sábado, 2 de janeiro de 2016

O SERINGUEIRO

Humberto de Campos (1886-1934)

O homem, perdido na solidão absoluta, vai procurar o bárbaro levando a escolta única das dezoito balas da sua Winchester carregada. – Euclides da Cunha – À Margem da História, p.83
  

Profano Anchieta que um mau sonho afaga,
Para que o rito não se extinga ou quebre, 
Entras a selva, em que teu ser se apaga, 
E ergues, para teu templo, o teu casebre. 

No inverno, quando o seringal se alaga, 
Não se vê na missão quem não celebre, 
Com hóstias de quinino, e boca em praga,  
A missa arquilitúrgica da Febre.

És Missionário sem burel e estola; 
Tens na mão a semente das cidades 
Que semeias sem Cristo e sem Loyola. 

Basta, para um sermão, que a flecha sifle... 
– Como são convincentes as verdades 
Dos dezoito Evangelhos do teu rifle!...


CAMPOS, Humberto de. Poesias Completas. São Paulo: Opus, 1983.p.218

Um comentário:

ROGEL DE SOUZA SAMUEL disse...

HUMBERTO DE CAMPOS, PARA MIM, É UM DOS EXEMPLOS DA BOA LITERATURA...