domingo, 21 de maio de 2023

AGULHA DE COSER O ESPANTO: Diego Mendes Sousa

Depois de “Rosa Numinosa” (2022), o poeta parnaibano Diego Mendes Sousa apresenta, ao público, a obra “Agulha de coser o espanto” (2023), o seu mais recente poemário, publicado pelo Instituto Amostragem, do Piauí.

O livro traz um prefácio assinado pela saudosa Nélida Piñon (1937-2022). Com textos, ainda, do imortal Carlos Nejar, na quarta-capa; e a orelha assinada por João Carlos Carvalho, estudioso da obra completa do poeta. A capa e as ilustrações são de autoria de Irineu Santiago.

Nélida Piñon, assim destacou, no prefácio:

“uma poesia bela, muito poderosa, um fluido de vida. (...) E tem um percurso brilhante, de bela genealogia épica e lírica, com traços da grande prosa (e com traços bíblicos), além do mergulho na origem sentimental das pessoas, de cada existência (...)”

Diego Mendes Sousa nasceu em Parnaíba, no litoral do Piauí. Poeta, jornalista, advogado, indigenista, com atuação em Cruzeiro do Sul, vale do Juruá, Acre. É autor de Divagações (2006); Metafísica do Encanto (2008); 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (2010); Fogo de Alabastro (2011); Candelabro de Álamo (2012); Alma Litorânea (2014); Coração Costeiro (2016); O Viajor de Altaíba (2019); Gravidade das Xananas (2019); Tinteiros da Casa e do Coração Desertos (2019); Velas Náufragas (2019); Fanais dos Verdes Luzeiros (2019) e Rosa Numinosa (2022).

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AVE DOÍDA

 

O poeta

é aquele

ser risível

que opera,

pesa, sente,

sangra

e galopa

insano.

 

Dói

o espanto

e se

descoisificam

os nomes.

 

Como dói o espanto?

Como dói o espanto!

Como dói o espanto.

 

O poeta dói-dói

é essa ave doída

ridícula e ferida

que sonda

o abismo

o tempo

a vida

 

as ruínas

 

e voa

só voa só voa 

só voa

 

***

 

CERTEZA

 

Poesia

é o pássaro

afogado

no mar

 

o peixe alado

sobre a terra

firme

 

a luz fugidia

na manhã

 

o diáfano 

no deserto

 

o rosto

sem tempo

 

a matéria

sangrenta

 

o vento

estático

da vida

 

e o segredo

 

Poesia

é a fé

e a febre

 

a dor e o amor

 

o olhar

no silêncio

e o degredo

 

a mudez do grito

a vela do incêndio

a ausência

do destino

 

Poesia

é o pensamento

é o sentimento

é o deslumbramento

desse canto

amargo

 

Antes de tudo

e depois do nada

 

o fim do começo

e o início do fim  

 

Poesia

é a mãe

do mistério

e a solidão 

da sombra

 

(a casa

íntima

da alma)

 

Poesia

é a agulha

de coser

o espanto 

 

a vaga lírica

a tristeza da alegria

magra

 

o encanto

 

* * *

 

CONSTATAÇÃO

 

Poesia

é uma coisa

de doido.

 

* * *

 

REVELAÇÃO

 

Poesia é uma doída

consoada ao nada.

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