segunda-feira, 30 de abril de 2018

TARAUACÁ: HISTÓRICO DO JORNAL A REFORMA

A REFORMA
Bruno Brasil
1.ª edição de A REFORMA
Lançado em 12 de maio de 1918, A Reforma era um jornal voltado principalmente para as questões políticas, econômicas e sociais do Território do Acre, região em que circulou durante 36 anos. Foi fundado na Vila Seabra (atual Tarauacá), localidade situada na Foz do Rio Murú que servia de sede ao então Departamento do Tarauacá – uma das divisões administrativas do antigo território federal do Acre.

Ligado ao Partido Republicano do Tarauacá, o jornal se envolveu intensamente nas disputas políticas locais. Na época essas disputas eram polarizadas pelas facções lideradas por José Thomaz da Cunha de Vasconcellos e Raphael Gondim, aos quais A Reforma fazia ferrenha oposição e acusava de corrupção, e, de outro lado, chefes políticos como os coronéis Antônio Frota Menezes e Júlio Pereira Rocque, Pires Rebello e Galdino Ramos. Grande parte do noticiário político era dedicada a denúncias das irregularidades cometidas pelos inimigos políticos, quando o jornal estava na oposição, e a elogios e homenagens, quando o grupo a que era ligado estava na situação.

Publicado aos domingos em tamanho standard (45 cm x 30 cm, aproximadamente), o jornal tinha de quatro a seis páginas por edição, cada uma com cinco colunas de texto e imagens esparsas. O exemplar custava 1$000, com assinaturas semestrais e anuais a 20$000 e 30$000, respectivamente. A redação ficava na rua Cel. Juvêncio de Menezes, sem número. Em fevereiro de 1919, A Reforma mudou sua sede para um prédio maior, na mesma rua Juvêncio de Menezes, onde antes funcionava o antigo Fórum da cidade.

As razões para a fundação de A Reforma foram anunciadas no primeiro número:

A crise social que atravessamos no Departamento [de Tarauacá] estava exigindo a instituição da bôa imprensa, severa nos principios, digna na linguagem, elevada nas aspirações, serena nos intuitos, superior no objectivo. Comprehendendo essa necessidade (...), foi resolvida a creação da A Reforma, que adopta como programma: trabalhar, empenhando a melhor vontade indo até o sacrifício, pelo aperfeiçoamento moral, progresso e engrandecimento material do Departamento. O raio de acção do nosso jornal ha de estender-se a todas as manifestações da actividade humana, nos diversos desdobramentos da vida politica, administrativa, commercial e agricola do Departamento.

Também nesse número o jornal homenageava o coronel Antonio Frota Menezes, ex-governante local, e publicava o termo de contrato celebrado entre o coronel Julio Pereira Rocque, dirigente do Partido Republicano de Tarauacá e prefeito substituto do Departamento do Tarauacá, e José Florêncio da Cunha, para o arrendamento do material tipográfico da prefeitura.

José Florêncio da Cunha, fundador e primeiro diretor.
Entre as questões locais cobertas pelo jornal, sobressaem os problemas locais de fronteira, os obstáculos ao desenvolvimento da região, a reforma administrativa de 1920, as relações do antigo território com o governo central, as questões amazônicas, a migração de populações nordestinas para a região, em especial durante o ciclo da borracha ou ainda os congressos seringalistas locais, o primeiro dos quais foi realizado em maio de 1928.

No plano nacional, o jornal se engajou, em 1919, na candidatura de Rui Barbosa para a presidência da República, após o falecimento de Rodrigues Alves. Em 1930 apoiou a revolução liderada por Getúlio Vargas e a nomeação de Francisco de Paula Assis Vasconcellos para interventor no Acre.

O jornal também publicava textos literários, crônicas elegantes, colunas sociais, atos oficiais, homenagens, chegadas e partidas de figuras ilustres à cidade, editais públicos, retratos, circulares de empresas locais, crônicas esportivas, obituários, natalícios, noticiário policial, anúncios, entre outros assuntos. A partir de 28 de setembro de 1919, A Reforma começou também a publicar folhetins.

Colaboram em A Reforma Mathias Olympio de Mello, Raymundo Belfort Teixeira, Levy Saavedra, Plácido Barbosa, Júlio Dantas, Hermes Fontes, Marques Sobrinho, Ayres dos Reis, Godofredo Maciel, Péricles Moraes, Guerra Junqueiro, José Hygino, Leoni de Sá, Sansão Gomes, João Pinheiro, Barbosa Vianna, Bruno de Seabra, Ricarêdo de Góes, R. Relvas, Fran Valme, W. Valle Mello, Mar de Physa, Armando Gonçalves, Alberto Moreira, Joaquim Maria Ruella, Tabajara, José Potyguara da Frota e Silva, Benedicto Bellem, Leonardo Motta, Berillo Neves, Coelho Neto, Júlia Lopes de Almeida, Rui Barbosa e Mendes Fradique, entre muitos outros.

Francisco Ângelo Silveira gerenciou o jornal por seis anos. Nos últimos anos do periódico a figura forte era o tenente Gualter Marques Baptista, identificado em alguns momentos como um de seus fundadores e também como editor ou principal redator.

