Profª. Inês Lacerda Araújo
É frequente ouvirmos "estava escrito", "era o destino". Ou "hoje é meu dia de sorte" e também o inverso "hoje tive azar".
Como entender o tempo? O futuro? Se algo está escrito nas estrelas, então pode ser que tudo esteja escrito e pré-determinado.
Mas não é bem assim, temos liberdade para agir, para decidir, podemos planejar. Quando o planejado não dá certo costumamos atribuir a "culpa" ao misterioso, ao desconhecido, ao azar, ao acaso. Quando o planejado dá certo, consideramos que nós somos os responsáveis!
Não é estranho pensar dessa maneira?
Há diversas séries de acontecimentos, e elas se entrelaçam e deságuam no acontecimento x ou y. Se isso nos favorece, achamos que foi sorte. Se não favorece chamamos de azar.
Acontecimentos que se entrelaçam por causas diversas, em momentos diversos e que culminam em certo momento, podem ser o que chamamos de acidentes, uns felizes outros não...
Se houvesse destino, algo marcado para acontecer, não poderíamos mudar nossos percursos, e mudamos, ainda bem. O que não podemos mudar, aquilo em que não podemos interferir são as séries de acontecimentos aleatórios, ocasionais, fortuitos. Um terremoto, um galho que cai, a existência do universo, a evolução da vida na Terra. Podemos nos defender com prédios mais seguros, ficando abrigados numa tempestade, fazendo modificações genéticas.
Mas isso não elimina a incerteza, mesmo com todos os dispositivos de prevenção e de segurança, o futuro nos inquieta e amedronta. Vêm daí os mitos, os deuses, as promessas, as tentativas do dominar o acaso. Esses recursos podem até nos consolar, nos distrair por um momento, criar a ilusão de que somos eternos e incólumes.
Em vão.
Enfim, há três tipos de fenômenos: os que estão fora de nosso alcance, insondáveis; os fenômenos causados direta ou indiretamente pela nossa ação; e aqueles em que podemos influir, um enorme espaço de criação e liberdade, que só encontra limite na nossa humana forma de ser e de agir.
***
*
**INÊS LACERDA ARAÚJO, filósofa, autora, entre outros, de Do Signo ao Discurso: introdução à filosofia da linguagem (Editora Parábola, 2008)
4 comentários:
Olá Isaac
Para mim não existe destino, temos o livre arbítrio e dentro desse princípio podemos escolher entre os vários caminhos que nos são apresentados. Depende de nós faze ou não a escolha certa.
Grande abraço
Querido, estava pensando que é um processo de emburrecimento voluntário crer e alimentar na atribuição de todos os caminhos tomados na vida da gente, a outra pessoa, ao acaso, à fatalidade. O divino no ser humano, pra mim, reside exatamente no fato de ter a opção de abraçar a responsabilidade. Chorar ou sorrir, dar com a cara na parede ou flutuar no espaço repleto de estrelas nos olhos tem a ver com o quanto de RESPONSABILIDADE sua MATURIDADE já lhe permite abarcar. Nada mais. Seleção perfeita de texto. Beijooooo. Apareça.
Ah, inseri o link do ALMA no DEFINITIVIDADES, viu? Tinha passado desapercebido com os problemas de ultimamente... mas agora já está lá.
CONCORDO COM VC.
Postar um comentário