Eduardo Alves da Costa
A poesia agoniza e eu choro
com medo de perder a vaga
de poeta.
Os mais velhos recomendam
cautela com a emoção,
repouso,
caldo de galinha
e linguagem à antiga.
Os fatalistas lamentam o cinema
e chamam ao nosso sáculo
o das artes visuais.
A
televisão é a culpada
– sentencia um jornalista
versado em filatelia,
enquanto uma equipe
de cirurgiões estetas
luta para livrar o coração da enferma
de adiposidades românticas.
E eu, que havia programado
uma carreira nas letras,
seguro a caneta
“como um boi a olhar para um palácio”.
Cruzo na sala de espera
com médicos anestesistas
concretistas
praxistas
e derrubo uma bandeja
de letrinhas coloridas,
espaços em branco,
ideogramas chineses,
balas
belas
bílis
bolas
bulas
e seringas.
Quando dou por mim
estou chutando um caranguejo
e comendo bala de goma
e limpando um cisco na dragona
enquanto o dragão não vem.
Quero ver quem tem
coragem para contestar
leva rasteira quem se levantar
e toma golpe de caratê
e cotovelo na cotovia
e samba de breque
teleco-teco
peteleco na orelha
– segura meu chapa! –
e é só esteta voando
contra a parede
com nariz de sangue
e olho inchado de levar porrada.
Abro a porta
e mando a doente
sair pela tangente
com um tapa no traseiro
e outros babados.
A
menina não tem nada, minha gente.
Vai,
morena, pega teu rumo
e toma
tento
que
essa frescura
te
mata.
COSTA, Eduardo Alves da. No caminho com Maiakósvki:
poesia reunida. São Paulo: Geração Editorial, 2003. p.38-39
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