido contra ela. Talvez o faça por uma obscura antecipação, a saber: ele poderia ter a forte tentação de cometer, de fato, um pecado contra ela.


SIMMEL, Georg. Filosofia do Amor. Tradução Luís Eduardo de Lima Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p.1-4

domingo, 26 de abril de 2015

MANIFESTO DESTEMPO: QUINZE É TREZE E VICE VERSA DE CAMBALHOTA

João Veras (15/03/15)

Não tenho encontrado posição na cama para sonhar...
Então fico de pé!
Curto, Comento, compartilho?
Engulo a seco ou peço pra sair da minha linha do tempo?
Nada disso...

Mas nem tudo é igual
Eu disse: nem tudo é desigual
Dois e dois não significa vinte e dois
Cinco e sete, sim, quer dizer cinquenta e sete
Como quase tudo pode ser claro se tudo é quase escuro?

Há mais de mil tons para pintar minha bandeira
E a gente se entende para além da falsa desonra
Tem rede mas não tem balanço – tem sede mas não tem copo
Pátria de remanso sempre esse povo de querer manso

No curral de cem milhões de cercas
não mastigo a direita vestida de esquerda
não degluto a esquerda vestida de direita
não me alimento de centro e seu guarda roupa de duas camisas
ando de corpo nu e olhar paralaxe

Esqueceram o céu e o buraco abaixo? E as transversais?
São tantos os furos ao longo do túnel!
Essas estrelas da manhã salpicando meu caminho
E eu ainda de pé cara a cara com o pesadelo
As palavras não mudam o real – elas alteram o imaginário (de quem?)

Alagação, por exemplo, basta falar que ela tudo corrompe
Saiu do noticiário empresarial, não mais existe
Só as contas da solidariedade oficial a distribuir dividendos
E o alagado enlameado de dívidas com o mercado
O mercado da feira e o mercado do voto
Mas não se aborreça, são os nós da imaginação
As notícias constroem o mundo

Diz a placa: não se deve tocar em arco-íris antes do registro fotográfico
Pois eu toco e nem tiro retrato
Bocejam para mim nessa grita mouca de história
não durmo enquanto bocejam
me contamino, contaminam-me eu já vacinado
estaciono no posto de troca de sangue
Completa! São sangues adulterados

Todo dia, toda hora, todo segundo
cobrado, cobrador
a favor e contra - contra a favor
Nem duas coisas nem dez, milhões
nada, tudo
É que nada e tudo ocupam o mesmo espaço
É que alguma coisa muda para se manter
É que alguma coisa é nada para ser tudo
É que, quando parece, é, ou não! (é?)

São 500 ladrões honestos no parlamento
São milhões de cães suspeitos no lamento da rua
Respeitáveis na luta para dar de comer a dúvida regada à certeza
Á dívida da nação à natureza
Cães suspeitos enrolados pela língua do discurso

Nesses mais de cinco séculos de correrias e de cinismos
Quinze mais treze pode ser vinte e oito, portanto nada que me interesse
Nem as partes, nem seu resultado que faz mal
A soma das mentiras não altera a ordem da verdade
Para essa locução da coisa pública, no dog center eu insisto: au, au, au!

Minha história sempre entra por uma porta e sai pela outra
Quem quiser que o mundo desacabe que conte outra
Quem não quiser que permaneça no estado em que se encontra
Que eu proclamo o resultado
Sem ponto final nem curtição

quinta-feira, 23 de abril de 2015

HISTÓRIAS DE TARAUACÁ: a Revolução Acreana e o tenente Luiz Sombra

O texto abaixo foi retirado do livro “Dez anos no Amazonas (1897-1907)”, capítulo XII, escrito pelo paraibano de Patos Alfredo Lustosa Cabral (1883-1960), publicado pela primeira vez em 1949, com uma segunda edição em 1984, sob os auspícios do então senador Jorge Kalume. Alfredo viveu esses dez anos no Seringal Redenção, no Alto Tarauacá, que era propriedade de seu irmão Silvino Lustosa Cabral. Esse relato é interessantíssimo pela riqueza de detalhes, lugares e personagens a que se refere o autor. É um trabalho como poucos para a história de Tarauacá.
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Com a notícia das vantagens de Redenção, o povoamento se intensificou de rio acima, por toda parte. O cearense atrevido assenhoreou-se até às cabeceiras. Alguns deixaram a vida naqueles confins de mundo em troca de umas quinze ou vinte curvas do rio já transformado em igarapé. Pouco importava que morressem, outros lhes iriam suceder. Era preciso engrandecer, dilatar a superfície da Pátria e assim evitar que o peruano surgisse pela divisão das águas no Urubamba e se apossasse primeiro. Por isso morria um e chegava cinco para o substituir.

