Depois de “Rosa Numinosa” (2022), o poeta
parnaibano Diego Mendes Sousa apresenta, ao público, a obra “Agulha de coser o
espanto” (2023), o seu mais recente poemário, publicado pelo Instituto
Amostragem, do Piauí.
O livro traz um prefácio assinado pela saudosa
Nélida Piñon (1937-2022). Com textos, ainda, do imortal Carlos Nejar, na quarta-capa;
e a orelha assinada por João Carlos Carvalho, estudioso da obra completa do poeta. A capa e as ilustrações são de autoria de Irineu Santiago.
Nélida Piñon, assim destacou, no prefácio:
“uma poesia bela, muito
poderosa, um fluido de vida. (...) E tem um percurso brilhante, de bela
genealogia épica e lírica, com traços da grande prosa (e com traços bíblicos),
além do mergulho na origem sentimental das pessoas, de cada existência (...)”
Diego Mendes Sousa nasceu em Parnaíba, no
litoral do Piauí. Poeta, jornalista, advogado, indigenista, com atuação em
Cruzeiro do Sul, vale do Juruá, Acre. É autor de Divagações (2006); Metafísica
do Encanto (2008); 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (2010); Fogo
de Alabastro (2011); Candelabro de Álamo (2012); Alma Litorânea
(2014); Coração Costeiro (2016); O Viajor de Altaíba (2019); Gravidade
das Xananas (2019); Tinteiros da Casa e do Coração Desertos (2019); Velas
Náufragas (2019); Fanais dos Verdes Luzeiros (2019) e Rosa
Numinosa (2022).
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AVE DOÍDA
O poeta
é aquele
ser risível
que opera,
pesa, sente,
sangra
e galopa
insano.
Dói
o espanto
e se
descoisificam
os nomes.
Como dói o espanto?
Como dói o espanto!
Como dói o espanto.
O poeta dói-dói
é essa ave doída
ridícula e ferida
que sonda
o abismo
o tempo
a vida
as ruínas
e voa
só voa só voa
só voa
***
CERTEZA
Poesia
é o pássaro
afogado
no mar
o peixe alado
sobre a terra
firme
a luz fugidia
na manhã
o diáfano
no deserto
o rosto
sem tempo
a matéria
sangrenta
o vento
estático
da vida
e o segredo
Poesia
é a fé
e a febre
a dor e o amor
o olhar
no silêncio
e o degredo
a mudez do grito
a vela do incêndio
a ausência
do destino
Poesia
é o pensamento
é o sentimento
é o deslumbramento
desse canto
amargo
Antes de tudo
e depois do nada
o fim do começo
e o início do fim
Poesia
é a mãe
do mistério
e a solidão
da sombra
(a casa
íntima
da alma)
Poesia
é a agulha
de coser
o espanto
a vaga lírica
a tristeza da alegria
magra
o encanto
* * *
CONSTATAÇÃO
Poesia
é uma coisa
de doido.
* * *
REVELAÇÃO
Poesia é uma doída
consoada ao nada.
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