A canoa traz o homem
a canoa traz o peixe
a canoa tem um nome
no mercado deixa o peixe
no mercado encontra a fome
a balança pesa o peixe
a balança pesa o homem
a balança pesa a fome
a balança vende o homem
vende o peixe
vende a fome
vende e come
a fome
vem de longe
nas canoas
ver o peso
come o peixe
o peixe come
– o homem?
o homem não come
come o homem
compra o peixe
compra a fome
vende o nome
vende o peso
– peso de ferro
– homem de barro
pese o peixe
pese o homem
é a fome
vem do barro
vem da febre
(a febre vê o homem)
veja a lama
veja o barro
veja a pança
o homem
come a lama
lambe o barro
ver o verde
ver o verme
o verme é verde
está na lama
está na alma
é só escama
a pele do homem
está com fome
vê o peixe
vê o prato
não tem peixe
tem fome
a fome pesa
o peso da fome
peça por peça
pese o peixe
deixe o peixe
veja o peso
peixe é vida
peso é morte
homem é fome
peso da morte
peixe de morte
a sorte do peixe
é o peso
azar do homem
pese o peixe
pese o homem
o peixe é preso
o homem está preso
presa da fome
ver o peixe
ver o homem
vera morte
vero peso.
MARTINS, Max. Não para consolar: Poemas reunidos 1952-1992. Belém: CEJUP, 1992. p. 279-281
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