Para um aumento de revezes estourara no rio Acre a luta do seringueiro com a Bolívia, encabeçada por Plácido de Castro. O governo cruzou os braços sem o menor auxílio, sem enviar pelo menos um paneiro de farinha e uma saca de açúcar para a chibé daquela gente.

As praças de Manaus e de Belém, que tinham seus capitais espalhados naquele rio, viram-se forçadas a socorrer e ajudar, clandestinamente, com munição de boca e guerra o seringueiro que, num ímpeto de rebeldia cívica, insurgira-se não consentido o estrangeiro tomar pé em suas terras.

A luta agravara-se de mais a mais com tendência a periclitar a situação dos brasileiros ou melhor dos cearenses.

Plácido de Castro vendo as coisas um pouco turvas enviou ao Tarauacá um emissário com poderes de requisitar forças dando patente de capitão para os donos de seringal que conduzissem pelo menos vinte homens.

Todo o rio acelerou-se, todo mundo queria ir.

Meu irmão e outros proprietários trataram de organizar elementos combatentes para seguirem à linha de frente.

Íamos sair quando chegou outro emissário para comunicar que as hostilidades haviam cessado com a rendição incondicional dos bolivianos.

Fato curioso é que, naquela época, segundo ouvi dizer – não tenho certeza –, esteve também por lá o “colega” Getúlio Vargas (colega na idade e na espingarda) incorporado às forças do coronel Antônio Olímpio da Silveira,  veterano da Guerra de Canudos, de Antônio Conselheiro, na Bahia. Entretanto os batalhões do coronel não tomaram parte na ativa durante os combates da revolução acreana. Ele, o coronel, lá esteve, de fato, mas para garantir a ordem e as fronteiras.

(justifico chamar Getúlio Vargas de “colega”, porque também estive incorporado a um batalhão de seringueiros, no rio Tarauacá, quando chegaram as notícias da rendição dos bolivianos a 24 de Janeiro de 1903.)

Terminada a guerra, os combatentes proclamaram a independência do rio em República Acreana. Adotaram um pavilhão como símbolo da Pátria e outras coisas mais.

Posteriormente, foi o litígio resolvido a favor do Brasil pela sábia diplomacia do Barão do Rio Branco.

O Governo Federal constituía-se senhor das terras em questão, que dali por diante nem eram República Acreana nem tampouco pertenciam mais ao Estado do Amazonas, e sim ao Brasil. O grande Estado protestou o ato do Governo Federal e constituiu Ruy Barbosa, como advogado. Este abandonou a questão tempos depois.

Ficou criado o Território do Acre com jurisdição própria, independente, abrangendo o Alto Purus, o Juruá e seus tributários com área de cento e noventa e dois mil quilômetros quadrados, conforme dados geodésicos feitos posteriormente, delimitado por uma reta que partia do Rio Abunã, afluente do Madeira, às cabeceiras do Javary. Foram criados os departamentos do Alto Acre, Alto Purus e Alto Juruá. Neste último foi inaugurada, na foz do rio Moa, a cidade de Cruzeiro do Sul, tendo como prefeito o General Gregório Thaumaturgo de Azevedo, que nomeou os tenentes do exército, Guapindaia, delegado do Juruá, e Luiz Sombra, do Tarauacá, com atribuições de resolverem todos os problemas atinentes ao policiamento e negócio dos rios.

Em todos os seringais encontrava-se uma autoridade investida de poderes – o inspetor de Quarteirão. Coube a mim, em Redenção, esse belo emprego. Todas as brigas e encrencas, que surgiam, eram resolvidas pelo Inspetor que, depois, dava conta ao “tenente” dos ocorridos em sua circunscrição.

Desempenhei o cargo por espaço de um mês, passando o exercício a outro.