Em 1920, o jornal adquiriu o equipamento tipográfico usado pelo jornal O Cruzeiro do Sul, que circulava na região do Alto Juruá, e devolveu à Prefeitura as máquinas arrendadas desde a sua fundação. Na segunda metade da década de 1920, A Reforma se encontrava em nova sede, na rua Cel. João de Paiva, na Praça Plácido de Castro. Em janeiro de 1931, passou a ser dirigido por Júlio Pereira Rocque. Em 25 de junho de 1933, Júlio Pereira Rocque deixou a direção, que passou a Manoel Vieira da Cunha como seu “diretor político” e José de Sá Barreto, antigo chefe das oficinas tipográficas, como “editor-gerente”.

Segundo Rauana Batalha Albuquerque, em “De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920)”, o jornal deixou de circular em 1934. A última edição data de 25 de novembro de 1934.
Última edição de A REFORMA
Fontes
1. ALBUQUERQUE, Rauana Batalha. De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920). In Anais do SILEL. Volume 1. Uberlândia: EDUFU, 2009.
2.Tarauacá. IBGE Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 . Acesso em 30 jul. 2012.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

TARAUACÁ: CAPITÃO HIPÓLITO DE ALBUQUERQUE E SILVA

Atingido pela compulsoria, prevista pelo art. 156, letra D da nova constituição da República, foi a 7 do cadente afastado do cargo de Prefeito deste Município, com grande prejuízo para a administração pública municipal, o venerando e honrado cidadão cujo nome encima estas linhas.

Indicado pelo integérrimo e ilustrado Desembargador José Martins de Souza Ramos, ao tempo Juiz de Direito desta Comarca, foi o Capitão Hipólito Silva nomeado Intendente Municipal, pela primeira vez, a 21 de Janeiro de 1922, pelo primeiro governador do Acre, sr. dr. Epaminondas Jácome, e neste cargo permaneceu até 10 de Março de 1923, data em que, licenciado, viajou com destino à Capital da República em visita a seu irmão, o sr. General Tertuliano Potyguara.

De regresso da viagem àquela Capital, S. S. reassumiu o governo Municipal a 26 de Dezembro do mesmo ano, ficando no cargo até 23 de dezembro de 1930 – 6 anos, 11 meses e 27 dias de exercício ininterrupto.

Depois, a 24 de setembro de 1934, o então Interventor sr. dr. José Castelo Branco Sobrinho, conhecendo também das excelsas qualidades que ornam o seu caráter sem jaça, o renomeou para administrar outra vez o Município, com o título, já, de Prefeito Municipal, tendo-se conservado neste cargo até o dia 29 de Junho de 1935.

Finalmente, a 15 de Julho do ano seguinte, foi S. S., pela terceira vez, reconduzido ao governo do Município do Tarauacá, por nomeação do Interventor sr. dr. Martiniano Prado, em cujo cargo permaneceu até agora, quando a compulsoria veio atingir o velho nobre servidor do Município, após 10 anos e 5 meses de efetivo exercício sem mácula, que de qualquer modo desdoure o seu respeitado nome de todos os tempos e de todas as fases da sua vida, quer pública, quer particular, tendo servido, portanto, a contento da maioria do povo do Tarauacá, com todos os Governadores e Interventores do Território do Acre.

Sua última nomeação data, conforme dissemos já, de 15 de Junho de 1936 e só no pequeno lapso de tempo destes últimos 17 meses de sua derradeira etapa administrativa, executou, no Município, os seguintes serviços de grande vulto: – abriu uma nova e excelente estrada ligando Seabra a Vila Feijó, no rio Envira, estrada esta elogiada até pelos seus próprios inimigos; reconstruiu quase totalmente o velho prédio do “Grupo Escolar João Ribeiro”, desta cidade; adquiriu, por compra, um moderno prédio onde se acham instaladas as Escolas Públicas em Vila Feijó; construiu na mesma Vila um mercado público com todos os requisitos de asseio; comprou, ainda, para essa mesma localidade, uma usina geradora de corrente elétrica, completamente nova, para a iluminação pública, a qual já está sendo montada; elevou os vencimentos de todo o funcionalismo público municipal; e, finalmente, além de outros serviços de atividade pública, criou a 30 de outubro pretérito uma escola noturna na Cadeia desta cidade e 12 outras mais, de uma só vez, em Março passado, por cujo ato, digno de menção, foi elogiado pela “Cruzada Nacional da Educação”, conforme se poderá ver na nossa edição de 14 de novembro último.

Como se vê, não foi o Capitão Hipólito Silva um ser nulo durante a sua vida pública de administrador deste Município, mas um probo e hábil administrador que muitos e relevantes serviços prestou a esta porção de terra da Pátria Brasileira.

Entrou para o governo municipal com algumas economias e saiu dele sem dinheiro algum. Está velho e pobre, é verdade; mas ninguém, absolutamente ninguém, poderá atribuir-lhe um deslize que possa porventura manchar a sua honorabilidade por todos conhecia e acatada. E a prova de sua honestidade está em ter servido com todos os Governadores e Interventores do Acre, fato, este, virgem na administração pública do Território.

O Capitão Hipólito Silva, não obstante entrado em anos, é ainda assim um homem aparentemente novo e forte, e, por consequência, apto a desenvolver sua preciosa atividade no comércio ou na indústria, a cujo serviço esteve durante toda a mocidade. Seu afastamento do cargo foi sinceramente lamentado pelos homens de bem deste Município, onde S. S. goza de merecido conceito e geral estima.


