32
Foi bom te ler, poeta
já que temos em comum a salada de alface,
a lua do bosque particular,
e o que mais?
Posto que, depois da infância,
da juventude e dos barrancos,
só restaram borrões,
esse filme que às vezes nos faz rir
quase nunca chorar.
As lágrimas drenam.
São rios parados,
fragas polindo o mar.
33
Perdoem se
nada traduzo
nem deixo gravado.
Pois tudo me agarra
e me puxa
evitando esse abismo.
Então me distraio
diante de algumas sobras
que inflamam a quietude dos zéfiros,
detonam
meus sapatos de areia.
34
Até que venha outro dia
lavado como se
lava
uma peça de açougue,
nada mudará
por quem o testemunha.
55
Algumas coisas
chegam
tarde demais.
O tempo é a
Nossa ausência.
63
Se meu coração
é fenício,
minha letra
é o sol
no talhe das
palmeiras.
84
Faz poesia o
chinelo deixado nas
ruínas do
alpendre.
Faz poesia o
tanque da
casa entregue aos
ermos.
Faz poesia o
balanço que
embala a
saudade.
Faz poesia o
graveto
no meio da
coivara.
Faz poesia o
anjo de
costas para a
galáxia.
Faz poesia o
menino que
inventa os sons
da palavra.
Faz poesia o
copo no
sono das
moscas.
Eu não faço
poesia.
88
Cantei amor
contei os dias,
busquei entre
absurdos o
algarismos das
cisternas.
Cercado por
tantos algozes
alinha-se
-avulso- o
hexagrama do
nojo.
91
Nestes remansos
urbanos
fotografo os
telhados.
Vésperos gatos
demarcam soli/
tudes.
TUFIC, Jorge. Guardanapos pintados com vinho. Fortaleza: Realce Editora e Indústria Gráfica, 2008.
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