Rogel Samuel
Recebo um presente
rico. Um extraordinário presente, de minha Amiga Lyra. É um disco, um primor de
Elizeth Cardoso. Eu me lembro que tive outra amiga comum, vizinha e amiga de
Elizeth. Uma dama, as três. Elizeth, dizia minha amiga, almoçava frugalmente.
Uma fruta, umas folhas de alface. Lutava contra a gordura. Elizeth canta,
divina. Me lembro de outras divas, como Montserrat Caballé e La Callas, que também
lutaram contra a gordura. “A Sra Onassis é muito gulosa, mas não come nada.
Apenas prova o molho com um pedacinho de pão, na cozinha”, conta Christian
Cafarakis, biógrafo de Onassis, que foi marinheiro no Cristina. Callas e
Onassis brigavam diariamente, aos gritos. Dois temperamentos explosivos. Mas se
amavam. Callas nada queria da fortuna dele. Quem deu despesa foi Jackie.
Segundo o biógrafo, em três anos de casamento, Onassis deu-lhe 120 pulseiras, 50
de brilhantes, 500 pares de brincos, 300 colares, e mil anéis, além de uma
coleção de pedras preciosas, soltas. O mais exótico presente foi um par de sandálias
de veludo azul-rei, como “babouches”, com um diamante de 16 quilates em cima,
cercado de diamantes e esmeraldas em círculos e triângulos. O Sr. Onassis pagou
por isso a soma de 120.000 dólares. Presente de aniversário de Jackie, em
agosto de 1970. Elizeth canta, perfeita. Ela me lembra minha prima M., que a
adorava, na juventude. M. era uma mulher belíssima. Meu pai a chamava de “bebecadum”,
não sei por que. Morava, quando jovem, na Tijuca. Na época a Tijuca era muito
elegante. Tínhamos uma vizinha que desfilava num Cadilac branco, conversível, e
que morava numa mansão, um pouco acima na Rua Des. Isidro. Nosso vizinho tinha
um casal de filhos, jovens e belos. Foi com muita surpresa que, anos mais
tarde, eu soube que o menino, hoje, é delegado de polícia, como o pai. Meu tio
era vivo e nos levava à Barra da Tijuca, aos domingos. Era uma praia deserta. Minha
prima M. casou-se com o empresário J., muito rico, que era muito meu amigo.
Eles se foram para os Estados Unidos. A última vez que a vi foi na década de
70, em casa da Mariza Raja Gabaglia, na época casada com um pecuarista. Em
Ipanema. Eu estava ali com minha amiga R., quando minha prima M. chegou, com o
marido. Década de 70. M. usava um vestido preto brilhante, os ombros à mostra,
os cabelos soltos. Nenhum enfeite, nem uma joia. Ornava-se de sua beleza. O
salto altíssimo dos sapatos exaltava o porte de seu perfume. Dominava o
ambiente, com seu sorriso de rainha. Agradável, simples e digna. Você pensa que
a namorei? Mariza Raja Gabaglia estava
no ápice de sua fama e glória, como escritora e mulher. Sim, os anos 70, em
Ipanema. Saíamos de madrugada e esticávamos no Degrau. Ou em algum botequim
operário, onde era possível encontrar Mário Henrique Simonsen falando de ópera.
Sim, vivi os anos 70. Tudo isso me sugere a Elizeth, a Divina. “Seu mal é
comentar o passado...” canta ela. Muitos foram os anos que se passaram, Elizeth
morreu. Morreu a Callas, o Onassis, a Jackie. Meu tio, meu pai e o empresário
J. Todos morreram. A vida está morrendo. Os anos morrem. A vida, eu a recebi,
um presente rico, como este disco da Elizeth.
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Um comentário:
OBRIGADO POR REPRODUZIR ESSE TEXTO....
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