Jornal O MUNICÍPIO, Tarauacá-AC, 26 de dezembro de 1937, Ano XXVII, N.936. p.1
p.s. Hipólito de Albuquerque é o pai do escritor José Potyguara.

quarta-feira, 25 de abril de 2018

TARAUACÁ: HISTÓRICO DO JORNAL O MUNICÍPIO

O MUNICÍPIO
Bruno Brasil
1.ª edição de O MUNICÍPIO
Fundado e dirigido por Pedro Gomes Leite Coelho, o semanário O Município foi lançado em 28 de setembro de 1910 na localidade acreana de Villa Seabra, na confluência dos rios Murú e Tarauacá, onde atualmente se encontra a cidade de Tarauacá. Em 1910, Villa Seabra fazia parte do Departamento do Alto Juruá, uma das divisões geo-administrativas que havia no então Território do Acre até 1920, quando foram extintas.

Segundo o editorial da edição de lançamento, O Município foi o primeiro jornal das imediações do rio Tarauacá. Criado para defender os “interesses do Acre e de sua vila” e bastante aguerrido, o periódico defendia as iniciativas privadas do Tarauacá-Murú, bem como o conselho municipal que administrava Villa Seabra. Em geral, o jornal era legalista, opondo-se a revoltas locais de cunho político e destituições de governantes, algo comum no Brasil no início do século XX. Por isso o periódico foi contra o Movimento Autonomista do Acre, que pleiteava a sua transformação em estado (o que só ocorreria em 1962). Anos depois, no entanto, o jornal apoiaria a Revolução de 1930.

Como o seu próprio nome revela, o jornal era partidário da elevação de Seabra à categoria de cidade, algo que só aconteceria em 1920. O editorial da primeira edição já afirmava:

Municipio, sim; porque se não é já lei do paiz o projecto que o destina a isso, sel-o-a em poucos dias; e o nosso titulo é uma garantia para os tarauacaenses de que seremos incansaveis na sua defesa, trabalhando para o seu engrandecimento, mostrando aos altos poderes da Nação que temos direito de ser contemplados com maior somma no inventario da verba para o desenvolvimento material do Departamento, já que concorremos com grande importancia para o erário público.

O editorial anunciava que, “dentro da moral e dos bons costumes” e reconhecendo o papel da imprensa periódica como meio de instrução popular, o jornal aceitava colaborações escritas que tratassem de assuntos de interesse geral ou de literatura. Atos oficiais seriam apreciados com “discernimento; não lhes negaremos elogios, assim como não lhes regatearemos censuras”.

Nos primeiros anos, o semanário se posicionou fortemente contrário ao movimento revolucionário pela independência do Acre, que ocorreu de junho e setembro de 1910. Iniciado em Cruzeiro do Sul, capital do Departamento do Alto Juruá, o episódio é lembrado como a Revolta dos Cem Dias. Durante a revolução, o Acre foi governado provisoriamente por Antonio Antunes de Alencar e uma junta composta por integrantes do então Partido Autonomista – Francisco Freire de Carvalho, Mancio Lima e José Bussons. Um texto de Bezerra Filho, publicado no primeiro número, protestava contra a escolha de um intendente para o Tarauacá-Murú, feita “arbitrariamente, criminozamente” pela junta governativa revolucionária. Edições posteriores ainda tratariam dos desdobramentos negativos da Revolta dos Cem Dias e, mesmo com o fim do levante, o periódico continuava opositor aos governantes do Departamento do Alto Juruá. Pouco tempo depois, ainda se mostraria contrário à Revolta de Sena Madureira, em junho de 1912.

O jornal publicava artigos de opinião, crônicas, colaborações literárias, reivindicações públicas, atos oficiais (em alguns momentos), homenagens, notícias policiais, chegadas e partidas de figuras ilustres à vila, telegramas, textos da imprensa de fora do Acre, transcrições de discursos, textos a pedidos, colunas sociais, folhetins (a partir de julho de 1915), anúncios etc. Circulando em tamanho standard, com quatro páginas separadas em cinco colunas de texto, cada exemplar do jornal custava 1$000. Assinaturas anuais podiam ser feitas a 50$000.

Entre os principais temas abordados pelo semanário figuravam o desenvolvimento do Acre, o cotidiano da administração pública em Tarauacá, o projeto de Justiniano Serpa para a autonomia do Acre, a reorganização territorial acreana de 1912 (ver edição de 14 de abril deste ano), a instituição do regime municipal e a organização político-partidária no território federal acreano, atividades de clubes e associações na região do Tarauacá-Murú, questões comerciais locais, infraestrutura geral nos Departamentos do Acre, navegação na rede fluvial local (incluindo a ação da Liga Marítima Brazileira naquelas paragens), comunicação e serviço postal no Acre (ver a instalação do telégrafo no Tarauacá-Murú na edição de 22 de setembro de 1912), a economia da borracha, saúde pública, melhorias na educação local, questões jurídicas, as injustiças do governo central contra o Acre, o alto índice de criminalidade na região do Tarauacá-Murú, polêmicas entre figuras públicas locais, congressos seringalistas, política nacional, variedades na Villa Seabra, história, jornalismo, direitos da mulher, ciências e invenções, literatura e grandes literatos, notícias sobre outras cidades do interior acreano e sobre todo o Brasil, noticiário estrangeiro, etc.

Entre os colaboradores de O Município (muitos deles com matérias publicadas em jornais do Sudeste e reproduzidas pelo jornal) estavam Bezerra Filho, Sansão Gomes de Souza, Francisco de Assis Bezerra, M. Wergniaud da Rocha, Joaquim Gondim, Catulle Mendes, Quintela Júnior, Fernandes Távora, Francisco do Valle Mello, Lourenço Moreira Lima, Francisco Bayma, Gil Gonçalves, entre outros.

