Diego Mendes Sousa
Para Márcio Souza
“É tempo de partirmos
para o espanto desmedido.
Do que fomos, fizemos ou cantamos,
ficará, apenas, o invisível traço
do voo da ave indivisível
que se consumiu no espaço.”
L. Ruas (Manaus, 1931-2000)
Muitas almas dormem nos rios da Amazônia –
que acesos dos sonhos humanos
viajam como pássaros
delirantes
para rumos inexatos
ante o alarido
do tempo.
Muitas almas dormem nos rios
da Amazônia –
não somente os espíritos secretos da floresta –
que vitalícios nas ilusões
de uma lenda
encontram o fundo vagido
de todos os seus encantamentos
e de cabalas indígenas
também revestidas
de presságios
que naufragam...
Muitas almas dormem nos rios da Amazônia –
não somente os descaminhos
da cobra grande e misteriosa –
que imortalizada pelo brilho matutino
da sua ferocidade incomum
desperta no forasteiro afetivo,
melancolia e magia
ausentes
na ribanceira doída
de fortuna e de sabedoria comovidas,
nessas águas enchidas
de clarões.
Muitas almas dormem nos rios
da Amazônia –
não somente as vísceras dos peixes –
que noturnos
e abismados
nas noites
enfurecidas
por uma neurose atrevida da vida,
embebem sons
sob os dias que voam sem passar.
Leio os rios da Amazônia
com uma flor de lótus nas mãos
e espelhos d’agora e adiante,
como se o sésamo fosse a sombra úmida
de Altair,
e o existir: o rosário urbano do massacre
das muitas almas metafísicas apreendidas
que ainda descansam
nos braços
desses rios de lume
escurecidos
– de fados sonolentos e de canções de ardor movidas...
Cruzeiro do Sul (AC), Amazônia, 13 de maio de 2020.
Um comentário:
Oi, POETA, assim grande, gosto da anáfora no poema, "muitas almas dormem nos rios da Amazônia...
Tua poesia, impacto na alma!
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