Profª. Inês Lacerda Araújo**
Desde os primeiros filósofos até o século 19, portanto, até o início da modernidade, a filosofia tinha uma missão de ordenar e de fundamentar todos os conhecimentos. Aristóteles a considerava como a “rainha das ciências”. Para Descartes a metafísica era a raiz do saber. Para Kant a razão era suprema. Desse modo a filosofia poderia ser a base para ciência, a moral, o direito.
Atualmente, a maioria dos filósofos considera que ela colabora com todos os saberes. Não há mais uma concepção dogmática e impositiva: se os conceitos nascem de uma cultura e de uma história, a tarefa filosófica é a de pensar a diversidade das culturas em colaboração com a arte, a moral, o direito, as ciências.
Nossa época, a época da modernidade possui estruturas de racionalidade próprias, como a informação e a ciência; possui uma ética descentrada (não mais ditada pelas religiões), pluralismo de credos e ideias, um saber científico renovável, autonomia na arte e no direito.
A filosofia pode e deve fazer a mediação entre esses saberes, ensejar o diálogo entre eles sem pretender totalizá-los em uma única grande teoria que pudesse explicar o real de modo certo e indubitável.
Essa nova perspectiva leva a filosofia a fazer uma leitura de nossa época e propor caminhos alternativos para que se possa pensar com autonomia, liberdade, ampliando e renovando as experiências com o mundo. É um importante instrumento para pensar nossos problemas e dificuldades. Quando se questiona como e por que tal ou tal saber foi produzido, tal ou tal conceito é usado, o pensamento como que se ilumina, surgem novas ideias, mais criativas.
Ainda assim, há culturas e sociedades até hoje fechadas, impermeáveis, sectárias. Pense no Irã, no fundamentalismo islâmico, ou nos ditadores de alguns países africanos e de alguns vizinhos nossos, risíveis e farsescos, nem por isso menos perigosos.
Enfim, a filosofia pode mudar o modo de ser e de pensar de uma pessoa, e, às vezes, de toda uma cultura.
"Eu discordo de que haja um conceito ideal de exatidão dado a priori, como tal. Em épocas diferentes nós temos diferentes ideais de exatidão; e nenhum deles é supremo". (Wittgenstein)
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**INÊS LACERDA ARAÚJO, filósofa, autora e organizadora, entre outros, de Temas de Epistemologia (Editora Champagnat - PUCPR, 2006)
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