A notícia do desmembramento do Departamento do Alto Juruá em 1912 e da criação do Departamento do Tarauacá, tendo Villa Seabra como sede, foi publicada no dia 10 de novembro daquele ano. O jornal comemorou a libertação da “tutela do Cruzeiro do Sul, que pouco caso ligou na nossa menoridade”. O prefeito nomeado para o novo departamento, Antonio Antunes de Alencar, apesar de seu envolvimento com a revolta autonomista de tempos atrás, era visto com bons olhos pelo jornal. A instalação definitiva da nova divisão deu-se em 19 de abril de 1913. Nesse ano O Município tinha Rocha Brazil como redator-secretário e Ângelo Silveira como gerente de oficinas, além de Pedro Leite, o redator-proprietário. Embora sem ter seu nome no expediente, Henri Eugène Frossard era o subgerente do jornal.

Pedro Gomes Leite Coelho
Ainda em 1913, o semanário havia estabelecido um contrato com a prefeitura de Antunes de Alencar para a publicação de atos oficiais. Em novembro daquele ano, porém, passou a questionar o governo local sobre o destino de 520 contos de réis remetidos do Congresso Federal ao Departamento do Tarauacá. Com o fim do contrato com a prefeitura para a publicação de seus atos em dezembro de 1913, e a não-renovação por parte de Pedro Leite, Antunes de Alencar foi obrigado a adquirir equipamento tipográfico de Manaus para o lançamento de uma folha oficial, O Estado. Como insistisse em questionar o sumiço do dinheiro público federal em uma série de artigos, as relações do jornal com a prefeitura se tornaram mais tensas.

No dia 22 de fevereiro de 1914, O Município foi empastelado e só voltou a circular em 5 de agosto de 1914, quando denunciou o fato:

Queimaram O Município para evitar a analyse rigorosa e enérgica dos actos do governo desta Prefeitura, (...) na altura dos patifes, peculatarios e mashorqueiros que nos administravam, nós (...) procurávamos esclarecer a verdade e mostrar (...) a trilha aladroada palmilhada pelos aventureiros, vigaristas e fintadores audazes que conseguiram empolgar os cargos administrativos do Tarauacá. Foi naquela phase aguda, em que o Prefeito desviou cerca de 520 contos de réis, (...) que resolveu (...) mandar atear fogo á nossa redacção.

Segundo o jornal, o prefeito Antonio Antunes de Alencar, apontado como o responsável pelo ato de violência, havia forjado um boletim atribuído à própria prefeitura e responsabilizou o jornal por sua publicação. Após o ocorrido, Alencar abandonou o Departamento do Tarauacá com seu grupo, sendo substituído pelo primeiro subprefeito, o coronel Bento Annibal do Bomfim, o que possibilitou ao jornal a retomada da circulação.

Ao voltar a circular, em 5 de agosto de 1914, o jornal protestou contra José Vicente Assumpção, líder político local que teria ameaçado novamente o jornal, caso reaparecesse com a mesma linguagem. O semanário manteve a linhas de agressiva oposição a Antunes de Alencar e aos seus aliados – alguns ainda na cidade –, explorando o incêndio à sua sede e algumas vezes entrando em choque com o jornal O Estado. No plano nacional, o semanário demonstrava insatisfações com o governo Hermes da Fonseca e Pinheiro Machado, chefe do Partido Republicano Conservador (PRC). No expediente, na ocasião, o jornal passou a ter Benedicto Gil como seu editor-responsável e Henri Frossard como seu impressor, tendo ainda Angelo Silveira como gerente. Dizendo-se “órgão independente de maior circulação nesta zona territorial”, era impresso em máquina própria, uma “Reddish” a vapor.

Tendo considerado bom o governo de Annibal do Bomfim na prefeitura do Departamento do Tarauacá, entre o fim de 1914 e o primeiro semestre de 1915, O Município testemunhou a substituição de Bomfim por um desafeto, o coronel José Vicente Assumpção (oficialmente, Antunes de Alencar ainda era o prefeito em exercício). O jornal, no entanto, não fez oposição agressiva ao novo ocupante do cargo, mantendo tom crítico sem arroubos e acusações escandalosas. Ademais, o noticiário sobre a Primeira Guerra Mundial tomava boa parte de suas páginas, assim como a presença de Rui Barbosa na Segunda Conferência de Paz em Haia, na Holanda.

A situação do jornal veio a piorar com o poder local logo no início de 1916. Na edição de 2 de janeiro daquele ano, alertava:

Estamos ameaçados de um ataque á mão armada pela força publica desta villa, a disposição do Sr. José Vicente Assumpção, de mãos dadas com o sr. tenente que a commanda Manoel C. Victal Sobrinho, chefiados pelo sr. tenente-coronel Francisco Olympio, a quem o prefeito obedece cegamente. O publico sabe da ameaça á vida do director deste jornal feita no dia 19, quando vieram sete praças arrear o pavilhão nacional da fachada do edifício onde funciona a nossa typographia.

Nas edições seguintes, a partir de 9 de janeiro, criticava ferozmente o jornal oficial da prefeitura, O Departamento, “echo da mentira official”. A insatisfação duraria até abril de 1916, quando, no dia 9 daquele mês, revelou-se entusiasmado com a posse de José Thomaz da Cunha Vasconcellos na prefeitura do Tarauacá. O jornal era partidário não só do novo mandante, mas também do intendente municipal, Sansão Gomes de Souza. Enfim, O Município passava a ser um órgão que, ao menos aparentemente, não fazia oposição ao governo local. Naquele ano, a Campanha Nacionalista de Olavo Bilac e o candidato ao governo do Amazonas, general Gregório Thaumaturgo de Azevedo, do Partido Republicano Liberal do Amazonas, também foram apoiados em suas páginas.

