COMEÇA este poema
na noite em que o grande violeiro — Chico Mindélo, de volta ao Ceará,
depois de uma ausência de sete anos no trabalho dos seringais, no Amazonas, a
pedido do povo do sertão, vai contar o que se passou consigo, por aquelas paragens.
Terra Caída são as
terras que se desmoronam, à margem do rio, com fragor, levando grande extensão
de frente e fundos.
TERRA CAÍDA
Catulo da Paixão
Cearense (1863-1946)
Ao
insigne Mário José de Almeida
Faz hoje sete
janêro
que eu dêxei o
Ciará,
e rumei lá prô
Amazona,
a terra dos
siringá.
N'aquelas mata
bravia,
lá, nos centro
arritirado,
as arve tem munto
leite,
mas nós já tâmo
cansado!
O inverno, n’aquele
inferno,
é uma grande
internação!
No inverno não se
trabaia,
que é o tempo da
alagação.
Isperei. Veio o
verão.
É mais mió não falá!...
Tú qué sabê, meu
amigo,
o que é os
siringá?!
É trabaiá...
Trabaiá!
É um hôme se
individá!
É vive n’uma
barraca,
N’um miserave
casebre
e sê ferrado da febre,
e sê ferrado da febre,
que anda danada prú
lá!
É trabaiá, trabaiá,
dênde que rompe a
minhã,
prá de dia sê
chupado
pulo piúm, que é
marvado,
e de noite sê
sangrado
pulo tá carapanã!!
É um hôme dá todo o
sangue
prô mardito do
piúm,
e vortá mais
disgraçado,
cumo eu — o Chico
Mindélo,
duente, feio e
amarelo,
cumo a frô do
girimúm.
Ansim, lá dos
siringá,
no fim de três, de
três ano,
sem um vintém
ajuntá,
ia vortá prá Manáu,
tãndo fixe na
tenção
de Manáu vim prô
sertão
do meu quirido
Ciará.
Apois!... siguindo
os consêio
que me dava o
coração,
arrêzôrvi não
vortá!
N’um terreno, im
ribancêra,
na bêra mêmo do
rio,
despois d’um ano
gastado
de trabaio cum o
machado,
prá aquelas árve
gigante
na derrubada quêmá,
incoivarei um
roçado
e cumecei a prantá:
feijão, mio,
mandioca,
e fui filiz no
lugá.
A terra era munto
bôa
prá fazê um
roçadão:
tão bôa, que era
percizo
vivê cum a inxada
na mão!
Se um hôme
mamparriasse,
a imbaúba, a
gitirana,
o mata-pasto, a
caíva,
o taxizêro danado,
o taquarí... n’um
instantinho,
tudo cubria o
roçado.
“Cabôco Onça” era
ansim
que eu ali era
chamado.
Apois, no fim de
dois ano,
cumpade, eu já
pissuía
umas cabeça de
gado!
Mas porém, meu véio
amigo,
tudo o que hoje o
hôme faz,
n’outro dia Deus
disfaz!
____
indo a Igarapé-Assú.
onde tinha um
ajurí,
levou cum êle uma
fia,
quê se chamava —
Maibí.
O pagode, a festa,
o sambo,
era im casa d’um
rocêro
de nome: — Antônio
Truamba.
No pagode do
Truamba,
chorei tanto na
viola,
de noite inté de
minhã,
que a fermosa
cunhatã
teve uns caído prá
mim!
óia, a coisa foi
ansim.
A cabôca fez
premessa
de nunca mais me
isquecê!
Que pena não sabe
lê!
Ela disse tanta
coisa,
tanta palavra
bunita,
que eu, inté, nem
sei dizê!
Nunca tive tanta
pena
e tanta malincunia
de não sabe
inscreve!
Agora váíncês me
diga:
o que havéra eu de
fazê?!
A festa tinha
acabado!
Eu táva
diseambimbado!
Na hora que toda
gente
já táva se
adispidindo...
a muié táva
chorando!
Vendo a muié
saluçando...
fui assuntando...
assuntando.
e... odespois,
arresôrvi!
Pidí a mão de
Maibí!
Nos óio dos
cunvidado
correu uma
ispantação!
