José de Anchieta Batista
Coluna Espaço do Anchieta
Página 20
Faço questão de iniciar esta crônica dizendo
que nada aqui é direcionado a dirigentes ou a Igrejas que trilham os caminhos
de Deus, na verdadeira prática do bem e do amor ao próximo, agindo com
seriedade, decência e responsabilidade. Sejam cristãs ou não.
Dito isto, passo a afirmar que sou um homem
que acredita piamente na existência de um Poder Superior, consciente e
inteligente, que rege, minuciosamente, a dinâmica de tudo o que existe. Um Ser
Supremo que rege realmente tudo, desde o micro até o macro. Esta certeza não é
uma herança de minha longa passagem por um seminário católico. Vem do mais
profundo de minha alma.
Lembro-me de que, uns cinco anos após
abandonar a vida eclesial, comecei a duvidar de tudo. Até mesmo de Deus. As
novas leituras a que me dediquei, um novo mundo de atrações mundanas e as novas
amizades antideístas, puxavam-me para isso. Mesmo assim, enquanto os lábios
blasfemavam, com força, “Deus não existe!”, a mente bradava intimamente
“perdão, meu Deus!”. Era aquela coisa de jovem, metido a intelectual, querendo
aparecer, principalmente diante dos outros.
Passadas algumas estações da vida, veio-me
novamente uma vontade enorme de me encontrar com Deus. Fui ao seio das
religiões. Mais uma vez, conflito total! Talvez isto só tenha acontecido
comigo, mas me convenci, sob todos os aspectos, de que ali dentro das igrejas,
dificilmente as orações e os cânticos conseguiam ultrapassar a cumeeira dos
templos. Basta! – gritei eu para mim mesmo. E, novamente, me afastei de tudo,
sem, todavia, abominar a existência de um Poder Universal, com domínio total
sobre tudo o que existe. Continuei alheio a qualquer culto religioso, mas
sempre com profundo respeito à fé daqueles que professam esta ou aquela
doutrina. Nesta caminhada, desisti de procurar um Deus fora de mim, para
buscá-lo no mais íntimo de meu ser. E ali estava Ele! Infinito, divino,
paterno, cheio de amor! E eu, uma poderosa fagulha Dele!
Como disse acima, respeito todas as
religiões. Vejam bem: eu as respeito! Quando simplesmente as toleramos, muitas
vezes o fazemos altamente incomodados. Quando, porém, as respeitamos, há um
sentimento de fraternidade.
Amigos, nos dias atuais, sinto que estamos
diante de uma realidade perversa. Por mais fraternidade que pratiquemos, por
mais que sejamos respeitosos e tolerantes, está bem difícil conviver com
algumas religiões que não possuem um mínimo de respeito para com seus
semelhantes. São aglomerações, ditas religiosas, sob o comando de verdadeiros
estelionatários, com fins meramente comerciais, e que se contrapõem aos mais
rudimentares princípios das divinas mensagens cristãs. A visão que hoje tenho
dessas denominações, que vêm surgindo aos montes ultimamente, é a de que alguns
“vivaldinos”, autênticos criminosos, subjugam a mente de pessoas desesperadas, incautas
e ignorantes, a fim de fazerem proliferar suntuosos shopping centers da fé,
cuja preciosa mercadoria é um falso Jesus de Nazaré. E não ficaram somente
nesta prática. Passaram a incentivar atos de violência contra aqueles que se
abrigam em outros credos, sob o argumento de que somos todos demônios e que,
por isso, devemos ser eliminados da face da Terra. Que é isso, ó Deus? Onde
chegamos? Diante desses falsários, de pregações espúrias, lembro-me de que os
religiosos da época de Cristo o acusaram, o condenaram e o mataram. Dois mil
anos depois, temos que conviver com os mesmos mercadores do templo, os mesmos
fariseus, os mesmos escribas, os mesmos doutores da lei!
Expostos a essa alcateia, parece que estamos
diante de um beco sem saída. As leis brasileiras são absolutamente lenientes e
permissivas para com esse bando de criminosos e contraventores, que além de se
locupletarem com o suor alheio, vendem a utopia da prosperidade fácil,
teatralizam prodígios, zombam de nossa sociedade, sem darem bolas para a
decência e para os bons costumes. Esses falsários cobram o “imposto” do dízimo
com muito mais rigor do que são cobrados os tributos administrados pela Receita
Federal. Amparados por uma abusiva imunidade tributária para “templos de
qualquer culto”, criam um igarapé que deságua em seu patrimônio pessoal. Dessa
forma, alcançam vultosas fortunas, como se o milagre dos cinco pães e dois
peixes acontecesse todos os dias. Na tela da TV, meio de comunicação em que
investem fortunas e mais fortunas, o mais importante não é a mensagem bíblica,
mas as contas correntes onde deverão ser depositados os recursos implorados
pateticamente. São ricos, podres de ricos, e vivem nababescamente, custeados
por suas pobres ovelhinhas, sem se lembrarem de que o Cristo viveu na Terra
“sem ter onde reclinar a cabeça” (Mateus, 8:20). Não há um só local em que eles
não plantem seus tentáculos, principalmente em busca de parcela dos míseros
salários das pessoas. Há exemplos de humildes criaturas que repassaram para os
tais salvadores de almas, veículos, televisores, terrenos, casas e outros bens,
a fim de satisfazerem a ganância dessas aves de rapina. São os “sepulcros
caiados”, a “raça de víboras”, que não conseguem escutar as muitas advertências
do Cristo:
“Ai de vós, doutores da Lei e fariseus
hipócritas, que devorais as casas das viúvas, com o pretexto de prolongadas
orações! Por isso, sereis mais rigorosamente julgados.” (Mt. 23).
