Quando criança
descia o barranco
e subia
com um vaso de água na cabeça
Quando criança
ia brincar no terreiro
de pega-pega
e brincadeira de roda
Quando criança
se balançava
no galho de árvore
cantando música sertaneja
Quando criança
ajudava os pais
a apanhar arroz
no roçado
Quando criança
ia para a casa de farinha
descascar macaxeira
Quando criança
ganhava o campo
à procura
de ovos de galinha
Quando criança
tomava banho no igarapé
Comia maracujá brabo
do mato
Quando criança
passava horas
olhando o gado
ruminando capim
Quando criança
brincava na praia
enquanto o pai
jogava a tarrafa
para pegar Bodó
Quando criança
tomava banho de chuva
enquanto colocava o bezerro
no curral
Quando criança
vi um galo-de-campina
sob os galhos
do pé de Tangerina
Quando criança
comeu Mudubim
que os indígenas
ofereciam
quando iam subindo o rio
quando criança
era feliz
e hoje mais ainda
de lembrar
o passado
de quando era
ainda uma criança p. 44-47
֍
Vivência nos campos do Seringal
Na janela
da cozinha
ela quase tocava
com suas mãos pequeninas
as folhas da laranjeira
Pela brecha do Jirau
observava o gado colhendo capim
Sob o trapiche
a galinha caipira
em panela de alumínio
Águas vermelho colorau
no fogareiro
Descia o barranco
até a Cacimba
Uma vertente
águas borbulhavam
entre areias
Subia o trapiche
com balde de água
para tratar os peixes
O pai trazia do lago
"Mandi, Mocinha, Surubim"
Ela nunca imaginará
deixar
aquela
vida no campo
do Seringal p. 80-81
֍
O rio
se fez
se fez
como cobra
o rio
adentrou
a mata escura
e se fez
O rio
transportou
sonhos de liberdade
O rio
cuspiu a cidade
e se desfez p. 92
MORAIS, Luciane. Dos galhos de uma Árvore Teci
Versos Acreanos. Maringá: Viseu, 2025.
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