O Sombra pintou horrores – prisões violentas, humilhações –, causando vexames aos tímidos. Muitos, ao ter notícia de que ele vinha pelo rio, fugiam para o mato. Viajava o delegado em batelão com três soldados apenas.

Quando voltava do alto rio, conduzia dez, doze criminosos para Cruzeiro do Sul.

Andava à paisana. Passando, certa vez, no porto da barraca de um seringueiro, onde o rio era entupido de paus e a custo a canoa passava, desviando-os, o Sombra ralhou áspero com o mesmo por não conservar o rio limpo nesse local.

O seringueiro respondeu-lhe que não era fiscal de rio. Pouco estava se incomodando com o seu entupimento. – Você sabe com quem está falando? Não, porque nesse rio está andando muito vagabundo, respondeu o seringueiro.

O tenente não deu palavra, tocou de rio acima. No primeiro barracão que encostou deu ordem ao Inspetor de Quarteirão para prender o sujeito. Na volta, quero-o preso, disse. O Inspetor foi sozinho à casa do revoltoso conversar sobre o assunto. Este declarou que não se submetia a ninguém.

Mas você desobedeceu à autoridade, aquele senhor é o tenente Luiz Sombra, falou o Inspetor! Não o conheço como tal, passou por aqui um indivídou sem farda agredindo-me, por isso reagi e reajo tantos apareçam, respondeu o seringueiro.

Quando o Sombra chegou, perguntou ao Inspetor: cadê o homem?

Está na barraca e não obedece a ninguém, respondeu. Disse que V. Sa. não estava fardado e o dono da casa era ele.

O tenente vestiu o dolman desceu com seus três homens. Chegando à barraca encontrou a mulher daquele valentão chorando.

Daí a pouco o seringueiro saiu do mato armado até os dentes, dizendo: – Agora reconheço que estou diante de autoridade. Baixou a boca do rifle e entregou-se à prisão.

O seringueiro conhecia a disciplina militar, havia sido soldado na campanha federalista do Rio Grande do Sul.

O tenente Sombra viu que aquele sujeito era de muita fibra.

Relaxou prisão.

Nesse tempo esteve em Redençã o padre Antònio Fernandes. Benzeu a igrejinha e celebrou missa.

Convidou-me, antes, para juadá-lo, respondi que não sabia. O sacerdote oficiou sem o sacristão... Não me envergonhei, pois, das cinquenta e tantas almas que se achavam ali presentes, não se tirava uma que desempenhasse a missão. Não houve batizado, confissão nem casamento. Ali não existia mulher, elemento esse indispensável em toda parte.

Era tio do general Juarez e do atual deputado Fernandes Távora, do Ceará.

Todo dinheiro que ganhava era para educar os sobrinhos. Falava bem a língua dos gentios.


CABRAL, Alfredo Lustosa. Dez anos no Amazonas (1897-1907). Brasília: Gráfica do Senado, 1984. p.53-55

domingo, 19 de abril de 2015

FALTA UM JURUNA NO CONGRESSO

José Ribamar Bessa Freire


Hoje, 19 de abril, Dia do Índio, protestos pipocam aqui e ali por todo o Brasil contra Proposta de Emenda Constitucional - a PEC 215 - que pretende transferir do Executivo para o Congresso Nacional o poder de demarcar terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação. Na prática, esta PEC inviabiliza a demarcação das terras que garantem não apenas a existência dos índios, mas também a qualidade de vida dos brasileiros que ficam assim desprotegidos no campo ambiental.

No início da semana, cerca de 1,5 índios participaram em Brasília da Mobilização Nacional e ao passarem diante do Congresso apontaram para o prédio suas flechas e bordunas, tocaram maracás e apitos, gritando "Fora PEC 215". Eles sabem que tal proposta coloca a raposa cuidando do galinheiro. Muitos deputados da comissão especial que analisou a PEC 215 foram financiados por empresas do agronegócio e da mineração, por madeireiras e bancos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

No Congresso, as raposas felpudas defendem descaradamente os interesses de quem financiou suas campanhas milionárias, algumas com mais de um milhão de reais. A bancada ruralista, fortalecida com a nomeação da senadora Kátia Abreu para o Ministério da Agricultura, já está decidindo sobre as terras indígenas, antes mesmo da votação da PEC, contrariando a Constituição de 1988. Do total de 988 terras indígenas, 323 estão sem qualquer providência e 146 ainda em estudos para identificar, segundo dados do COMIN/CIMI.