Amigos, esses meliantes resolveram agora
acender as chamas do ódio, do desrespeito, da intolerância, contra os que são
praticantes de outros cultos. Li uma notícia de que na Paraíba, alguns
psicopatas de um “reduto religioso”, além de já terem promovido um
quebra-quebra de imagens, comparecem às escolas e, durante o recreio,
aterrorizam crianças, alertando-as de que frequentar a Igreja Católica
significa virar churrasco no inferno. Nesta semana, assisti a um vídeo em que
um maluco incita alguns jovens a promoverem desordens em templo
afro-brasileiro, alertando-os para fugirem com a chegada da polícia. Outro,
manda atacar os homossexuais. Em outra parte de nosso País, sob a influência de
sermões demoníacos, apedrejaram uma criança de 11 anos, que retornava de um
Centro de Candomblé, acompanhada de sua avó. Outras e outras insanidades têm
sido incentivadas por esses imbecis que se autointitulam “profetas de Deus”.
Disseram-me que aqui no Acre, já se iniciaram as insinuações e até incursões
contra algumas comunidades religiosas, sobremodo o Santo Daime e os cultos que
tiveram origem na cultura negra. Um absurdo!
Enquanto tudo isso acontece, temos o bom
exemplo do Padre Massimo Lombardi, que busca incentivar uma convivência
pacífica e fraterna entre os Cristãos de Rio Branco, procedendo reuniões
ecumênicas e até editando uma Cartilha com o expressivo título “Muitos São os
Caminhos de Deus”. Parabéns, padre!
Um grupo, contudo, nos traz pavor.
Lamentavelmente, instalou-se entre nós um fundamentalismo que cresce mais e
mais, sob o manto de uma hipócrita e satânica religiosidade, sem que a
sociedade brasileira saiba o que fazer para frear a maldade desses “lobos em
pele de cordeiro”. Em algum local de nossos códigos, com certeza, devem estar
catalogados os crimes e as contravenções que esses meliantes praticam. O pior
de tudo é que ninguém em nosso País tem a coragem de colocar inseticida neste
vespeiro. Ninguém se mexe para coibir o avanço desses caras. E eles, ao se
intitularem pastores, bispos, apóstolos, missionários, ou sei lá o quê,
julgam-se impunes e seguem em frente, saqueando nossa gente. Que me perdoe o verdadeiro
Cristo, mas passei a vê-los como mensageiros do capeta. Será que ninguém
percebe que eles estão ocupando “a cátedra de Moisés”, citada por Jesus? Será
que não se percebe que, com suas maquinações, estão conseguindo dominar
considerável parcela das instituições de nossa sociedade? Hoje, por perspicazes
que são, já têm influência, às vezes majoritária, em todos os poderes
constituídos, o que pode gerar mudanças que nos proporcionem um País que, em
nome de Deus, seja obrigado a adotar o apedrejamento, o lançamento de
homossexuais e prostitutas do topo dos edifícios, a decapitação, a submissão
primitiva das mulheres e muitos outros males terríveis, tudo sob o comando
desses malucos. Ou acham que isto é impossível e que o maluco sou eu?
Está na hora de se fazer alguma coisa! Não,
com os métodos de violência por eles sugeridos, mas por meio de ações
judiciais, contra a incitação à intolerância, ao desrespeito, ao ódio, absurdos
estes que têm acontecido de maneira crescente nos últimos dias.
É preciso a imediata união dos verdadeiros
evangélicos, católicos, kardecistas, daimistas, seguidores do Candomblé,
praticantes da Umbanda, budistas, etc., para que esta praga dos últimos tempos
encolha suas garras malditas.
Vamos concluir com uma citação bíblica:
– “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas,
que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores
…” (Mateus 7:15-20).
(*) Escritor, Poeta, Viajor do tempo e do
espaço
Um comentário:
Obrigado, Isaac, pela deferência da postagem.
Seu BLOG é uma janela iluminada.
Fiquei feliz em saber que retornou ao "ninho antigo". Que bom!
Obrigado
Anchieta
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