DO POETA E SEUS ELEMENTOS
O poeta é um território
em permanente degredo.
o poeta, por incrível,
sente frio e sente medo.
o poeta é um promontório,
além da mão como um dedo.
(sendo a mão somente a palma
o dedo é um prolongamento
como o é do corpo sua alma.)
o poeta é um território
limitado por si mesmo.
se às vezes, por ilusório,
parece que anda a esmo,
é exatamente ao inverso:
o poeta é um promontório
procurando mais um verso
para urdir o seu poema,
(que absurda tessitura!)
instaurando no universo
a nação que anda à procura. p. 45
DA DOR MAIOR
líquida é esta noite
em que te encontras distante.
líquida, também,
é esta vontade minha
de te ter nos braços
e amar com toda a força
da minha existência de homem.
belo seria
o momento em que pudesse
de um só golpe sorver-te
mesmo através dos poros
deste corpo que pulsa por ti.
o cântico dos cânticos
não é mais belo que tu.
e cantar-te, nesta hora,
é para mim o privilégio
que dilata meu coração,
que pulsa por tua vontade,
líquida é esta noite
em que também me umedeço,
orvalhecendo-me por ti,
como se fosse o produto
de um céu sem deuses,
como se fosse o único astro
de um firmamento fechado. p. 109-110
PENAFORT, Ernesto. A medida do azul. Manaus: Edições do Governo do Estado do Amazonas, 1982.
Nenhum comentário:
Postar um comentário