Bancada da flecha

No Congresso Nacional é possível encontrar bancadas de A à Z para defender todo tipo de interesse: a bancada do Agronegócio, do  BBB (Bala, Boi e Bíblia), do Cimento e até uma Frente Parlamentar em defesa dos Povos Indígenas, bastante combativa, mas até mesmo nela não é possível ouvir a voz solitária de qualquer índio. Não existe um só índio entre os 513 deputados e os 81 senadores, o que debilita e envergonha a democracia brasileira, considerando que os índios totalizam quase um milhão de pessoas, segundo o último Censo do IBGE.

Inexiste a bancada do arco e flecha. Na história do Brasil, o único deputado indígena foi Mário Juruna, filho de um chefe Xavante da aldeia Namunkurá (MT), que só começou a falar português aos 18 anos, quando entrou em contato com a sociedade regional de Barra do Garça. Ficou conhecido porque por onde andava levava um gravador que registrava o que diziam as autoridades, para mostrar que quase nunca cumpriam a palavra empenhada. Usava o gravador como detector de mentiras.

Filiado ao PDT do Rio de Janeiro, Juruna, eleito com o apoio de Darcy Ribeiro e Brizola, exerceu seu mandato na legislatura de 1983 a 1987. No Congresso, criou a Comissão Permanente do Índio e deu maior visibilidade aos problemas que enfrentavam os povos indígenas. Teve a coragem de denunciar publicamente o empresário Calim Eid que lhe ofereceu grana para votar em Paulo Maluf, candidato à eleição indireta à presidência da República.

No exercício de seu mandato, um dia Mário Juruna marcou audiência com o ditador de turno, general Figueiredo, para cobrar dele o não pagamento da dívida externa brasileira e as demissões do presidente da Funai e do ministro Delfim Neto - o gordinho sinistro. Nenhuma de suas reivindicações foi atendida. No Rio de Janeiro, na ausência de Brizola no Palácio Guanabara, Juruna sentou na cadeira do governador e "assumiu o poder" por duas horas, declarando que "índio não quer apito, quer o poder".

O único contato pessoal que tive com Juruna foi em julho de 1980, quando ele ainda não era deputado. Convidei o líder xavante à minha casa, depois do encontro dos índios com o Papa João Paulo II em Manaus. Lá, comentei que eu seria preso se desse uma porrada no ministro Mário Andreazza, mas se o autor fosse ele, Juruna, nada lhe aconteceria, uma vez que os índios eram considerados inimputáveis, o que só seria modificado em 2002 com a aprovação do novo Código Civil. Ele percebeu que eu estava brincando e riu, graças a Deus. Graças a Deus? 

O extermínio

Nos tempos bicudos em que o Rio de Janeiro manda para a Câmara de Deputados alguém do calibre intelectual e do estofo moral do Eduardo Cunha (PMDB, vixe, vixe), não há mesmo lugar para Mário Juruna. Maltratado por grande parte da mídia, ridicularizado por não falar o português como língua materna, folclorizado, Juruna não conseguiu ser reeleito e acabou morrendo em 2002 no ostracismo. De lá para cá, apesar de tentativas de alguns outros índios em diferentes estados brasileiros, ninguém mais foi eleito. Faz falta uma voz como a de Mário Juruna.

A voz do índio foi ouvida no plenário da Câmara e depois no Senado em duas sessões solenes realizada na última quinta-feira (16) em homenagem ao Dia do Índio. Além de Marina Silva e de parlamentares de diferentes partidos, ocuparam a tribuna Raoni, Aritana, David Yanomami, Sonia Guajajara, Neguinho Truká, João Tapajós, Lindomar Terena e outros. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, se pirulitou da sessão, que não foi transmitida ao vivo pela TV Camara, como é de praxe.