A cara dos namorado
de Maibí, naquele
instante,
ficou taliqá se
visse
uma grande
assombração!
Maibí ficou tão
contente,
quando o pai,
arrêzôrvido,
no meio de tôda gente,
satisfez o meu
pidido.
Eu não quiria!.... É
verdade!
Mas porém, era
mardade,
era mardade e
perrice
não crê naquelas
denguice
duma muié adorada,
nem nas coisa que
jurava
cum a sua palavra
honrada!
Apois, ficou
ajustado
que, despois de
mais dois ano
de trabáio no roçado,
nós havéra de casá.
Despois da festa
acabá,
a festa do seu
Truamba,
uns prá aqui,
outros prá lá,
cada um siguiu
viage.
A barraca do Paçú,
do véio pai de
Maibí,
ficava lá da outra
marge,
da outra banda do
rio,
num bunito
massapêz.
Só de três mês im
três mês,
eu fazia a
travessia,
(duas hora de canoa...)
prá hí vê a
curumim,
e só quatro mês
fartava
prás coisa chegá no
fim.
Zé Pacú dava um
pagode
no dia oito, im
dezembro,
que é o dia da
Cunceição!
Cum rézão ou sem
rézão,
João Capixaba, um
caúchêro,
das banda de Sairé,
me contou que a
cabôquinha
numa festa, im Caeté,
no dia de S. João,
só cum caquêro
dançou,
e prú via disso a
festa
im tempo quente
acabou!!!
Dei tempo ao tempo:
isperei.
O dia oito
chegou!!!
“vamo vê”, disse
cumigo,
“se o cabra não me
inganou.”
*
Naquele braço da
costa,
de todo lado se
via,
atupetada de gente,
as canoa, as
montaria.
Vinha decendo um
Gaiola.
Pequei na minha
viola,
e decí pulo
barranco!
A lua, branca
arupêma,
tôda redonda e
cheínha,
penêrava lá de
riba!
E o rio táva tão
branco,
cumo um montão de
farinha!
Remando naquela
hora
prá barranca da
outra marge,
um bando de montaria,
carregando os
cunvidado,
foi siguindo de
viage.
O Pacú era quirido
e cunhicido de tudo!
Vinha gente inté de
longe,
lá das banda do
Serudo.
Nunca vi tanta canôa
atupetada de gente!
As água mansa do
rio
se ria inté de
contente!
A noite táva bunita,
cum seus vistido de
chita,
da cô da frô dos
ipé
A noite infeitiça a
gente,
pruquê a noite é
uma miué!
Ansim, bunita e
fermosa,
cum uma saia toda
azú,
cheguei a pensá que
a noite,
a noite da Mãe de
Cristo,
tinha sido cunvidada
prá festa do Zé Pacú!
Sartei no barco
velêro,
e a viola
temperando,
bejei as águas do
rio,
e fui cantando e
cantando:
«Nosso Sinhô,
quando andava
pulos dizerto, a
rezá,
gostava de uví São
Pedro
na viola puntiá.
São Pedro diz que a
viola
foi feita, num disafio,
de canoa que êle
andava
cum o Cristo a
pescá no rio.
Não foi feita da
canôa,
mas porém da sua
cruz!
A viola ainda sofre
tudo o que sofreu
Jesús!
Quando Deus fez a
viola
e cumeçou a cantá,
seu coração ficou rôxo,
cumo a frô do manacá!...
Deus é o rei dos
violêro
quando canta o seu
amô,
nas corda santa da
lua,
que é a viola do
Sinhô!»
E fui remando...
remando..
E há duas hora eu
remava
e um bom cigarro
pitava
de páia de tauarí,
quando abispei a
barraca
do véio pai de
Maibí.
Mais umas duas
remada
e, entonce, filíz,
cheguei!
No porto, entre as
canarana
a igarite amarrei!
Ali, na bêra do
rio,
manso, cumo uma lagôa,
os cunvidado da
festa
vinha chegando e
sartando
duma prução de
canoa.
Nunca vi tanta canôa,
atupetada de gente!
As água mansa do
rio,
todo inrugado,
increspado,
se ria inté de
contente!
A casa táva no
arto!