O ano de 1917 foi turbulento para o jornal. A edição de 14 de janeiro foi confiscada e a do dia 16 publicou um grande espaço em branco na capa, contendo apenas o título “A prizão do nosso director, effectuada ante-hontem”. A mesma edição também comemorava a ascensão de Júlio Pereira Rocque ao cargo de 2º subprefeito do Departamento do Tarauacá.

Em meados de 1917, o jornal sofreu novo empastelamento e teve que interromper a circulação. Ao voltar a circular, apresentou novo formato (menor) e mais páginas (seis). O semanário destacava o seu reaparecimento, “glorificado” pela “alegria popular”. Durante boa parte do hiato na circulação, Pedro Leite esteve foragido em Manaus. A quebra na regularidade da circulação coincidiu com mais um período delicado vivido pela prefeitura local. Irregularidades na gestão do prefeito Cunha Vasconcellos fizeram com que fosse afastado do cargo em fevereiro de 1918, embora continuasse oficialmente em exercício. Também o jornal local A Reforma fez dura oposição ao prefeito, acusando-o de violência e desvio de verbas.

Segundo se pode depreender do noticiário e editoriais do jornal A Reforma, na década de 1920 O Município foi defensor do prefeito local Agnello de Souza, motivo de desavença entre os dois periódicos. Na década de 1930, a redação de O Município continuava com Pedro Leite como proprietário, diretor e principal redator, e com Henri Frossard como gerente. Ademais, era impresso nas oficinas de Frossard.

Demonstrando revolta pelo assassinato de João Pessoa no Recife, o jornal aplaudiu a Revolução de 1930, publicando diversos telegramas a respeito das mudanças de governo no Acre – ver, por exemplo, a edição de 2 de novembro daquele ano. Na edição de 22 de fevereiro de 1931, no entanto, o semanário queixava-se da censura prévia em suas edições, por ordem do interventor da revolução no Acre, Francisco de Paula Assis Vasconcellos (os jornais locais A Reforma e O Arraial também a sofreram). Em 4 de outubro, voltaria a se queixar, tanto pela censura, quanto pela construção de estradas consideradas inúteis no Acre. No geral, apesar de apoiar Getúlio Vargas, elogiando medidas diversas e repudiando a Revolução Constitucionalista de 1932, o pior do governo para o semanário eram suas atitudes em relação à imprensa (em 25 de setembro de 1932, o jornal fora intimado a mandar um representante à delegacia de polícia local).

A partir de 29 de novembro de 1931, Henri Frossard substituiu Pedro Leite na direção e na propriedade do jornal, acumulando ainda a gerência da publicação. Pedro Leite permanecia no cabeçalho apenas como fundador. No início de 1932, o jornal revelava passar por uma crise, o que também vinha ocorrendo em outros empreendimentos locais, vítimas da desvalorização da borracha no mercado externo.

Após o lançamento da edição 904, de 19 de fevereiro de 1933, a circulação foi suspensa temporariamente. O nº 914 é datado de 30 de maio de 1937, sugerindo um hiato de cerca de quatro anos. As edições de 1937 contavam com o retorno de Pedro Leite como diretor, com J. Barroso Duarte na gerência e Floriano Brasil como administrador de oficinas.

Segundo Rauana Batalha Albuquerque, no artigo “De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920)”, O Município foi extinto em 1937. A última edição pode ter sido a de nº 936, de 26 de dezembro de 1937.
Última edição de O MUNICÍPIO

Fontes
- Acervo: edições do nº 1, ano 1, de 28 de setembro de 1910, ao nº 328, ano 9, de 4 de agosto de 1918; edições do nº 762, ano 21, de 5 de janeiro de 1930, ao nº 904, ano 24, de 19 de fevereiro de 1933; e edições do nº 914, ano 25, de 30 de maio de 1937, ao nº 936, ano 27, de 26 de dezembro de 1937.
- ALBUQUERQUE, Rauana Batalha. De Bilac a Xisto: Manifestações poéticas nos jornais tarauacaenses (1900-1920). Anais do SILEL. Vol. 1. Uberlândia: EDUFU, 2009.
- BRYAN, Samuel. O sonho da autonomia acreana. Agência de Notícias do Acre. Disponível em: http://www.agencia.ac.gov.br/index.php/noticias/acre-50/19852-o-sonho-da... Acesso em 8 ago. 2012.
- NEVES, Marcos Vinícius. 1910 – A Revolta dos Cem Dias. Disponível em: http://www.jorgeviana.com.br/index.php?option=com_content&view=article&i... Acesso em 7 ago. 2012.
- Tarauacá. IBGE Cidades. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em 7 ago. 2012.

segunda-feira, 23 de abril de 2018

VILA SEABRA (TARAUACÁ): ATA DA INSTALAÇÃO E INAUGURAÇÃO


O texto, a seguir, foi retirado de O Cruzeiro do Sul, jornal oficial da Prefeitura de Cruzeiro do Sul, Acre, publicado no dia 3 de fevereiro de 1907 (Ano II, N.30). Traz-nos informações relevantes do início da história político-administrativa de Tarauacá. O seringal Foz do Muru foi elevado à categoria de Vila em 1.º de janeiro de 1907, com o nome de Seabra, integrado ao Departamento do Alto Juruá, pois o Departamento do Tarauacá só seria criado em 1912. A Vila tornar-se-ia cidade, e sede do Departamento do Tarauacá, em 24 de abril de 1913.
Tarauacá, 1919
VILA SEABRA
Inauguração                                                                                                                      

