terça-feira, 25 de agosto de 2020

UM MONTE (ensaiando o mistério)

João Veras

 

sou rente como um pente e seus três dentes cariados

um barulho infernal como todo fumo sem fumaça

um engasgo de espinha de peixe

um mói de farinha na palma da mão

bagana escondida em caixa de fósforo vazia

lâmpada queimada acesa

um desuso novo

uma presa

aquele intruso imediatamente identificado

mil parafusos correndo sem cabeça

dois aplausos vaiados dentro do quarto desarrumado

um ninguém que mereça

eu sou quem não sou quem pensa que sou

um e  muitas vezes três vezes seis

uma moeda de um centavo achada no bolso falso

um poema sem poesia de qualquer academia

um percalço

um trema desorientado em busca de uma letra para sentar

como ex desejo não querendo  

como bicho torto mal desentortado 

um pacote de prego sem perdão

foguete no chão sem centelho

um escrito e meio que não acaba com nada

nem receio

uma postagem de ontem

um fake desconfiado

um crente sem fé

e um monte

(de saco cheio)

de café.

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