Pulo um caminho
insombrado,
assubi pulo
barranco!...
isvisguei pulo
terrêro!...
Quebrei do lado da
mata,
onde tinha um
assacuzêro!...
A barraca do cabôco
táva tôda
inluminada
e quage tôda
afogada
numa moita de
abiêro!
Nas pórka e varsa e
quadrilha,
a dança táva
animada!
O somo da frauta e
a viola
se misturava cum o
chêro
das fulô dum
jasminêro,
que intrava pula
jinela!
A Mãe de Cristo,
tão bela,
num óratório enfeitada,
táva no meio das
véla,
morena e toda istrelada,
rezando, cumo uma
istrela,
na boca da
madrugada!
De repente, im toda
a festa,
donem um rumo mais se uvía!
O nome dela –
Maibí, –
de boca im boca
curria!
Um matêro ou um
seringuêro,
bateu parma no
terrêro,
e fez prá tudo um
siná.
Era o samba e era
ela,
era Maibí, quem
prêmêro
no samba vinha sambá.
Do lado da caiçára,
na quina da
ribancêra,
me iscundi atrás do
tronco
duma véia
piranhêra.
Quando avistei a
cabôca,
quage chorei de
verdade!
Ai, meu Deus, cumo
é bunita
a morte duma
sôdade!!
As viola gemeu de
novo,
e ela se-pôs-se a
brincá,
tremendo num
miudinho,
sem se arredá do
lugá!
Ao despois, a sala
tôda
correu num
sapatiado,
disafiándo prá
dança
os pobre dos
cunvidado,
que logo baxava os
óio,
ansim cumo
ínvregonhado.
As caboquinha,
inciumada,
já não pudia mais,
não!
Quando os noivo se
assanhava,
elas ferrava nos
braço
dos seus noivo um
biliscão.
Maibi quebrava no
côco
cum tanta
requebração,
que se a Maãe de Deus
sambasse
tarvez que váincês
jurasse
que quem sambava
era Ela!...
A Virge da
Cunceição!...
A Mãe de Deus, do
Sinhô!!!!
Nisto, um roquête
de parmas
im toda sala
istrondou!
Foi quando,
entonce, um vaquêro
ainda moço e temêro,
prá riba dela
imbicou!!!!
De camisa tôda
branca,
cum o peito todo
arrufado,
no pescoço
examurrádo
um lenço cô de
limão...
butão de ouro nos
punho!...
Purriba das carça
nova
um pezado
correntão...
O cabra,
remunhentando,
castanholando cum
as mão,
imbigando prá
morena,
requebrava as suas
perna,
no requebrado das
perna,
zunindo, cumo um
pinhão!!!
Quando o vaquêro
cansava,
ela ia arrecuando,
que nem si via os
seus pé!.. .
Quando o vaquêro
avançava,
ela ia arrecuando
fugindo, cumo a
marréca
da boca do
jacaré!!...
Se o vaquêro abria
os braço,
atirando uma
laçada,
Maibí fugia do
laço,
sortando uma
gargaiadá!
E agora é que ela
dançava
e os musgo a musga
apressava
e ela sambava,
sambava,
sem um momento
apara!...
“Ai, meu tempo!”
num gimido
gritava as véia
aculá!
Xingava as véia os
marido,
que alevantando os
pescoço,
xingando tombem as
véia,
dava parma, cumo os
moço,
vendo o demônio
ródá!
Deus me perdoe a
hirizia!
Mas porém, eu vi a
Santa,
eu vi a Virge
Maria,
batendo parma do
artá!
O vaquêro,
arenegado,
ficou num canto,
isbarrado,
Capíongo,
discunchavado,
sem quáge pudê falá!
Tinha cansado o
marvado!
Já não pudia sambá!
E o pai, óiando prá
ela,
e achando a fia
mais bela,
acendeu o seu
cachimbo,
e... era pai...
pôs-se a chorá!
Entre as nuve de
puêra,
a cabôca paricia
taliquá dos
capuêrão,
doida, às tonta e
às marrada,
fugindo entre os
ispinhêro,
dum valente
boiadêro,
pulos mato do
sertão.
