sobeijos
Silvio Margarido
20 pó emas prum natal desigual...
30 aí pro rango.
oferecido aos cirurgiões da vida,
que fazem das tripas coração
poemas e canções.
Aos bucheiros,
lixeiros,
ao alimento das baratas,
ao níquel náusea.
Aos amigos e ao tempo,
pro natal desigual,
ao maracá e as máquinas
e pro ano que vem.
o poeta.
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índice
XX – o fim
XIX – louco
XVIII – natal desigual
XVII – o céu
XVI – tesouro
XV – mãe
XIV – mal
XIII – toque
XII – beijo
XI – dactilografando
X – casa
IX – papagaio
VIII – violão
VII – tempo
VI – outra crise
V – amor
IV – existencial
III – fome
II – medo
I – solidão
I
só
somente o recolhimento
o estar
o sentimento
dita
a solidão
única multidão
do turbilhão
do único
II
a solidão me traiu
o rei abacaxi...
passou do tempo
e a lua
aluá
trará num susto
o medo
e o último grito de pavor
horror
dirá...
Não
III
não
o alimento
não falta
me enlata
meu pacote deteriorado
sujou meu integral
vai mal
destrói
meu natural
fome...
IV
nem Sartre
nem eu
quem sabe ?
seria alguma existência
tão existencial
crer
que o divino ser
nos salvará.
e o material
apodrecer
nomeupoder
V
senti o bem
um onda e arrepio
correu na espinha
após o beijo quente
a tua boca calada
murmurou...
amor...
VI
e novamente o fogo
queimou a esperança
sofrer
desatinar
afogar-se
se possível
a embriaguez
e pela tal vez
o desejo do não
ser
novamente
o ex
VII
dilui-se
a miolionésima
existência
horas
minutos
segundos
e de início
o tempo mostra
forma de fim...
VIII
teus seios pontos musicais
infinitos
astral que alimenta
e dói
soa aos dedos trêmulos
como no teclado
dactilograsondo acordes
assim como teu
feminino corpo me excita
o coração
na canção...
teu preço meu...
violão
IX
e o som não para
daí pra caos
eletrônicos gritos
repetem
o dito
tido todo
grande industrial
sonoras pilhas
vermelho papagaio
rádio
sintonia hertz
dos AMs e FMs
made inhongkong
X
ré
canto
no teu seio
mãe fria
me esqueço
só não posso
é te chamar...
lar.
XI
teu loco
teclado
o silêncio quebra
os tlex letras
ritimam a emoção
a máquina diz
em versos o código
organizando
o alfaboema
em dedos sujos
de arroz e feirão.
XII
de novo
nova
boca
sacia saliva e sal
num velho beijo
XIII
me faz bem
teu toque
me toca
musicalmente espreguiço
energia e amor
deitado
XIV
falta-me ar
e a febre
convulsão
teu fogo
me chama aos infernos
deixe meu caminho
livre...
pra buscar o que quero
encruzilhada
e bó...
a verdade
são únicas
axé.
XV
tuas lágrimas
e tua reza
me valem bem mais
que teu pão
na hora do sufoco
gritar
mãe...
XVI
sonhei
todo ouro do mundo encontrei
o brilho e luz me deu febre
sem razão
contei moedas
e todo o tesouro
esvaiu
como sangue
da alma
e da mão
não quero nunca mais tê-lo
pobre
luz negra
de mão em mão.
XVII
olhar pra cima
cabeça
teto
esperança
que do céu
nos venha
a estrela irmão
e voltar
num pensamento
azul chapéu.
XVIII
papai...
cadê papai Noel ?
ta de saco cheio...
também quero ser
esvaziar o meu
presentes
ausentes
todos que ele não deu
XIX
louco.
tens cabeça ?
e pensamentos ?
tens razão ?
sofrimentos
viagem matinamarga
da velha tarde cansada
que minha nau...
descontrole feliz
traçou
na ponta do meu
nariz.
XX
é doce sentir
este desejo sem fim
de finspiração
e só...
MARGARIDO, Silvio. Sobeijos. Rio Branco: 1986.
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