segunda-feira, 14 de março de 2011

O ÚLTIMO ADEUS

Em memória do barracão centenário do Seringal
Vitória Nova, Rio Muru, em ruínas.
Um dos únicos símbolos da era da borracha
na região de Tarauacá - AC.

“1911” lê-se acima de teu batente!
Há cem anos mira com teus quatro olhos,
embora cansados e feridos,
os homens que passam até desaparecer
engolidos pela curva do rio.
Em cada tábua há pedaços de segredos
deixados pelos homens...
Em cada telha há respingos de vozes
que aindam ecoam pela sala deserta...
Em cada anoitecer há chamas de lamparina,
a alumiar as lembranças que aí permanecem...
Os homens passam ignorantes da história e
tu permaneces em teu mutismo sabedor.
O navio gaiola Gilberto, a naufragar,
e tu presenciaste;
as balsas de borracha, a descer rio abaixo,
e tu presenciaste;
os patrões em seus coronelismos,
e tu presenciaste;
os regatões em suas negociatas,
e tu presenciaste;
os seringueiros com suas pélas de borracha,
e tu presenciaste;
os domingos de aviamento no barracão,
e tu presenciaste;
os carros de bois saindo para os centros,
e tu presenciaste;
os guarda-livros atenciosos em seus livros-caixas,
e tu presenciaste;
as novenas e terços em dias especiais,
e tu presenciaste;
as chuvas torrenciais e os repiquetes,
e tu presenciaste;
as sortes, as desavenças e as esperanças,
e tu presenciaste...
As mãos que te ergueram onde estarão?
Elas, quem sabe, não te deixariam padecer.
O verdadeiro artista há de sempre respeitar
as obras de suas mãos!

Oh, ironia! Aqueles que podem não fazem
e os que querem não podem!
Até quando aguentarás o descaso dos homens
e as mãos esfaimadas do tempo?


~ Isaac Melo ~



Um comentário:

Luciane Moraes disse...

Bom dia Isaac!

Meus Parabéns! Que belo poema.
Poesia da terra...da floresta...encantos poéticos principiados por uma memória de resguardar o passado. O lugar entre suas ruínas esconde segredos...

Abraçso,
Lu