Entonce,
currupiando,
sem tomá fôrgo na
dança,
a móde cumo
criança,
abria a boca
dengosa,
e entonce a língua
trimía
entre os dente da
cabôca,
querendo saí da
boca,
cumo uma cobra de rosa.
Os dois copuassú
morêno,
maduro, fresco,
fermoso,
dois curumim
vregonhoso,
que ninguém pudia
vê,
pru báxo daquelas
renda,
tinha o chêro, inda
quentinho
da boca dum
bizerrinho,
quando acaba de
nacê.
Os périnho da
cafuza,
que se tu visse,
chorava,
não dançava,
parpitava,
taliquá dois
coração!
Tão leve, que
paricia
num rodá de
carapêtâ,
um casá de
barbuleta,
brincando rente do
chão!
Os óio, que tinha o
fogo
das tarde, quando
se intôna,
tinha no fundo a
beleza
de tôda aquela
tristeza
que tem o rio
Amazona.
Não tinha boca!...
Era a boca
uma gaiola de
sangue,
adonde, quando
falava,
a gente logo
imitava,
saluçando, um
irachué!
Mas porém, quando
calava,
pidindo, tarvez, um
bêjo,
ficava a boca mais rôxa
do que a frô do
mururé.
Um bêjo naquela
boca
era um má, que não
tem cura!
Se tinha a doce
frescura
da sombra das
quizabêra,
tinha a frevura do
bêjo,
que o rio, vindo
dos cume,
arrebenta no ciúme
da boca das
cachoêra!
Ai! os cabelo!...
Os cabelo,
que às vez, num
riviramento,
tapava a cara da
dona
naquele
adivertimento,
era preto, cumo o
sonho
dum cego de
nacimento!
Quando um momento
aparava,
dêxando o suó
moreno,
cumo os pingo de
sereno,
pru todo o corpo
corrê,
a sala ficava cheia
desse ôrôma que se
sente
do chêro da terra
quente,
quando cumeça a
chuvê.
Ansim, quando ela
sambava,
uma rosinha
amarela,
que táva ainda im
butão
caiu dos cabelo
dela,
amachucada no chão.
Os musgo, tudo
suado,
cum os óio de
urúiáuára,
os instrumento
aparou!
Entonce, o cabra
sarado,
de venda de
ripolêgo,
do chão a rosa
panhou!
A cabôca, óiando os
musgo
que ainda táva
cansado,
cum as língua toda
de fora
de tanto e tanto
tocá,
deu um muchôcho
brejêro
fez um ixe — prô
vaquêro,
e introu de novo a
sambá,
cumo a fôia do
trapiá,
que o vento brabo
da serra
vai rolando, pula
terra,
num curupio inferná!
E as parma ainda
istralava,
no meio da
cunfuzão,
quando se uviu um
baruio
que paricía um
truvão!
Todo o mundo prá
barranca
naqule instante
correu!...
A noite táva mais
branca
que Jesus, quando
morreu!
O cabra, fazendo
infuca,
pruvdtando a
cunfunzão,
fez um bico prá
cabôca,
e deu um bêjo na
boca,
um bêjo!... Sim!...
Mardição!!
João Capixaba, o
cauchêro
não mintiu!...
Tinha rêzão!...
Era o vaquêro
mardito
da festa de Caeté,
da festa de São João!...
“O que foi, gente,
o que foi?!”
todo o mundo
preguntava
prô pai, que lá da
barranca,
já sastifeito
vortava,
a gritá:
“Vamos!... Vamo!
Minha gente!
– Não dêxa a festa
isfriá!
– Não foi nadai...
Não foi nada!...
– Foi coisa munto
sabida!
– Arguma Terra
Caída!...
– Toca a ri!...
Toca a sambá!"
Na verde
guarapiranga
chorava um camétaú!
Agora é que se
isquentava
a festa do Zé Pacú!...
Saindo detrás do
tronco
da fermosa
piranhêra,
rumpi pula
tacaniça!...
Dicí pula ribancêra!
Uma tuada sôdosa
nos gimido das
viola
se misturava cum o
chêro
das fulô do
jasminêro,
que vinha lá da
janela.
Arguem cantava!...
Era ela!...
Rasguei cum o quicé
a corda
da igaríté!...
