João Veras
(para
toda pessoa humana)
A pessoa não é o corpo.
Não é o que fala,
o que consome,
o que imagina,
o que expele,
o que padece,
o que come.
Não é o que acena,
entristece,
tem pena,
a que põe mesa.
A pessoa não é o que beija.
Não é o copo que emborca,
o crime que presencia,
o pesar que ignora,
a doença que insiste.
Não é a dor que chora,
a leitura que não faz,
a encomenda que traz,
o filme que assiste.
Nem a alma que possui,
a crença que alimenta,
o fato que comenta,
a unha que rói,
a mãe que cuida,
a vida esquecida,
o pai herói.
Não é o que veste e o que desnuda.
Macho taludo, fêmea carnuda.
A pessoa é,
não sobejo,
todo o desejo,
o que quer.
08.12.2016
LA LIBERTAD Y LA FURIA EN MI CAMINO
João Veras
pego aquele martelo
que tá ali posto
sem nada fazer sem uso
e saio destruindo tudo que é concreto duro
consistente
pego tudo que é concreto duro consistente
que tá ali posto
sem nada fazer sem uso
e saio jogando contra as paredes muros e
cercas
pego aquelas paredes muros e cercas
que estão ali postos
sem nada a fazer sem uso
derrubo tudo ao chão
e saio de pisos leves
- quando então - para nada fazer e sem uso.
04.12.2014
NATUREZAS (de segundas intenções)
João Veras
as unhas crescem
eu corto
crescem de novo
torno a cortar
insistem
teimo
e vamos
o caminho é longo
até não mais crescer até não mais cortar
e quando?
sem renuncia
sem abandono
nenhum de nós
até o fim?
e vamos
11.11.2014
ARTISTAS DA TERRA
João Veras
São quatro
O um, que acha que é
O dois, que dizem que não é
O três, que sonha ter nascido em marte
E o quatro
Engarrafados em frascos de si
Pratas esvaziadas de êxito fabril
Circulam na esfera do quintal
Esse universo bastante
abarrotado de tantos quês!
Cada um é um
Mas só alguns são
02.03.2017
DESCULPA, É A GUERRA DOS CULPADOS
João Veras
Acre 21: matadouro de humano
Um parente, um conhecido ou qualquer sicrano
Todo dia alguém assassina alguém
Quem foi dessa vez, quem?
Nunca se sabe o que aconteceu.
E vai restando uma certeza impura
nessa concentração de loucura:
o culpado é sempre quem morreu.
01.03.2017
REALEZA SEM IMPÉRIO NO CARNAVAL DOS COMUNS
João Veras
Eu não vi, fugi!
Na cidade
o chic lebreu dominou os conforts cercados
E ao resto sobraram as coroas postiças
Sóis rei, princesas e rainhas
No carnaval que passou
Quanto riso, oh quanta agonia!
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