segunda-feira, 21 de março de 2011

Série A POESIA ACREANA > DALMIR FERREIRA

Dalmir Rodrigues Ferreira é a expressão de um dos estágios mais elevados que a sabedoria acreana galgou nesses últimos tempos. Sua enorme cultura não o fez um representante do eruditismo, mas um homem sensível a sua terra, sua gente, sua história, sua época e seus desafios. Dalmir é uma síntese de um pouco de tudo o que o Acre possui de mais belo: gente, história, letras, música, artes.

O inesquecível jornalista José Chalub Leite, pai do humor acreano, assim sintetizava Dalmir: “Poeta, escritor, artista plástico, desenhista, aprendiz de entomologia, agrimensor, parapsicólogo, músico e documentarista. Dalmir Ferreira é acima de tudo um idealista enraizado na generosa terra acreana, que lhe é orgulhosamente de berço desde 12 de Fevereiro de 1952 – no histórico seringal Bom Destino, cenário das lutas irredentistas dos soldados-seringueiros de Plácido de Castro”.

Se o Brasil pode regozijar-se com escritores da envergadura de um Euclides da Cunha, o Acre pode fazer o mesmo em relação à Dalmir Ferreira. A ele parece se encaixar muito bem as palavras de Proust: “como a natureza, a inteligência tem seus espetáculos”.

***

“Muitas tristezas se acumulam na minha caminhada. Inquieta-me profundamente a idéia de deixar um mundo pior do que o que recebi. Acreditem-me senhores, nossa geração não está evoluindo e nós não estamos contribuindo para reverter este quadro...
Por isso vos peço uma sincera reflexão, sobretudo aos que comigo compartilham essa visão, é nosso papel acordarmos os que optam pelo sono que logo será mais que um pesadelo.”

Dalmir Ferreira
em seu discurso de posse
na Academia Acreana de Letras, em 2004.

***

MEMÓRIA
Dalmir Ferreira

Em minha terra
me conheceram pintor,
músico ou poeta
e minhas paixões,
deles, poucos
não souberam,
e muitos saberão
quando eu partir...
mesmo admirando
minha cabeça
respeitarão
meu coração...


POETA MODERNO
Dalmir Ferreira

Deve o poeta
deixar
que seu espírito
vague no cosmo.
Não o raciocínio
nas palavras,
senão logo,
o computador
vai superá-lo
e escreverá
para os robôs...
só se fala
de sentimentos,
quando se sente.
Se não,
mente...


O POETA
Dalmir Ferreira

                               Para Naylor

Dai ao poeta
a liberdade
de cantar,
Dai ao poeta
a inocência
de suas culpas,
Dai ao poeta
a comida necessária
Dai ao poeta
o amor
que o alimenta,
Pois triste do povo
que cala seu poeta,
triste da musa
que não o faz cantar,
Triste dos indiferentes
que não sabem chorar
Triste...


ESTRELA
Dalmir Ferreira

Tudo o que sei
é que parecias
uma estrela
cuja luz,
me vi olhando
sem saber que
estavas morta,
que só restava
aquele pouco de luz,
que vi por um pouco momento,
aos poucos
se acabando...


TEUS OLHOS
Dalmir Ferreira

Eu queria te olhar
nos olhos,
segurar teu rosto
sentindo tua respiração
e sem nada falar,
dizer-te coisas
que ultrapassando
teus sentidos,
se gravassem
além de tua memória,
e na simplicidade
desse ato,
vislumbrássemos
nossa própria
liberdade...


AQUIRY
Dalmir Ferreira

Eis o Aquiry
terra de difícil parto,
pretendida
para a venda
pela Bolívia,
pra rapina
por peruanos,
por cobiça
do Amazonas e Pará,
expoliada por ingleses
não é Bolívia,
nem yanque,
nem Brasil é
pois não representa
divisa econômica,
Que terra é essa
ainda não descoberta?...

***

FERREIRA, DALMIR RODRIGUES. Poesia Seleta. Rio Branco: Editora Preview, 1996.

*Recomendamos o blog do autor para informações mais detalhadas:

2 comentários:

Luciane Moraes disse...

Olá! Meu amigo

Belos poemas!

Estou gostando dessa série! Parabéns amigo, por estas postagens!

Deus te abençoe!

Abraços,
Lu

Jalul disse...

Dalmir é um homem nota 10. Antes do poeta, conheço o amigo.