segunda-feira, 2 de outubro de 2017

NOSSA ANTIGA CIDADE DE RIO BRANCO, TRANQUILA E INESQUECÍVEL

Gilberto A. Saavedra 
Foto: Américo de Mello

Para quem conhecera Rio Branco, capital do Acre, no passado e a visita hoje, deve notar uma diferença muito grande comparada com a cidade dos anos de 1950 até em 1970.
Antigo aeroporto de Rio Branco.
Sua população de 70.000 mil pessoas, já na década de 70 (século XX), deixava-a quase que, se conhecendo toda, quando não pessoalmente, mas de vista, sim.

Era ainda uma cidade muito pequena e calma, onde se dava um bom dia, quando as pessoas se cruzavam entre si.

Todos em seus bairros se conheciam e, com essa interação, a maioria se tornava amiga.
Colégio Acreano
Essas amizades geralmente, entre os pais, e às vezes também com os filhos.

E assim ela se movimentava em sua rotina diária pelos quatro cantos, ou melhor, pelos dois lados.

Há um rio, que banha Rio Branco, o rio Acre, dividindo-a em dois lados chamados de ‘Distritos’.
Catraias que faziam a travessia entre um distrito e outro. Foto Araújo.
A cidade era bem tranquila, e qualquer notícia boa ou ruim logo se sabia.

Ainda não existia a Televisão na capital; a rádio Difusora Acreana (1944), Novo Andirá (com início em 1966) e o Jornal ‘O Acre’ (de tiragem semanal), eram os meios de comunicação mais importantes que informavam os acontecimentos.

Crimes diários não tinham. Havia um receio mesmo, era de assombrações à noite, pelas vazias e silenciosas ruas rio-branquenses. Falava-se em ‘Burra de padre”, Lobisomem e fantasmas (almas do outro mundo).

Nesse tempo tinha um moço chamado ‘Pega unha’ que apavorava qualquer mocinha. Mas, já tinha cumprido a pena de reclusão pelo que tivera praticado, e já era um bom cidadão.

Os que são desse período 50/70, se recordarão nos microfones da emissora pública, de Garibaldi Brasil, Alfredo Mubarac, Sérgio Brasil, Diomedes Andrade, Jacira Abdon, Índio do Brasil, Vilma Nolasco, Natal de Brito, Cícero Moreira, Mota de Oliveira Orsetti, Anselmo Sobrinho, Paulo Farias, José Lopes, Estêvão Bimbi, José Conde, Mauro Modesto, José Valentim, Altemir Passos, etc.
Natal de Brito ao centro.

Muita gente, ainda em (1950/60), não possuía um rádio transmissor em casa; se deslocava à noite para à frente do Palácio Rio Branco, sede do governo estadual, onde estava instalado um serviço de alto falantes na antiga Secretaria de Agricultura (um prédio verde construído em madeira de lei).

Ali as pessoas escutavam principalmente, as mensagens e o Noticiário Oficial do governo.

Mesmo sendo uma cidade pequena o seu abastecimento era precário. Muitas e muitas vezes era preciso se antecipar na hora do mercado se quisesse adquirir um produto alimentício, principalmente, no final de semana.

Tudo acabava logo; tinha que se levantar cedo da cama (na madrugada) senão não levava nada para casa.

Fui muitas idas e vindas com o meu pai e às vezes também com minha mãe. Adorava ir. Sempre saboreava o famoso mingau de bananas ou o gostoso Mungunzá (para nós – Muncunzá), Pé de Moleque, Tapioca, Beiju, Pamonha, Cuscuz, Saltenha, Açaí, Tacacá etc.

Quando faltava o pão na cidade, tinha também que se levantar muito cedo mesmo, e se deslocar até às padarias que estivessem produzindo o pão.

Nessa época tínhamos diversas padarias: dos Lameira na Base; Prevoste (Fialho) no Centro; Laureano na Avenida Getúlio Vargas (pai do saudoso amigo Francisco, nosso querido pranchão); Senhor Jesus, na Cerâmica; Zé da Horta e Espanhol no Bosque, etc.
Avenida Epaminondas Jácome, centro.
O pão era delicioso. Acho que não tinha essa química de hoje. Nessa época de escassez da farinha do trigo, cada pessoa que comparecia à padaria, não podia comprar mais de dois pães que, eram enormes.

Lá em casa, quando não havia o pão na cidade, se alimentava pela manhã com cuscuz (pão de milho); aipim (macaxeira); abóbora (jerimum) ou uma farofa de carne seca (nossa conhecidíssima e gostosa jabá).

O quintal de casa era bem grande, meu pai (e eu), plantávamos tudo que podíamos colher: milho, macaxeira, além de mangueira (cinco); coqueiro (dois); graviola; fruta de Conde (Ata) e abacate. Quando o meu pai colhia todo o milho, logo, já plantava o aipim.

Minha ex-cunhada, amiga e saudosa Professora Terezinha Saavedra, era uma especialista no preparo de cuscuz, bolinho de macaxeira (aipim) e farinha de milho.