Imbarquei!...
Baixinho disse um
segredo
prô rio!... E remei!...
remei!...
Cada vez remava
mais
Só despois de munto
tempo,
parei... e ôiei prá
traz!
A barraca
mluminada,
cum a musga, que
inda se uvia,
longe, longe...
munto longe
cumo uma istrela...
murria!
O céu, de todos os
lado,
parida uma tigela
cum o fundo azú
imbórcado,
todo ismartado de
novo,
adonde a lua, tão
bela,
ia boiando,
amarela,
cumo uma gêma de
ôvo!
Já trazia de viage
duas hora, bem
puxada.
Lá, prás banda do
Nacente,
entre as suas
cumpanhêra,
noutra festa
inluarada,
sambava a mais
feiticêra
das istrêla
amorenada,
essa Malbí dos
incréu!...
— Essa cabôca do
céu:
— A istrela da
madrugada!
Entonce, peguei do
remo,
rasguei as água do
rio,
que, fazendo um
arripio,
do sono dágua
acordou.
Remei!... Remei!...
Fui remando!..
E... não
cheguei!... Foi somentes!
a canoa que
chegou!...
Neste sertão do
Ciará,
onde naceu nossos
pai,
filizmente, ninguém
sabe
que coisa é terra
que cai!...
Aquele instrondo,
de longe,
que lá na festa se
uviu,
foi quando a terra,
essa ingrata,
a minha terra
adorada,
farciou!...
tremeu!... caiu!...
Os juai, as
bacabêra,
os coité, as
laranjêra,
as moita de cacáuêro,
os verde
ginipapêro,
os grande
canarassú,
adonde todas as
tarde
cantava um
iapurú...
as fermosa
mongubêra,
as monbugêra inda
im frô...
a juruparipirêra,
que táva im frente
da choça
a criação...
gado... roça...
tudo o rio me
levou!
Mas, que isso,
minha gente?!
Váincês tudo ficou
triste,
despois que a
históra acabou?!
Tristeza não dá
vantage!
O que passou, já
passou!
......................................................
......................................................
Deus, que um dia
fez o hôme,
pula sua santa
image,
fez o nosso
coração,
cumo as frorésta
bravia
das terra virge...
sarvage!
Virge, im suas
mataria!...
Sarvage, im saa
grandeza!...
Mas porém, que tem
beleza
prá quem aprêcêia
as coisa
mais grande da
natureza!
Um dia, vem a muié!
A muié pega um
terçado,
pega uma foice, um
machado,
disgaia o mato
fechado
das terra do
coração!
E aos despois da
derrubada,
despois do fogo — a
quêmada –
a muié pega uma
inxada,
cava a terra, bem
cavada...
e samêia!... É a
prantação!
Tudo quanto é
frôração,
toda a frô que a
terra cria,
tudo nace, ali, num
dia,
onde táva a mataria
no fundo do
coração!
Se a muié sabe que
é ingrata,
prá quê vai mexê
nas mata
e quêmá, cumo um
brinquedo,
o mato virge,
cerrado,
iscuro e sêmpre
fechado,
adonde não tinha
intrado
a luz do Só, que é
o Amô!?
É prá despois, sem
rezão,
derrubá prá toda a
vida
o jardim do coração,
sem um tíquinho de
dô!
Maibí!... Maibí me
inganou!!
O rio, numa treição,
o trabáio de seis
ano,
as terra da
prantação
im suas água levou!
Maibí!... Maibí me
inganou!!
Foi praga da minha terra!
E praga de Deus inté!
Mas peço à Virge
Maria,
que, cumo Muié
divina
e Mãe de Jesus,
perdoe
Maibí, que é tombem
muié!!
Tudo foi uma
inluzão!
Do jardim que ela
prantou,
nas mata do
coração,
só véve agora uma
frô!...
Só a Sôdade tem
vida!!!
E o que é, meu
Deus, a Sôdade?!
Sôdade é a Terra
Caída
de um coração, que
sonhou!
Poema retirado da
revista A Noite ilustrada: edição especial Homenagem a Catulo da Paixão Cearense
(19-7-1946), às páginas 09, 33 e 39.
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