Max, magro poeta
Max, magro poeta
na paz dos prados de aquarela
acaso amaste o lírio
colhido às pressas
entre os teus sapatos?
Será que encontraste
em contraste com a flor
a ponta do punhal
dentro da flor?
Procura no teu bolso a bússula
e a âncora no teu peito
deste barco prestes a partir
de tua garganta.
Na quilha enferrujada,
na popa ressequida
descobrirás a ilha.
Magro poeta, o sol dos muros
ainda anotas
mas, e o sal que escorre
dentro das pedras?
Ao pouso inesperado duma asa,
contempla a mosca:
no seu ventre ferve-lhe o poema. p. 31
Apelo
Alma dos que amei trazei
neste minuto de sombra e lodo
o que vos dei no sangue de meus sonhos mortos.
Conjugai – almas que teci – as flores brutas
dos cantos e dos gestos que vos dei.
Almas dos que ergui do chão partido
tais como pedras fecundadas
alimentai o incontido espasmo duma chama
translúcida, azul-vermelha.
Sombras que já pousaram em minha boca,
como se num lago – chegai. p. 43
Variação do tema A
Meiodia entre o macho
a pino
e a fêmea tensa
ao meio
o sol crispa seus raios
estica-os
enlaça
e torce
o torso todo
do colo ao ventre
entre peles-pelos
corta a corda
última
que vibrava
partida agora
a bolha efêmera cresce
na sombra e
sobra. p. 56
O amor ardendo em mel
Morder! morder o
hímen adocicado
– frêmito de lâmina
entre duas coxas
do polo ao pólen.
E o apolo laminar morder
Morder os bicos dos figos
antes que murchos
antes dos dentes
sempre morder
e jamais sugar
da lua a sua ferrugem.
Morder somente a sua semente
antes de agora
antes da aurora
morder
e arder em mel
o amor. p. 57
MARTINS, Max. Anti-retrato: poesia. Belém: ed.ufpa,
2018.
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