sábado, 13 de janeiro de 2024

MAX MARTINS: Ver-O-Peso

A canoa traz o homem

a canoa traz o peixe

a canoa tem um nome

no mercado deixa o peixe

no mercado encontra a fome

 

a balança pesa o peixe

a balança pesa o homem

a balança pesa a fome

a balança vende o homem

 

                           vende o peixe

                           vende a fome

                           vende e come

 

a fome

vem de longe

nas canoas

ver o peso

 

come o peixe

o peixe come

                           – o homem?

 

o homem não come

come o homem

compra o peixe

compra a fome

vende o nome

vende o peso

 

                           – peso de ferro

                           – homem de barro

 

pese o peixe

pese o homem

é a fome

vem do barro

vem da febre

(a febre vê o homem)

 

veja a lama

veja o barro

veja a pança

 

                           o homem

                           come a lama

                           lambe o barro

 

ver o verde

ver o verme

o verme é verde

 

está na lama

está na alma

é só escama

a pele do homem

está com fome

vê o peixe

vê o prato

não tem peixe

tem fome

a fome pesa

o peso da fome

peça por peça

pese o peixe

deixe o peixe

veja o peso

peixe é vida

peso é morte

homem é fome

peso da morte

peixe de morte

a sorte do peixe

é o peso

azar do homem

 

pese o peixe

pese o homem

o peixe é preso

o homem está preso

presa da fome

 

ver o peixe

ver o homem

vera morte

vero peso.

 

MARTINS, Max. Não para consolar: Poemas reunidos 1952-1992. Belém: CEJUP, 1992. p. 279-281

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