O homem é um ser
que pensa e pergunta. É um eterno peregrino. Contesta o mundo existente em
busca de um mundo melhor, pois a utopia é constitutiva do ser humano. Não só
quer entender a natureza, mas transformá-la. Procura o caminho para isso. Esse
caminho chamamos, desde os gregos, de método.
O
mundo que nos cerca provoca diversas atitudes em nós e emoções, como admiração
e dúvida. Abrange desde as gigantescas galáxias até os pequenos seres que
povoam nosso planeta. Neste mundo, o homem pode sentir-se ameaçado pelo
desconhecido. Por isso sente medo de doença, da fúria dos elementos. Por outro
lado, já dizia o pensador espanhol José Ortega y Gasset: “Eu sou eu e minhas
circunstâncias... O homem não se contenta com o simples viver, mas busca o bem
viver”. Quer desfrutar a vida e seus prazeres.
Neste
mundo o homem se inquieta com grandes perguntas: para onde vamos? De onde
viemos? Quem somos não sabemos exatamente onde e quando, em nosso planeta,
surgiu o primeiro homo sapiens, nossa espécie. Cercado por animais mais fortes,
pela fome e pela doença, não tendo as armas e a força do leão, o homem nasceu
com uma capacidade mais poderosa, a da inteligência e do espírito.
Conhecer
coisas é a capacidade que distingue os humanos de outros animais. Isso faz do
homem o mais bem sucedido, pois alguns animais andam mais rapidamente que o
homem, mas este construiu automóveis que lhe permitem andar com velocidade
maior que a dos animais. Alguns animais enxergam melhor que o homem, mas este
construiu telescópios e microscópios que superam a visão de qualquer outro
animal. Ao contrário do homem, o pássaro voa. Mas o homem construiu aviões que
voam com maior velocidade e mais longe que qualquer outro pássaro. A diferença
em tudo é o saber que possibilita ao homem construir automóveis, telescópios,
microscópios e aviões. Nesse sentido, saber é poder. O saber faz do homem o
animal mais poderoso de todas as criaturas.
Por
um lado, o homem observa e interpreta a natureza, por meio do sobrenatural.
Dessa maneira, entre os humanos, surgem os sacerdotes, que tudo relacionam com
os deuses. Fenômenos da natureza, como raio e trovão, são interpretados como
manifestações de deuses. O homem nasce para dentro de um sistema de crenças.
Habitua-se a elas. Conta com as coisas e vive a interpretação que herda dos
pais, mestres e antepassados. Mas também há momentos em que as crenças se
tornam problemáticas. Interpretações de tipo religioso entram em conflito.
Surgem incertezas. E, por outro lado, entre o povo também apareceram,
paralelamente aos sacerdotes, os que são chamados artesãos. Esses, através da
experiência, percebem que existem algumas pedras mais duras que outras. Passam
a usá-las como instrumentos, criando objetos e ferramentas. O homem mantém as
tentativas sucedidas, multiplicando-as, deixando de lado as erras ou falsas. O
conhecimento adquirido é transmitido de uns a outros, socializando-se e
acumulando-se.
Sendo
o homem um ser pensante, desenvolve ideias e as testa na prática da vida. Busca
coisas úteis, que tornem a vida melhor e mais confortável. Inventa armas para a
caça e a pesca; faz cestas, para carregar coisas consigo; o arado, para
cultivar a terra e semear; a cerâmica e os tijolos, para construir casas,
aldeias e cidades. Enquanto não encontra explicação para o mundo, preocupa-se
com o desenvolvimento de técnicas que funcionem. Para poupar suas próprias
energias, locomove-se a cavalo ou de camelo. Assim, na Mesopotâmia, já foram
construídas cidades, que à noite eram iluminadas com lâmpadas a óleo.
A
invenção da técnica, para cultivar a terra, permite ao homem abandonar o
nomadismo e fixar-se à terra. Assim surgiram povoados e aldeias, e a
convivência humana trouxe novos problemas a resolver, como a divisão de terras,
a troca de produtos agrícolas ou animais. O homem foi desafiado a criar uma
linguagem própria para o cálculo. A medição e divisão de terras e o comércio
produziram a matemática.
Se,
por exemplo, no Ocidente medieval, predominava a ortodoxia religiosa, no final
do século XX é a ciência e a técnica, ou a tecnociência. A linguagem universal
passa a ser matemática. No topo da hierarquia estão os cientistas. Esses
assessoram políticos. Se as cruzadas medievais foram substituídas pela
conquista do espaço, os sacrificados são vítimas da ciência: a morte em
acidentes automobilísticos, os desempregados marginalizados pela máquina. Mas a
ciência também ajuda o homem a ganhar mais conhecimentos e maior compreensão do
mundo.
Desse
modo, o conhecimento nasce na experiência cotidianas do homem, no mundo que o
cerca. Esse conhecimento é fortalecido na diversidade das circunstâncias,
através do tempo. Primeiro é transmitido oralmente e depois escrito. A
transformação da natureza pela inteligência e pelas mãos do homem é chamada, de
modo genérico, de cultura. O conhecimento tem, pois, sua origem na capacidade
reflexiva do próprio homem, a qual lhe garante um lugar único entre os seres
que habitam nosso planeta. O prestígio da ciência hoje é incontestável.
Entretanto, pode ser que no futuro o homem conclua que o mundo só se interpreta
pelo amor, que a religião e a filosofia são pelos menos tão importantes como a
ciência.
ZILLES, Urbano.
Teoria do Conhecimento e teoria da ciência. São Paulo: Paulus, 2005. p.15-17
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