João Veras
sou rente como um pente e seus três dentes cariados
um barulho infernal como todo fumo sem fumaça
um engasgo de espinha de peixe
um mói de farinha na palma da mão
bagana escondida em caixa de fósforo vazia
lâmpada queimada acesa
um desuso novo
uma presa
aquele intruso imediatamente identificado
mil parafusos correndo sem cabeça
dois aplausos vaiados dentro do quarto desarrumado
um ninguém que mereça
eu sou quem não sou quem pensa que sou
um e muitas vezes três vezes seis
uma moeda de um centavo achada no bolso falso
um poema sem poesia de qualquer academia
um percalço
um trema desorientado em busca de uma letra para sentar
como ex desejo não querendo
como bicho torto mal desentortado
um pacote de prego sem perdão
foguete no chão sem centelho
um escrito e meio que não acaba com nada
uma postagem de ontem
um crente sem fé
e um monte
(de saco cheio)
de café.
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