quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

SERINGAL - Isaac Melo

Saudades! Tenho-as
até do que me não foi nada,
por uma angústia da fuga do tempo
e uma doença do mistério da vida.

Fernando Pessoa
Às margens do Rio Acre
a recordar o meu Tarauacá
sentir um aperto no peito
ao ver as águas a galopar
sob o corcel de um repiquete
e por um momento juro que vi
enquanto gorjeava o canoro Bem-te-vi
os navios gaiolas a atracar
uma multidão a acenar
outras a chorar...
vi balsas de borracha
vi regatão
vi seringueiros
vi batelão
vi catraieiros
              pra lá e pra cá...
vi o banzeiro
e o remo a fazer
              chuá, chuá...
À minha saudade que vive a vagar
por entre igapós e matagal
vou abrir seringal
onde possa enfim descansar...



* Versinhos dedicados à Leila Jalul, Luísa Lessa e Simone Bichara.
** Foto Araújo - Rio Branco em Heróis do Acre.

Um comentário:

Luísa Galvão Lessa Karlberg disse...

Caríssimo Isaac,
Embora tenha idade, estou em fase de aprendizagem e somente hoje li esse teu belo poema, que dedicas à Leila, a mim e a Bichara. Tu és um lord, não mereço tanta fidalguia. Traduzo minha emoção e gratidão numa palavra: Obrigada!