Foto: Valmir Lima |
Eu olho da janela e
vejo o entardecer.
As mangueiras
abarrotadas de garças.
E penso nestes dias
E penso
nestes dias.
Ah! Esse fardo de
tristeza
curvando o ombro
das horas.
Lamentações desgrenhadas
ecoam do beco das
almas.
A manada dos carros
em fúria vai
mugindo pelas ruas.
E retorna o
silêncio,
essa esfinge
indecifrável do medo.
As angústias
espreitam das janelas.
Os presságios
confabulam nas esquinas.
As palavras de amor
engaioladas
no silêncio da voz,
sangram suas asas
nos espinhos da
flor da liberdade.
Quem diria que a
Barca de Caronte,
a transportar a
morte à outra margem,
teria agora novo
comandante.
O rumor seco do
medo rasga lento
o aveludado
silêncio do crepúsculo.
Um belo rosto de
mulher passa e sorri
talvez na direção
de um nunca mais.
No tempo sem poesia
morrem sem ar as palavras
sufocadas.
No rio ao longe a
lua antiga
afoga-se encenando
a terna Ofélia.
A brasa das
estrelas apaga
esfria.
Em noites como esta
apenas o luar é o
manto que recobre
tantos meninos e
meninas de rua.
Há um cão sem dono
a farejar o lixo.
O solitário bêbado
cambaleia
a caminhar sem rumo feito
o meu País.
O amor distante dói
como um pecado.
Que mente humana
será capaz de conceber
que algo pode ser
maior que a vida?
Ah! Se eu pudesse
ter um verso lâmina
capaz de degolar o
preconceito.
Ah! Por que o poema
não seria
para todos o pão de
cada dia?
Ah! Por que os
países do egoísmo
são insolventes com
a democracia?
Passarinhos pousam
nas plantas da janela.
A esperança
tambatajá não morre nunca
pois vive a
renascer e renascer.
E renascer.
Eu fecho a janela e
abro o celular.
Vejo Helena, minha
neta e seu sorriso
no jardim de um ano
e meio florescendo.
E no meu coração a
brasa da esperança
torna-se chama,
torna-se fogueira
de amor amor e amor
por toda a humanidade
agora a renascer
nessa criança.
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Poema publicado
originalmente em:
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