Hoje, o que ecoa, de forma dominante, no plenário do Congresso Nacional é a voz do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Paulo de Frontin (1860-1933), duas vezes senador e patrono da Engenharia Brasileira. Ele foi nomeado pelo presidente da República para presidir  as comemorações dos 400 anos do Brasil. No dia 4 de maio de 1900, abriu a Sessão Magna do Quarto Centenário, com um discurso inesquecível, que já citamos aqui em outras ocasiões, com a grafia da época.

"O Brasil não é o índio. Descoberto em 1500 pela frota portugueza, o Brasil é a resultante directa da civilização occidental, trazida pela immigração, que lenta, mas continuadamente, foi povoando o sólo (...) Os selvícolas, esparsos, ainda abundam nas nossas magestosas florestas e em nada differem dos seus ascendentes de 400 anos atrás; não são nem podem ser considerados parte integrante da nossa nacionalidade; a esta cabe assimilá-los e, não o conseguindo, eliminá-los”.

O espantoso é que essa não era a voz de um zé mané qualquer. Era a voz de um político, que foi senador e prefeito da capital da república. O alarmante é que ele não falou isso num bate-papo em um boteco, mas num discurso oficial, em meu e em teu nome, para celebrar os 400 anos da pátria. É isso que a PEC 215 quer fazer com os índios: assimilá-los e não conseguindo, eliminá-los. Tudo isso, para abocanhar as terras indígenas. Resta saber se o Brasil vai permanecer calado diante desse crime.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

ANTROPOCENO: A ÉPOCA GEOLÓGICA DO HOMEM (I)

Evandro Ferreira


Se a história geológica de 4,57 bilhões de anos do nosso planeta fosse condensada em 24 horas de um dia, o homem moderno iria surgir apenas quando faltassem três segundos para a meia noite. Essa breve presença passa a impressão enganosa de que o papel do homem na história do planeta é a de um mero coadjuvante sem maior importância.  Entretanto, a verdade é que o homem, nesses poucos segundos de sua existência geológica, tem influenciado de tal forma as condições naturais do nosso planeta que uma nova época geológica foi proposta para acomodar as mudanças patrocinadas por ele: o Antropoceno ou ‘época da humanidade’.

O termo Antropoceno, uma junção das palavras gregas anthropo-, que significa humano e –ceno, que significa novo, foi originalmente proposto pelo pesquisador americano Eugene Stoermer no início da década de 1980 para se referir aos impactos causados pelas atividades humanas sobre o planeta.  Entretanto, a popularização do termo ocorreu graças ao ganhador do prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen. Durante uma conferência científica realizada no México em 2000, depois de ouvir repetidas vezes o presidente do evento se referir à época geológica atual como sendo o Holoceno, iniciada 11 mil anos atrás com o fim da última era glacial ou idade do gelo, Crutzen pediu a palavra e, no calor do momento, afirmou “Precisamos parar com essa história. O Holoceno já ficou para trás. Agora estamos no Antropoceno!”

Para Crutzen era evidente que as mudanças em curso no planeta estavam sendo promovidas pelo homem e não por forças naturais, como as que caracterizam as demais eras, períodos e épocas da história geológica do planeta. Em síntese, a influência das atividades humanas na atmosfera terrestre nos últimos séculos tem sido tão significativa que poderia se constituir em uma nova época geológica. A formalização e o desenvolvimento do conceito de Antropoceno foram explicados por Crutzen e Stoermer no artigo “O Antropoceno”, publicado no ano de 2000 na revista Global Change Newsletter, e por Crutzen, em 2002, no artigo “Geologia da Humanidade” publicado na conceituada revista científica Nature.

É importante considerar, entretanto, que antes de Stoermer e Crutzen, outros autores já haviam abordado os efeitos das atividades humanas sobre a história geológica do planeta. Em 1873 o geólogo italiano Antonio Stoppani cunhou o termo ‘Era Antropozóica’ como sucessora da Era Cenozóica, usando como argumento o aparecimento do homem e as mudanças que ele estava promovendo no planeta.  Em 1879 o geólogo norte-americano Joseph Le Conte sugeriu o nome ‘Psicozoico’. Em 1926 o antropólogo Francês Teilhard de Chardin e o geoquímico russo Vladimir Vernadsky propuseram o termo ‘Noosfera’, por considerar que o poder intelectual humano gerou efeitos que poderiam ser considerados uma força geológica. Mais recentemente, em 1992, o americano Andrew Revkin utilizou o termo ‘Antroceno’ para justificar o fato de a era geológica atual estar sendo moldada pelo homem. Em 1999 o termo ‘Homogenoceno’ foi usado pelo biólogo sul-africano Michael Samways, que argumentou que na atualidade a biodiversidade está diminuindo e os ecossistemas no planeta estão se tornando mais similares.