Escrevem-nos:
“Na foz do Muru foi inaugurada no dia 1 de janeiro a vila Seabra, em um terreno de 250.000 metros quadrados, cedido à Prefeitura, sem o menor ônus, pela firma J. V. de Menezes & Filho, proprietária do seringal Novo Destino.
Em um almoço que se realizou no dia 24 de Dezembro na casa de residência dos Srs. Coronel Juvêncio Victorino de Menezes, oferecido ao Prefeito, aqueles comerciantes ofereceram gentilmente o referido terreno, para a criação da vila, procurando assim promover o desenvolvimento do Tarauacá.
Resolvida a criação da vila, que viria a tomar o nome do eminente estadista José Joaquim Seabra, o Prefeito designou o dia de Ano Novo para a sua inauguração, que se revestiria de toda a solenidade.
Para esse ato era preciso derrubar parte da espessa floresta da margem esquerda do rio Tarauacá, na foz do rio Muru, em uma belíssima terra firme, que se prolonga em planície até grande distância, e imediatamente vários proprietários, entre os quais os concessionários do terreno, o Sr. Raymundo Costeira e o Sr. Coronel Ramiro Chaves, ofereceram o pessoal necessário para a derrubada.
Esse penoso serviço foi iniciado, entrando em ação cerca de 30 homens, pondo abaixo árvores enormes, com muita dificuldade, até que, com admiração geral, no fim de quatro dias, já estava aberta a avenida principal, numa largura de oito metros, a qual começa ao lado do edifício do Posto Fiscal e vai até a terra firme, desembocando numa grande praça, que também ficou pronta e até destocada.
Todo esse serviço foi fiscalizado em pessoa pelo Prefeito, que teve como seu auxiliar o engenheiro Dionysio Dantas, que prestou gentilmente relevantes serviços.
Em meio da avenida, que o Prefeito deu o nome de D. Constância, onde passa um igarapé, aquele engenheiro construiu uma ponte de paxiúba, trabalho que foi muito elogiado pela sua segurança e bem acabado.
A praça, onde vai essa avenida desembocar, o Prefeito denominou-a “Primeiro de Janeiro”, em homenagem à data da inauguração a vila.
No decorrer da avenida, no seu lado direito, foi apenas cortado o mato, ficando as grandes árvores, formando belíssimo e encantador bosque que foi denominado “Anisio de Abreu”, tornando-se um lugar aprazível para recreios.
Na vila foram demarcadas as ruas, ficando as da frente com os nomes de: Coronel Frota e D. Inocência; as paralelas: Raymundo Cidade, Coronel Patriolino e Coronel Juvêncio; e as perpendiculares: Esquinauas, Catuquinas, Jaminauas, Colinas e Capanauas.
Todas a tabuletas, com a denominação das ruas, praça, avenida e bosque foram pintadas pelo Sr. Franz Schoenemann, concorrendo todas as pessoas com os contingente de seus esforços para o desenvolvimento da vila.
Assim, tendo o Prefeito encontrado a melhor vontade por parte do laborioso povo do Tarauacá, no dia marcado realizou-se a inauguração da Vila Seabra, que foi uma belíssima festa, reunindo-se, ali, muitas famílias em alegre convívio, e proprietários de seringais.
No porto estavam ancorados os vapores Loreto, Manauense, Jacy e Correia Braga, cujos comandantes também compareceram, com a sua oficialidade, sendo todas as embarcações embandeiradas em arco. Pela manhã, a lancha da Prefeitura, que também estava embandeirada, deu as salvas do estilo, de 21 tiros, correspondendo todos os vapores surtos no porto.
Na praça Primeiro de Janeiro, em frente a avenida, foi levantada uma barraca-palanque, onde se colocou uma mesa, cadeiras e o necessário para o solene ato.
Esse palanque foi devidamente enfeitado, hasteando-se à sua frente, em um grande mastro, o pavilhão nacional.
Ao meio dia desembarcou, fardada e armada, a guarnição da lancha da Prefeitura, indo formar em linha ao lado do palanque, para prestar as continências ao chefe do Departamento.
Uma hora depois chegou a professora D. Virgina de Araújo Barros, acompanhada de seus alunos, e logo em seguida começaram a chegar as famílias e mais convidados.
Formou também a força do Exército, sob o comando do 2.º Tenente Candido Thomé Rodrigues.
Pouco depois chegava no local o Prefeito, dando o clarim o toque de sentido, e depois de general em chefe.
S. Ex., depois de receber os cumprimentos das pessoas presentes, tomou assento à cabeceira da mesa, ficando ao seu lado esquerdo o Juiz de Distrito, Exmo. Sr. Dr. Saturnino Santa Cruz Oliveira, e ao seu lado direito, o seu oficial de gabinete Raul Costa.
