JAIRO NOLASCO*
Fonte: http://www.viafanzine.jor.br/ |
Conta a lenda que outrora, um dito cidadão respeitável que não ganha quatro mil cruzeiros por mês, morador da zona rural de nossa cidadela do interior acreano, sentiu-se mal. Ele é um desses bravos, que não dão moleza ao corpo e não deixam o roçado à mercê da sorte por qualquer febrezinha de 40 graus, não senhor! Nunca capinou sentado e na sombra. Não tinha nada de Macunaíma, o nosso personagem.
Nunca antes achou necessária a consulta a um médico. Para quê, se na mata tinha todo tipo de remédio que precisava? Sua nêga companheira fazia cada chazinho milagroso e escalda-pés capaz de espantar todo tipo de brunhuras, tanto do corpo quanto da alma. "_ O nosso dotô, aqui veste verde, sêo moço", gabava-se aos conhecidos.
Porém, dessa feita por mais que tomasse o chá do Cajiru, o desconforto não passava. Resolveu depois de meses de xêpas que deveria finalmente recorrer à medicina alternativa. Deveria, por fim, encarar a Cidade dos Homens. Mundo-ético de gostos finos e duvidosos que lhe causava ojeriza. Como não sabia dizer essa palavra, dizia que "tinha era nojo". Não das pessoas e da higiene delas, mas dos trejeitos afrescalhados e das meias palavras ditas sem valor algum.
Resolveu, para encurtar caminho, ouvir conselho do seu primo que já havia se consultado antes na cidade e detinha, portanto, certa experiência no assunto. Ouviu em tom solene "que por lei deveria primeiro procurar a porta de entrada do Sistema Único de Saúde".
- E que diabo de porta é essa hômi?, interrompeu.
- É um posto de saúde, primo.
Dito e feito, ao chegar à cidade procurou a tal porta. Algumas estavam fechadas, outras estavam aberta mas faltava "o dotor". Até que finalmente, depois de andar léguas, achou uma porta aberta com o "dotor" dentro. Como não havia mais vaga para consulta naquele dia, foi convencido a voltar no dia seguinte. No outro dia, esperou por mais de três horas na fila. Agora chegara a sua vez.
O "dotor", muito atencioso, sem lhe olhar na cara pergunta o que ele sente. Responde : "_ sinto uma dorzinha aqui", aponta para a região do púbis. Sem continuar olhando para sua cara, o médico deduz que seja verme e lhe receita umas pílulas para dor de cabeça.
Como a sua dor, obviamente, não passava, retorna depois de uma semana ao mesmo posto. O médico lhe receita agora remédio para verme, para curar a dor de cabeça que ele sente na região escrotal. Desconfiado, ele procura o diretor do posto. O gerente - humanizado - confessa que ali, ele não teria solução :
_ O senhor deve procurar um especialista.Vá imediatamente ao Hospital e lá o senhor vai conseguir. Vou lhe dá o nome de uma pessoa nossa lá que consegue uma consulta mais rápida para o senhor, sem que entre na fila. Só não esqueça na próxima eleição quem está lhe ajudando, viu?
Chegando ao hospital, viu ser esse bonito, grande, imponente e bem limpo. Concluiu que ali estava a solução para o seu mal. E foi procurar o nome indicado pelo gerente do posto. E se sentiu importante, visto que desta feita, não enfrentou fila. Pelo contrário, viu-se superior àqueles coitados que avistou na sala de triagem, sofrendo, a espera do atendimento. Já sabia até o nome do santo milagroso para votar no dia 03 de outubro.
No consultório, o médico o olhou de cima a baixo e perguntou o que ele sentia. Começou a contar sua sina e foi logo percebendo que o médico começou a ficar impaciente, a olhar para o relógio. Repentinamente foi interrompido. O médico lhe receitou pílulas para dor de cabeça e vermes. Disse-lho que não podia ajudar e que ele deveria procurar um especialista na área. Explicou que só entendia de pulmão. Ou seja, ele não entendia nada sobre doenças nos escrotos, ou doenças nos bagos, dito no popular. "_ Daqui a três meses teremos um especialista, volte para se consultar. Até lá tome essas pílulas".
Triste, o homem resolveu procurar o seu sindicato. O dirigente sindicalista, muito prestativo, achou aquilo um acinte. "_ Nós vamos lhe ajudar meu bom homem. Vamos processar todo mundo". Tirou de uma gaveta um cartão de visita e deu ao nosso personagem. "_ Esse é o doutor Marcio, vou lhe levar lá agora para o senhor contar a ele o seu problema!"
Foi levado ao escritório do advogado. Foram apresentados. Notou logo que o "dotor" ali era diferente dos demais. Ele não usava aquela roupa branca, vestia paletó e gravata e lhe olhava nos olhos. Deduziu que enfim estava diante de um especialista: "_ em que posso ajudá-lo senhor?", perguntou o advogado.
Não perdeu tempo. Foi logo baixando as calças e dizendo:
_ Dotor eu sinto uma dor horrível aqui no meu ovo esquerdo, me ajude por favor !
O advogado, assustado, disse que não podia fazer nada sobre aquilo.
_ Ué, o senhor não é um dotor especialista?
_ Sim meu amigo, mas o meu negócio é Direito, o senhor me ouviu? Sou especialista em D-I-R-E-I-T-O ! Aí, o homem foi à loucura: "_ Vai ter especialista assim lá na casa do cacête !!!
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Moral da história: Se tens problema no ovo esquerdo, continue a tomar chá de Cajiru. Se tiveres dinheiro vai se tratar na medicina particular, fora do país.
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4 comentários:
Ola amigo add meu msn
denilson.acre@hotmail.com
Prezado Isaac,ótima definição sobre o espírito do Jurubeba.Quando questiono o autor sobre o nome ,ele sempre se sai com essa : " Tão sem propósito no mundo que não serve nem para o chá das seis... ".Ironia pura.
Plenamente de acordo, caríssimo Jabor.
Obrigado pela visita!
Um forte abraço!
RSRSRSRs, muito boa meu amigo...
eu conhecia como uma piada sem saber a autoria.
abçs
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