Embora a adoção do termo Antropoceno pela comunidade científica, considerado tecnicamente mais apropriado, seja quase consensual, a sua inserção na ‘Escala de Tempo Geológico’ oficial pela Comissão Internacional de Estratigrafia da União Internacional de Ciências Geológicas ainda não se concretizou. Esperava-se que isso tivesse acontecido durante 34°. Congresso Internacional de Geologia realizado em 2012 na Austrália, mas não se concretizou. A esperança é que isso aconteça em 2016, durante o 35º Congresso Internacional de Geologia a ser realizado na África do Sul. Sobre essa situação, Paul Crutzen e Christian Schwägerl, um jornalista especializado em assuntos ambientais, afirmam textualmente, em artigo publicado em 2011, que “É uma pena que ainda estejamos vivendo oficialmente em uma época chamado Holoceno. O Antropoceno – marcada pela dominação humana dos processos geológicos, biológicos e químicos na Terra - já é uma realidade inegável. Há evidências de que a mudança de nome sugerida há mais de dez anos está atrasada. Talvez ainda demore um tempo até que o corpo científico responsável pela nominação de grandes períodos de tempo na história da terra - Comissão Internacional de Estratigrafia – se convença da necessidade da mudança. Mas isso não deve nos impedir de ver e aprender o que significa viver nesta nova época do Antropoceno em um planeta que está sendo antropizado em alta velocidade”.

Outro aspecto inconcluso sobre o Antropoceno é a data de seu início. A opinião de alguns estudiosos situa o início dessa nova época geológica entre o final do século 18 e os anos de 1950. O limite temporal mais antigo coincidente com o aperfeiçoamento da máquina a vapor por James Watt, e é considerando como o marco inicial da revolução industrial que promoveu um aumento significativo na quantidade de CO2 e outros gases causadores do efeito estufa na atmosfera do planeta. No século 20 a queima de combustíveis fósseis para a geração de energia para abastecer o parque industrial crescente no planeta só intensificou esse processo. O segundo limite temporal está relacionado com a intensificação dos testes nucleares atmosféricos a partir da década de 50. Testes nucleares, como ressalta David Grinspoon, curador de astrobiologia do Denver Museum of Nature & Science, produzem assinaturas isotópicas e de estruturas geológicas que não podem ser interpretadas de outra forma. Outras opiniões situam o início do Antropoceno no início do Holoceno, há cerca de 8 mil anos, por ocasião da disseminação da agricultura. Essa disseminação resultou no desmatamento em várias regiões do planeta e causou um aumento de CO2 na atmosfera que evitou a ocorrência de uma nova era do gelo. Alguns cientistas sugerem o início em meados do século 20, a partir da aceleração do crescimento populacional no planeta e o consequente aumento do consumo predatório de recursos naturais.

Independente das discussões acadêmicas que tentam determinar a data exata do início dessa nova época geológica, o certo que poucos argumentos podem negar que o ser humano se tornou um agente geológico capaz de causar mudanças marcantes no planeta, da mesma forma que vulcões e asteroides o fizeram no passado. Aceitar esse fato é fundamental porque poderá fazer com que nós possamos refletir e reformular o real papel que desempenhamos no planeta. Um editorial da revista Nature de março de 2015 coloca números preocupantes: desde o final da segunda guerra a população mundial aumentou 180%, o uso de água 215% e o consumo de energia 375%. A revista advoga para que a Comissão Internacional de Estratigrafia insira o Antropoceno na escala geológica oficial porque isso encorajaria uma atitude mental da população importante não apenas para compreender as transformações que estão em curso no momento, mas também para saber como agir para manejar a situação.


