O meu tempo de menino não foi nada brincadeira
Meu pai era lavrador minha mãe arrumadeira
Na hora da refeição chorava de dar canseira
Segundo mamãe falou, nem peito nem mamadeira
Nossa casinha de palha recheada de goteira
A luz era lamparina não havia geladeira
Eram quatro criolinhos e uma negrinha faceira
Quando mamãe trabalhava levava a negrada
inteira
Era Joãozeira Zaquera Gustera e Tonhera
Diz a minha irmã Luzia nunca ouvi tanta
besteira
Cresci brocando roçado vivi serrando madeira
Me vi plantando verdura vendendo porco na
feira
Trabalhei de encanador fui mestre na
bitoneira
Toquei e cantei na noite só nunca bati
carteira
No dia em que me casei e minha filha nascera
Comprei móveis cama e mesa dei pra minha
companheira
Mas não consegui pagar nem a prestação
primeira
A loja veio e levou a minha mobilha inteira
Era Joãozeira...
Tudo agora é só saudade pura crua e verdadeira
Da casinha onde eu morava da comidinha
caseira
Da escola da pracinha dos quitutes da doceira
Das paixões das professoras, do cipó de
goiabeira
Vida boa tempos idos da igrejinha de madeira
Dos engenhos dos açudes dos pajés das
benzedeiras
Do forró de pé de serra do plantio de
macaxeira
Da crença em Nossa Senhora e no trabalho da
parteira
Era Joãozeira Zaquera...
Sebastião ISAC DE MELO é natural de Rio Branco, onde nasceu em 1953. Ingressou na carreira militar no Exército Brasileiro em 1981, estando na reserva desde 2005. Serviu como músico em batalhões do Acre, Amazonas, Roraima, Ceará e Amapá. Exerceu ainda a função de mestre na Banda de Música do 1º Batalhão B COM DIV em Santo Ângelo-RS e Banda de Música do 44º BIMTZ em Cuiabá-MT. É autor de Cordel Reflexivo (2011), A Bíblia em literatura de cordel (2012) e Urucum (2014). Possui formação em Teologia pela Faculdade de Ciências Sociais Filosofia e Teologia da Amazônia.
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