Pablo Neruda (1904-1973)
Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, porém nunca
me tires o teu riso.
Não me tires a rosa,
a lança que debulhas,
a água que de repente
em tua alegria estala,
essa onda repentina
de prata que te nasce.
De áspera luta volto
com olhos fatigados
por vezes de ter visto
a terra que não muda,
mas ao chegar teu riso
sobe ao céu me buscando,
e abre para mim todas
as portas desta vida.
Amor meu, no momento
mais escuros desata
o teu riso, e se acaso
vês que meu sangue mancha
as pedras do caminho,
ri, porque teu riso
será, em minhas mãos,
como uma espada fresca.
Junto ao mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e em primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que eu esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.
Que te rias da noite,
ri do dia, da lua,
das ruas tortas da ilha,
ri do desajeitado
rapaz que te quer tanto,
porém quando mal abro
os olhos, quando os fecho,
quando os meus passos vão,
quando os meus passos voltam,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
senão, amor, eu morro.
TU RISA
Quítame el pan, si
quieres,
quítame el aire, pero
no me quites tu risa.
No me quites la rosa,
la lanza que
desgranas,
el agua que de pronto
estalla en tu
alegría,
la repentina ola
de plata que te nace.
Mi lucha es dura y
vuelvo
con los ojos cansados
a veces de haber
visto
la tierra que no
cambia,
pero al entrar tu
risa
sube al cielo
buscándome
y abre para mí todas
las puertas de la
vida.
Amor mío, en la hora
más oscura desgrana
tu risa, y si de pronto
ves que mi sangre
mancha
las piedras de la
calle,
ríe, por que tu risa
será para mis manos
como una espada
fresca.
Junto al mar en
otoño,
tu risa debe alzar
su cascada de espuma,
y en primavera, amor,
quiero tu risa como
la flor que yo
esperaba,
la flor azul, la rosa
de mi patria sonora.
Ríete de la noche,
del día, de la luna,
ríete de las calles
torcidas de la isla,
ríete de este torpe
muchacho que te
quiere,
pero cuando yo abro
los ojos y los
cierro,
cuando mis pasos van,
cuando vuelven mis pasos,
niégame el pan, el aire,
la luz, la primavera,
pero tu risa nunca
por que me moriría.
NERUDA, Pablo. Os versos do capitão. Tradução
Thiago de Mello. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2004. p.28-31
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