Para saber mais:
Araia, E. 2011. ‘Bem vindo ao Antropoceno’. Revista Planeta, 470. Disponível em: revistaplaneta.terra.com.br/secao/reportagens/bem-vindo-ao-antropoceno
Crutzen, P. J. e Stoermer, E. F. 2000. ‘The ‘Anthropocene’. Global Change Newsletter, v.41, p. 17.
Crutzen, P. J. 2002. ‘Geology of mankind’. Nature, v.415 (6.867), p. 23.
Martini, B. 2013. ‘The Anthropocene: Humankind as a Turning Point for Earth’. Astrobiology Magagzine. Disponível em: www.astrobio.net/interview/the-anthropocene-humankind-as-a-turning-point-for-earth
Martini, B. e Ribeiro, C. G. 2011. ‘Antropoceno: a época da humanidade?’ Ciência Hoje, v.48, n.283, p.38-43.
Nature Magazine. 2015. ‘Editorial: All in good time’. Nature, v.519, p.129–130. Disponível em: http://www.nature.com/news/all-in-good-time-1.17074
Zalasiewicz, J. et al. 2008. ‘Are we living in the Anthropocene?’ GSA Today, v. 18 (2), p. 4.
Zalasiewicz, J. et al. 2010. ‘The new world of the Anthropocene’. Environment Science & Technology, v.44 (7), p.2.228.

terça-feira, 14 de abril de 2015

ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS INSTITUI A "MEDALHA DO MÉRITO CULTURAL J.G. DE ARAÚJO JORGE"

O poeta Mauro Modesto, presidente da Academia dos Poetas Acreanos, publica, na data de hoje, resolução assinada no dia 2 de abril, instituindo a medalha cultural “J. G. de Araújo Jorge”.

ACADEMIA DOS POETAS ACREANOS
(Fundada em 10 de abril de 2010)
Filiada à Confederação das Academias de Letras e Artes do Brasil e à Federação das Academias de Letras e Artes do Estado do Rio de Janeiro

RESOLUÇÃO Nº 01, de 02 abril de 2015
Cria a “Medalha do Mérito Cultural J. G. de Araújo Jorge” e dá outras providências. 
J. G. de Araújo Jorge nasceu em 20 de maio de 1914, na cidade de Tarauacá, Estado do Acre. Poeta, jornalista, político, orador e professor. Conhecido como o “Poeta do Povo e da Mocidade”, por sua mensagem social e política e obra lírica, impregnada de romantismo moderno, às vezes dramático. Um dos poetas mais lidos de sua época e, talvez por isto mesmo, o mais combatido do Brasil. Faleceu em 27 de janeiro de 1987.

O presidente da Academia dos Poetas Acreanos, no uso de suas atribuições, RESOLVE:

Art. 1° - Instituir a “Medalha do Mérito Cultural J. G. de Araújo Jorge”, a ser conferida aos autores de obras literárias, artísticas, educacionais e científicas, reconhecidas como real valor, ou a quem tenha contribuído, por outros meios, de modo eficaz, para o enriquecimento, a difusão e defesa do patrimônio histórico e cultural do Estado do Acre ou do Brasil e do mundo.

Art. 2° - A medalha portará a imagem de J. G. de Araújo Jorge e o brasão da Academia dos Poetas Acreanos.

Art. 3° - A medalha acompanhará o diploma assinado pelo presidente da Academia.

Art. 4°- A concessão da medalha é da competência da diretoria da Academia dos Poetas Acreanos, mediante resolução.

Parágrafo único - A resolução da APA far-se-á acompanhar de um resumo do curriculum vitae do agraciado.

Art. 5° - A entrega da medalha será feita em ato solene, presidido pelo presidente da Academia dos Poetas, que poderá se fazer representar pelo vice-presidente ou por um membro da diretoria, por ele credenciado para esse fim.

Art. 6° - Não é devido emolumento ou ônus de qualquer natureza pela concessão da “Medalha do Mérito Cultural J. G. de Araújo Jorge”.

Art. 7° - Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 8° - Revogam-se as disposições em contrário.


