Ninguém comemorou?
Pois Humberto de Campos eclodiu para a notoriedade com um livro de poesia
chamado “Poeira” em 1911 no Pará.
Em
1903 ele se muda para o Pará, empregado de escritório, depois vai para um
seringal, onde trabalha.
Segundo
Múcio Leão ele “vive longos anos em excursões no Purus, no Madeira e no Juruá.
Viaja pelo Ceará, pelo Piauí e pelo Maranhão. Em 1908, dirige, no Baixo
Amazonas, a exploração dos seringais. Tem, então, um contato direto e diário
com a vida dos homens mais infelizes que existem no Brasil. Vê os seringueiros
explorados, humilhados, assassinados, trucidados”.
Este período da
vida de H. de C. é um mistério, o próprio escritor nada conta em suas duas
memórias e no “Diário secreto”. Não que eu me lembre.
Quando
“Poeira” é publicado, o sucesso é estrondoso.
Diz
o citado Múcio Leão, seu sucessor na Academia:
“Seus
primeiros versos despertam um entusiasmo grande no Rio e em todo o Brasil. ...a
faculdade de transformar em musicais sonetos os aspectos da existência ou do
cenário do Amazonas. Celebrava os descobridores duros que se foram perder nas
regiões aspérrimas do Brasil, e, sobretudo no Solimões, no Madeira, no rio
Negro... Celebrava Pedro Teixeira, o primeiro civilizado que subiu o Amazonas,
e o Padre Luís Figueira, que levou a cruz aos índios, nas regiões remotas do
rio-mar. Celebrava a mansidão dos jesuítas e a tristeza fatalista dos
seringueiros”.
“A
Amazônia deu-lhe motivos imensos. Ele cantou o irapuru, evocou as visões
dementes de Orellana, memorou a tribo desfeita dos Aturés. E assim cantou,
também, Manôa, Diego Ordaz, Lopo de Aguirre, Afonso de Herrera, todos os
violadores do Eldorado...
Como
um resumo dessa tendência de sua poesia, quero citar-vos o soneto A Amazônia:
Este
é o palácio da Mãe d’Água... O dia
Não
corusca de sol como corusca
Seu
mais frágil portal, que espanta e ofusca
De
encantados metais e pedraria.
Ai,
entretanto, de quem corre e o busca!
Ai
de quem, ao transpor-lhe a frontaria,
Tomba
lá dentro com volúpia brusca,
Arrebatado
pela verde orgia!
Mães
e noivas do Sul, ao noivo e ao filho,
Se
andam no Euxino, entre marnéis e escolhos,
Dizei
que fujam de frontais em brilho.
Lá
vive a Iara, a náiade-cetáceo...
E
desgraçado de quem põe os olhos
Nos
traidores portais desse palácio!
Para
se ter uma ideia do seu sucesso, cito o mesmo Múcio Leão: “Publicado, em 1911,
o seu primeiro livro de versos, obteve Humberto de Campos a celebridade
repentina. Carlos de Laet saudou-o, num dos artigos do Microcosmo, de O País,
como a um próximo candidato à Academia. “Mais alguns anos (dizia Laet) e
teremos o Humberto na Academia, coroado de louros, com um discurso por cima”. O
Sr. Afonso Celso, Medeiros e Albuquerque cobrem de rosas a musa adolescente. E
lá fora o entusiasmo é o mesmo. Guerra Junqueira brada, deslumbrado, que se
aquilo é Poeira... certamente é poeira de astros... Fialho de Almeida exalta o
novo cantor, achando-o “perfeito como um grego, flexuoso e sensual como um
verdadeiro americano”. Em Paris, Tomaz Lopes, indo visitar Edouard Schuré,
perguntou ao sábio se conhecia algum autor brasileiro. Schuré levantou-se,
caminhou até à estante, tomou de um livro e o mostrou ao visitante curioso. Era
o livro de Humberto de Campos!”
Quem
se der ao luxo de ler suas “Poesias completas” vai encontrar inúmeros poemas de
temática amazônica, e partes do livro como “Poemas amazônicos”,
“Vitória-régia”, poemas como “O irapuru”, “O seringueiro”, “A morte de um
seringueiro” etc.
Como
era H. de C. poeta? Ainda que sua poesia não ombreasse com a de Bilac (seu
ídolo), era um bom poeta parnasiano. E escreveu algumas obras-primas, como esta
“Miritiba”, cidade onde nasceu, que hoje tem o seu nome:
É
o que me lembra: uma soturna vila
olhando
um rio sem vapor nem ponte;
Na
água salobra, a canoada em fila...
Grandes
redes ao sol, mangais defronte...
De
um lado e de outro, fecha-se o horizonte...
Duas
ruas somente... a água tranquila...
Botos
no prea-mar... A igreja... A fonte
E
as grandes dunas claras onde o sol cintila.
Eu,
com seis anos, não reflito, ou penso.
Põem-me
no barco mais veleiro, e, a bordo,
Minha
mãe, pela noite, agita um lenço...
Ao
vir do sol, a água do mar se alteia.
Range
o mastro... Depois... só me recordo
Deste
doido lutar por terra alheia!
Humberto
foi um dos maiores homens de letras do país. Incontestavelmente, nunca será
esquecido.
Um comentário:
POUCA GENTE LÊ HOJE HUMBERTO DE CAMPOS... MAS ELE FOI UM ESCRITOR DE SUCESSO, MORREU CEDO E DIA VIRÁ QUE SUAS OBRAS SERÃO REEDITADAS... PRINCIPALMENTE O "DIÁRIO SECRETO"... OBRIGADO PELA DIVULGAÇÃO...
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