Apesar da ausência
sistemática dos governos locais no campo do apoio às artes (isto para mim é tão
evidente quanto a luz do sol), o teatro acreano segue a sua jovem tradição
local de sempre reexistir. Não importa se esta reexistência, esta de agora, não
ocorra no campo social frente às políticas culturais que têm feito as
mesquinhas contas dos governantes e seus pobres asseclas aumentarem. As
organizações artísticas já jogaram a toalha faz tempo. Conselhos de cultura
moribundos vagueiam como múmias agarradas aos restos mortais de uma
legitimidade podre, fedida. Restando o império da mudez conivente para muitos
diante de tais políticas enganosas que acham que vencem no cansaço de nossas
paciências cidadãs. O que, felizmente, não tem abalado o fazer teatral.
Sigamos.
Esta bem dita
reexistência de que quero falar tem se manifestado de duas maneiras. Uma, por
existir por si só. Fazer teatro apesar da falta de apoio estatal. O teatro não
precisa do Estado nem do mercado. Não precisa de verba nem de público. Claro
que precisa disso, mas a ausência disso não é impedimento, não determina a sua
existência. Somos prova viva disso. Não cair no canto da sereia do
financiamento governamental que imobiliza se não tiver edital. A velha tática
do controle da inventividade e criticidade artística pela finanças. Fazer
teatro como uma necessidade social e não só servível como artefato de consumo
do entretenimento que tanto anestesia quem faz e quem assiste. A outra maneira
de resistência se opera pelo o que justifica não fazer teatro só para divertir
plateias. O teatro é também um meio de expressar e problematizar os incômodos
de uma sociedade em seu tempo e suas crises políticas e também estéticas de
hoje. Viver as agruras do cotidiano e ir para o teatro para esquecê-las, como
quem vai para o cinema de shopping ver o mata-mata dos super-heróis americanos?
O que quero dizer é que, apesar de todo o esforço e investimento, os governos
autoritários, estes que são inimigos da liberdade de expressão e da criação
(sobretudo se críticas às suas estratégias de poder), não conseguem calar a
arte local. E o teatro acreano não está calado. Todo o subliminar investimento
em silenciá-lo – como quem silencia um ator social puramente político (partidos,
sindicatos, associações... e seus falsos dirigentes) - não tem obtido o
esperado resultado. A morte simplesmente.
E esta reexistência
da qual me refiro não precisa se manifestar a título de um panfleto político, a
do discurso direto e compromissado com bandeiras (coisa de partidos,
sindicatos, associações e seus falsos dirigentes...), a do manifesto puro e
objetivo contra seja qual for o modelo de poder censurante, opressivo e
totalitário. Estamos no campo da estética. Por ele, o discurso se impõe envolto
aos estatutos das linguagens artísticas, de outro patamar e substancia
expressivas e éticas, seja pela sua diversidade, de concepção e sentidos
abertos em suas plurissignificatividades, seja em seu compromisso com a
experiência de toda forma de liberdade de expressão, criativa, imaginativa e
também concreta não suportada pelo ambiente e modelo de poder censurante,
opressivo, totalitário.
Dizendo isso, para mim é mais fácil compreender que, enquanto o
movimento social se cala ante as estratégias do poder político local
censurante, opressivo, totalitário (e quando se manifesta é, comumente, pra
trocar o 6 pela meia dúzia), é possível ter contato com as narrativas –
posições - intranquilas dos fatos políticos, sociais e culturais de que temos
sido vítimas, o que tem sido possível também pelo olhar deste teatro acreano
que ainda resiste. Para a ciência de todos, minha sugestão é que se frequente o
Teatro de Arena do Sesc em sua programação cênica – o que vi ano passado e
estou vendo este ano.
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