Lavrado o respectivo decreto da criação da vila, o Dr. Prefeito mandou ao seu oficial de gabinete lê-lo em voz alta e logo em seguida a ata da instalação e inauguração da vila.
Terminada a leitura da ata, o Sr. Juiz pediu a palavra e leu um belo discurso em que fazia apologia do estadista que deu o nome à vila e saudava o povo do lugar por ter concorrido de modo tão brilhante para o progresso do Departamento.
Em seguida o Sr. Dr. Prefeito usou da palavra e, em frases buriladas, pronunciou belíssimo discurso, recebendo ao finalizar prolongada salva de palmas.
Nessa ocasião os alunos da escola Amazônia ofereceram a S. Ex. um ramalhete de flores, erguendo calorosos vivas.
Terminada a cerimônia retiraram-se todos para a sede do Posto Fiscal onde foi servido um copo de cerveja, reinando sempre a maior cordialidade.
Querendo demonstrar também o seu contentamento pelo progresso que o Prefeito ia dando ao Departamento, o comandante do vapor Loreto, Sr. Rodolpho Pampolha, ofereceu a Sr. Ex. um jantar, convidando a sua comitiva e demais pessoas.
À hora marcada, 6 da tarde, o navio começou a se encher de senhoras, senhoritas e cavalheiros, até que chegou S. Ex. acompanhado do juiz, do seu oficial de gabinete, do encarregado do Posto, Sr. Major José Pereira, do escrivão do mesmo, Sr. Capitão Vale e Silva, e outras pessoas.
A entrada de S. Ex. no vapor, que estava ornamentado com apurado gosto, foi solto um foguetão e dada salva de 21 tiros, correspondendo todas as embarcações.
A Loreto, debaixo da salva, hasteou o pavilhão de governador, e o seu comandante, auxiliado pela sua oficialidade e pelo representante da casa proprietária do navio, Sr. Jayme Nicolau, conduziu S. Ex. e demais convidados para a mesa do banquete, cujo menu foi variadíssimo.
S. Ex. tomou lugar à cabeceira, seguindo-se-lhe as senhoras presentes, e na outra cabeceira tomou lugar o Sr. Jayme Nicolau.
Ao champagnhe, o Sr. Manoel do Vale e Silva, comissionado pelos moradores no Tarauacá, representados pelos Srs. Coronel A. Frota de Menezes, Coronel José Marques e Tenente-Coronel José Victorino de Menezes, saudou o Dr. Prefeito, em breves frases mas eloquentes.
O Dr. Prefeito agradeceu e desenvolveu a vida política do Homem que dera o nome a vila, o qual o considerava como o grande mestre.
Em seguida o Sr. Dr. Francisco de Paula Faria e Souza saudou ao Dr. Seabra como o seu mestre também, falando novamente o Dr. Prefeito.
Usou da palavra depois o Sr. Coronel José Marques, que brindou o Dr. Prefeito como seu admirador.
Este agradeceu e brindou o comandante da Loreto, agradecendo a gentileza que lhe dispensou.
Fechou a série dos brindes o Dr. Faria e Souza que saudou esposa do Dr. Prefeito.
Findo o banquete retiraram-se todos, sempre na maior alegria.
No dia seguinte, 2, o Sr. João Vinhas, comandante do vapor Manauense ofereceu um almoço ao Dr. Prefeito, ornamentando para esse fim o seu navio.
Ao meio dia foram todos para bordo, sendo S. Ex. recebido com as salvas do estilo.
Ao champagne falaram: o Dr. Faria e Souza, em nome de comandante, oferecendo o almoço ao Dr. Prefeito; o Coronel Belarmino Porto, saudando o Prefeito em nome do povo do Tarauacá; o Sr. Napoleão Ribeiro, em nome da família cearense, saudou o Prefeito; e o Prefeito agradeceu a todos.
Ao se retirarem, foram dadas novas salvas.
Rua D. Constância de Menezes (1953). Foto: Antonio José Teixeira Guerra; Tibor Jablonsky.
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Na vila serão construídos os edifícios seguintes:
Igreja – Pelo Sr. Coronel Antonio da Frota de Menezes.
Cadeia e Quartel – Pelos Srs. Coronel Belarmino da Silva Porto, Pereira Lima e Luiz de Melo.
Capela e cemitério – Pelos Srs. Coronel José Marques e Major José Pereira de Araújo Barros.
Edifício para o comando superior da Guarda Nacional – Pelo Coronel Juvêncio Victorino Menezes.
Escola – Pelos Srs. Frota Fortuna & C., Antonio Frota & C., e Souza Irmão & C.
Casa da câmara – Pelo Sr. João Francisco Teixeira Sobrinho e outros.
Posto Federal – Pelo Sr. Comendador Pinho, da casa Melo & C.
Coletoria da Prefeitura – Pelos Srs. Souza Nunes & Prado, Antonio Ferreira Lima e Silvino Cabral.
Enfermaria – Pelos Srs. La Roque, David Martins, José Petter, Rodolpho Pampolha, Manoel Antonio de Souza Marques e Raymuno de Oliveira.
Todos esses cidadãos farão as construções à suas expensas.
- O Sr. José Victorino encarregou-se de fazer a derrubada de toda mata, empregando para isso 25 homens.