Rio Branco, 02 de abril de 2015

Mauro D’Ávila Modesto da Costa

Presidente da Academia dos Poetas Acreanos – APA

Série CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE DJALMA BATISTA

HOMENAGEM AO DR. ASSIS VASCONCELLOS PELOS ESTUDANTES ACREANOS DA CAPITAL AMAZONENSE


Das homenagens que foram prestadas ao Dr. Assis Vasconcellos, honrado Interventor Federal do Acre, quando de sua passagem pela capital amazonense, destacamos a que foi feita pelos estudantes acreanos, da qual foi orador oficial, o inteligente seabrense – Djalma Accioly da Cunha Batista, cujo vibrante discurso publicamos abaixo:


“Sr. Interventor Assis Vasconcellos.
A mocidade estudantil acreana, em Manaus, vem trazer-vos as mais expressivas e sinceras homenagens.

Na vossa pessoa de lutador em prol de nossa terra gloriosa e querida, para cujo governo interventorial foste em boa hora escolhido, escarna-se neste momento, todo o nosso Acre, que está esquecido, mas nunca, jamais derrotado.

A epopeia verdadeiramente heroica que culminou com o 17 de Novembro de 1903, quando o gênio de Rio Branco, o imortal chanceler, fez valer os direitos do Brasil à região acreana, no tratado de Petrópolis, essa epopeia não foi senão o prólogo de outra que se processou nestes trinta anos que se sucederam.

A nossa história, portanto, tem no Acre uma fonte de heroísmo e de glórias. Para a imortalidade, foi lá que ecoaram por todo o Brasil, os nomes e os feitos imarcessíveis de Plácido, o caudilho indomável e invencível; de Antunes Alencar, de Clínio Tavares Brandão, de Francisco Mangabeira, de Epaminondas Jácome e de tantos outros. O desbravamento do rincão mais moço do Brasil é outra página fulgurante no desenrolar da nossa civilização.

Descendentes que somos desse pugilo de bravos, nós também nos capacitamos nas maravilhosas pugnas pelo saber, para continuarmos amanhã a obra que os que mourejam no Acre realizam com coragem, denodo, patriotismo e sacrifício.

O vosso encontro com a autoridade suprema do país, o Sr. Presidente Getúlio Vargas, dentro em breves dias, faz descortinar um horizonte muito amplo, límpido e estrelado para a nossa gleba.

O Acre não pede favores.

Reclama o que tem direito.

Que o governo federal nos proporcione algo dos milhões que arrecadou proveniente da nossa borracha, da nossa castanha e dos nossos outros produtos, para que possamos reerguer, mostrar que no Acre há possibilidades e há realizações.

De que nos serve o Acre como está, com um governo sem a necessária independência de ação, que só a autonomia pode dar; com insignificantes doações orçamentárias?

Precisamos de navegação eficiente e acessivo; precisamos de braços novos, de corrente migratória intensas, de quem vá, garantido pelo poder público, como se fez nos Estados do Sul, explorar as nossas riquezas, amanhar o solo, agricultar as nossas terras, desenvolver a pecuária; precisamos de médicos, de higienistas, de remédios para o saneamento da região e a fim de que, restaurando o físico, seja levantado o moral de nossa gente; precisamos de técnicos que venham organizar as nossas indústrias; precisamos de escolas e de ginásios para que neles os acreanos se instruam e se eduquem suficientemente, dilatando a sua visão, que só o contemplar da imensidade das nossas selvas, torna limitada, estreita; precisamos, sobretudo, salvar a borracha, manufaturando-a aqui mesmo para o abastecimento do Brasil e desafixia do nosso comércio honrado.

Tudo isso vós o sabeis, há de se fazer mais cedo ou mais tarde. O Acre há de ter a sua autonomia, há de receber o que lhe é devido; há de solucionar todos os problemas de magna importância.

A mocidade estudantil acreana, em Manaus, tem certeza, porém, que sabereis defender o Acre e o seu povo, está convicta que conhecereis precisamente as nossas necessidades.

E por essa razão vos considera talhado para pleitear e conseguir do Sr. Presidente Getúlio Vargas, tudo que o Acre precisa.

Aceitai, portanto, os nossos saudares, com a expressão verdadeira e eloquente da nossa afeição, da nossa amizade e do nosso amor para com a gleba em que se nos descerraram as pálpebras no primeiro momento de nossa existência, e como o testemunho espontâneo, e sincero, do nosso respeito, da nossa admiração e da nossa solidariedade com a pessoa do preclaro e digno Interventor Assis Vasconcellos.

Jornal A Reforma, 22 de outubro de 1922 (Num. 733, Ano XVI)