Tenho muita saudade desse tempo difícil, porém gostoso e inesquecível.
Maternidade Bárbara Heliodora
Divertimento público para a criançada, lembro-me do cine Biriba, no bairro do Papoco (com o nosso saudoso José Lopes, mais tarde Radialista e Advogado).

Era ele que comandava o espetáculo para toda a gurizada feliz. São muitos os filmes que ainda guardo em minha memória desse cine.

Nunca me esqueci dos seus fortes ventiladores de pés, que produziam um barulho ensurdecedor (quando se ficava próximo deles), e o amigo e saudoso José Lopes sempre dando um jeito neles para um bom funcionamento.

Matinês no cine Rio Branco, também eram muito proveitosas. Os famosos seriados de capa e espada do Rei Arthur, sempre encerravam cada capítulo numa cena emocionante.

O público mirim gritava de alegria. Do outro lado o cine Recreio também, não ficava por baixo.
Cine Teatro Recreio. Foto Araújo.
Também tinha um bom circuito de filmes. Nunca me esqueci de um filme nacional
Imagem do filme "Arara Vermelha".
chamado de “Arara Vermelha”. Um filme de Tom Payne com a bela Odete Lara, Milton Ribeiro e Anselmo Duarte (o galã da Atlântida).

Foi um bom filme rodado na região do Araguaia, sobre a descoberta de um diamante azul e vermelho.

Foi um tempo inesquecível, que jamais voltará.

Os bailes eram famosos: no clube do Rio Branco a tradicional sociedade Rio-branquense; na Tentamen era mais associativa e, na SBORBA o povão em geral.

Tínhamos ainda o clube do Vasco e mais recente o Juventus, clube da juventude, além, de um clube recreativo militar, pertencente ao Exército (antiga 4ª Cia de Fronteira).

Os Mugs, os Bárbaros e o Crescêncio Santana agitavam os bailes carnavalescos.

Na praça em frente ao palácio do Governo, aos domingos, retreta com banda de música da guarda.

O Sargento Horácio comandava o espetáculo musical.

Homenagens aos maestros Holdernes e Raimundo Neves e aos músicos Sandoval dos Anjos, Mário do Carmo Pires, Elias Ribeiro Alves, (Sargentos): Xolada, Deca, Souza, Zuza, Adonias, Edmundo, Cleomendes, Juvenal, Zé Paulo, (Tenentes) Belarmino, Zeca Torres, Vitor, e ao querido Capitão Pedroca (Pedro Vasconcelos Filho), autor da belíssima composição “Canção do Soldado Acreano” (dobrado).

Depois da novena, as moças abraçadas entre si, desfilavam descendo e subindo à praça dando um toque especial de elegância da mulher acreana.

No estádio José de Melo, era um show à parte. Muitos desses antigos e inesquecíveis craques, deveriam ter com certeza, uma grande chance em outras plagas, se o tempo fosse o de hoje.

Quem não se lembra de Pedro Sepetiba, Toca, Boá, Guimarães, Onofre, Orsetti, Zé Cláudio, Bararu, Alicio Santos, Édison Urubu, Irié, Tião Macaco, Mozarino, Pedro da Burra, Escurinho, Dudu, Caetano, ‘Zezinho Pestana Branca’, Curitiba, Pipira, Helinho, Tinoco, Arigó, Cidico, Clóter, Campos Pereira, Antônio Leó (Leco-Leco), Adalberto Pereira, Kikito, João Carneiro, Bico-Bico, Nemetala, José Maria, Edson Carneiro, Nostradamus, José Augusto, Klerman, Benevides, Ivo Neves e o famoso Dadão. E muitos craques que deixaram de ser citados.

Piqueniques na Sobral, em sítios, no aviário etc.
Antiga Estação Experimental Agrícola de Rio Branco.
Não há como esquecer esses momentos prazerosos e tranquilos de nossa antiga, tranquila e querida Rio Branco. 

Muitas lembranças desse tempo passado.
Bar Municipal, ainda em funcionamento.

2 comentários:

Raimundo Carlos - Dindola disse...

É um acervo histórico maravilhoso! Que iniciativa louvável! Parabéns ao Alma Acreana e a todos que contribuíram com esse belo dossiê, que ficará para a posteridade. Obrigado! Raimundo Carlos de Lima, cruzeirense, residente em Cuiabá-MT.

Jerônimo Pernalta disse...

Sou Eduardo De Moura, 80 anos, carioca mas radicado em Manaus (AM) há 60 anos e sou apaixonado pelas coisas deste Norte. PEÇO MO FAVOR a quem gostar da cultura nortista, dos antigos seringueiros e que conhecer uma velha canção que tinha um trecho assim: "...vendo meus amigos do alto baixando e eu sozinho ficando sem poder voltar..." que, se possível, me revele e envie toda a letra dessa música bem como outras referências e MUITO AGRADECEREI. Era uma música que uma das minhas tias-avós (Zuleika Mercedes De Moura) cantava. Peço contatarem para E-mail: deutchesafrikakorps@gmail.com ou telefonar para (92) 9.8207.5161 (mesmo zap-zap). Mais uma vez MUITO OBRIGADO!