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ATA DA INSTALAÇÃO E INAUGURAÇÃO DA “VILA SEABRA”

Ao primeiro dia do mês de janeiro do ano do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil novecentos e sete, décimo nono da República, neste lugar Foz do Muru, Primeiro Posto Fiscal do Juruá, margem esquerda do rio Tarauacá, Departamento do Alto Juruá, Território do Acre dos Estados Unidos do Brasil, onde se achavam presentes o Prefeito do Departamento Exm. Sr. Dr. João Virgolino de Alencar, o Juiz do Distrito do Departamento Exm. Sr. Dr. Saturnino Octaviano Santa Cruz Oliveira, o oficial de Gabinete Raul Costa, o engenheiro civil Dionysio Dantas, o Chefe do Serviço Sanitário da Prefeitura Dr. João C. Ferreira de Melo, o Juiz de Paz da 2.ª Circunscrição Coronel Antonio Frota Menezes, o 1.º Delegado Auxiliar de Polícia Tenente Candido Thomé Rodrigues, o Tabelião de notas Arthur Sergio Ferreira, o Encarregado do 1.º Posto Fiscal Major José Pereira de Araújo Barros, o Escrivão do Posto Capitão Manoel do Vale e Silva, o comandante geral das embarcações da Prefeitura Francisco Amandio, a Professora da Escola Amazônia D. Virgina de Araújo Barros, os comandantes dos vapores “Manauense”, “Loreto”, “Jacy” e “Correia Braga” ancorados neste porto, Jayme Nicolao Soares da Costa, representante da casa Melo & C., Luiz Patriolino Filho, representante da casa Oliveira Andrade & C., Raymundo dos Santos Costeira, representante de Fernandes Teixeira & C., Gualter Ribeiro, representante da Andresen Succrs., Dr. Francisco P. de Faria e Souza, negociantes Angelo Ferreira da Silva, Franz Schoenemann, Coronel José Marques de Albuquerque, Salvador R. Mendes, Francisco Olympio da Frota, Manoel Elysio Frota, senhoras e mais pessoas gradas como se vê abaixo assinadas.
Compareceram o Cel. José Victorino de Menezes e sua mulher, a Exm. Sr.ª D. Constância de Albuquerque de Menezes, por si e representando o Cel. Juvencio Victorino de Menezes e sua mulher a Exm. Sr.ª D. Inocência de Albuquerque Menezes, e declaram que vinham entregar ao Exm. Sr. Prefeito Dr. Virgolino de Alencar a escritura pública de doação que faziam à Prefeitura representada em sua pessoa, como representante do Departamento.
O Exmo. Sr. Dr. Prefeito agradeceu a valiosa dádiva e aproveitava a ocasião para ler o decreto criando a “Vila Seabra”. Em seguida foi colocada a tabuleta em que se lê: “Vila Seabra. Instalada na administração do Exmo. Sr. Dr. Virgolino de Alencar, em 1 de janeiro de 1907.”
Nessa ocasião salvaram as embarcações ancoradas no porto. O Dr. Prefeito ainda mandou colocar as tabuletas: “Avenida Dona Constância e Bosque Anisio de Abreu”, e agradeceu ao ilustre engenheiro Dionysio Dantas os seus serviços profissionais feitos na abertura da praça, avenida, bosque e construção da ponte e mais trabalhos que executou no referido lote de terra onde acaba de ser instalada a Vila Seabra. Denominou a avenida da frente com os nomes: Coronel Frota e D. Inocência, e as ruas paralelas à esta Raymundo Cidade e Coronel Patriolino, à outra Coronel Juvêncio; às perpendiculares, a começar do lado de cima, denominadas Esquinauas, Catuquinas, Jaminauas, Caxinauas, Colinas e Capanauas; e a praça onde desemboca a avenida D. Constância, Primeiro de Janeiro.
Ao terminar esta declaração salvaram as embarcações e o Exm. Sr. Dr. Prefeito mandou que eu escrevesse esta ata, afim de ser assinada por todas as pessoas presentes. Eu, Raul Costa, oficial de Gabinete, servindo de secretário, a fiz e a assino.
João Virgolino de Alencar, Saturnino Santa Cruz Oliveira, Constância Albuquerque Menezes, Maria do Prado, Virgina de Araújo Barros, Emília Queiroz Cavalcante, José Victorino de Menezes, Candido Thomé Rodrigues, Alexandre Mendes de Oliveira, José Marques de Albuquerque, Arthur Sergio Ferreira, Antonio Gentil de Menezes, Henrique B. de Oliveira, Antonio Frota de Menezes, Alvaro Sobralino de Albuquerque, Sansão Gomes de Souza, Xavier Giordani, Antonio Campos Ribeiro, Franz Schoenemann, Francisco Hermenegildo, Manoel Elysio Frota, José Richelieu, M. Orcel de Araújo Filho, Raymundo Gonçalves Pinheiro, Pedro A. Chaves, Manoel do Vale e Silva, Francisco Pio Machado, Gualter Ribeiro, Jayme Nicolau, F. P. de Faria e Souza, José Sapho, Nelson de Oliveira, Antonio Mendes da Silva, Francisco Saldanha, Francisco Fortuna, Mauricio Lima, Romualdo O. Rodrigues, Sylvio Cyrilo Marques, Antonio de Serpa, Manoel Furtado Cavalcante, Francisco Olympio da Frota, Angelo Ferreira da Silva, João Vinhas, Antonio Soares dos Santos, José Albertino de Souza Pereira, Theodolino do Areal Souto, Geraldo das Mercês Pereira, Carlos Augusto Costa, José Antônio, Henrique Costa, Raymundo Costa Melo, Alberico Ribeiro Messias, José Raymundo Satyro, Trajano Altino de Almeia, Conegundes Ferreira de Oliveira, José Gualdêncio da Costa, José Angelo Cavalcante, José Pereira de Araújo Barros, Dionysio Dantas, Leonel Junior, João C. Ferreira de Melo, Raul Costa.

Jornal O Cruzeiro do Sul (orgam official), Cruzeiro do Sul, 3 de fevereiro de 1907, Ano II, N.30. p.1-2