O blog Alma Acreana traz, mais uma vez, um material iconográfico
imprescindível para a compreensão da história acreana. Trata-se da publicação
de mais de 100 charges referentes ao Acre, que compreende o período entre os
anos de 1902 a 1927. As charges foram retiradas da revista O Malho, editada no
Rio de Janeiro, e de circulação nacional, entre os anos de 1902 a 1954. Nas
charges, fica patente como o Brasil e os brasileiros reagiam à questão acreana.
Ora críticas, ora humorísticas, ora debochadas, as charges trazem personagens
como o Barão do Rio Branco, Afonso Pena, Rodrigues Alves, Rui Barbosa, Plácido
de Castro. Abordam questões referentes ao conflito entre o Acre e a Bolívia, o
envio de presos para o Acre, o isolamento da região, a busca de autonomia,
denúncias referentes aos desmandos e autoritarismos, fome, etc. Enfim, um
material riquíssimo, agora tornado disponível na internet, para todos aqueles
que se interessam, de modo acadêmico ou independente, pela história acreana, com a certeza de que muito acrescentará aos atuais estudos de nosso Estado. Transcrevemos ipsis litteris os títulos das charges, e suas respectivas legendas. Isaac Melo
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Barão do Rio Branco
O futuro vencedor do Acre: – Obrigado, meu povo!
O Malho, RJ, 6 de
dezembro de 1902, Ano I, N.º12 |
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Palpite de primeiríssima
– Amarrei hoje o porco, seu colega, num parpite féra e si o bruto logo estoirá vou fazê um
estrago no paraty...
– Que porco, nem qui paraty, seu Pereréca.
Parpite onça cum essas complicação do Acre é viado: o camarada que num mettê já
o pé no matto, e num tivé pé ligeiro, tá ahi, ta na imbira do recrutamento...
O Malho, RJ, 31 de
janeiro de 1903, Ano II, N.º20
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CABRA SARADO
– Você está alistado?
– Para ir ao Acre? Nunca! Prefiro alistar-me
no corpo eleitoral d’aqui.
– E eu voto comtigo.
– Vôte!
O Malho, RJ, 31 de
janeiro de 1903, Ano II, N.º20
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O QUE ACONTECERÁ NA QUESTÃO DO ACRE
Bol. – No hagas caso, hombre, que eso fué uma
broma.
Brasil – Sim, mas não faças
d’essas taes bromas porque podiam te
sahir muito caras.
Tio Sam
– Eu
não contava com isto.
O Malho, RJ, 7 de
fevereiro de 1903, Ano II, N.º22
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A SOLUÇÃO PACÍFICA
– Vamos lá... Pelo meio que assim ninguem vai
no dito!
O Malho, RJ, 14 de
fevereiro de 1903, Ano II, N.º22
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COMO SE ESCREVE A HISTORIA
(A proposito do apoio moral do governo do
Amazonas aos voluntários do Acre)
– Bravo! Gostei da sova que você deu, seu cuéra! Somos valentes, hein?
– Valentes?! Ué! Você nem se mexeu!...
– Mas dei o meu apoio moral.
O Malho, RJ, 14 de
fevereiro de 1903, Ano II, N.º22
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O RUY E O RIO
Ruy: – Acceito essa espiga
de entrar na pendenga do Acre; mas olhe lá: si encontrar alguma batata, faço
relatorio maior do que o do Codigo Civil.
O Malho, RJ, 18 de
julho de 1903, Ano II, N.º44
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A BOTA DO ACRE
– Creio, seu
Ruy, que descalçada a bota, está o mal sanado, por via dos calos.
– Lá isso, não; com troca de territórios não
embarco.
O Malho, RJ, 3 de outubro de 1903, Ano II,
N.º55.
Há oito mezes, o nosso ilustre patrício Sr.
Barão do Rio Branco, que à sua alta qualidade de glória nacional allia a
condição de ministro do exterior, não come, não bebe, não dorme e está ficando
tão magro que até parece o Sr. Oliveira Lima, só por causa dessa maldita
questão do Acre! Realmente, a maldade humana não tem limites. O homem estava
muito tranquilamente na sua legação e com sua glória; e vai o Sr. Rodrigues
Alves, que é bicho de concha, arranca-o de lá e chama-o aqui para o páo, assim
como quem lhe está offerecendo um prato de doce de côco. E é isso que se vê!
Oito mezes de somno perdido e no fim, quando se annuncia que cousa está
resolvida, a resolução é a maravilha que se vê.
– Em troca do Acre, que só serve para matar
gente de impaludismo, o Sr. Rio Branco vai dar à Bolívia:
– Dinheirama em penca: mais de vinte mil
contos!
– Uma estrada de ferro que nos custará para
ahi outros tantos 20.000 contos!
– Território à margem do Madeira no Amazonas!
– Um porto no Amazonas!
– Território à margem do rio Paraguay no
Estado do Mato Grosso!
– Um porto no Paraguay!
– Caracoles!
Si a diplomacia é isso, estou aqui, estou com o jacobinismo do Sr. Barbosa
Lima! Diabos a levem!
O Malho, RJ, 3 de
outubro de 1903, Ano II, N.º55.
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AINDA O ACRE
- Você, Cabo Frio, si apanhasse essa
trapalhado do Acre quando moço...
- Envelhecia mais depressa...
O Malho, RJ, 17 de
outubro de 1903, Ano II, N.º57
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Ainda
e sempre o Acre
-
Vá, seu Ruy, descalce a bota; mas,
bem pensando, você devia calçar primeiro o pé direito...
O Malho, RJ, 17 de
outubro de 1903, Ano II, N.º57
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O NEGOCIO DO ACRE
RUY: – Não quero, senhores, crear-lhes
embaraços: exonero-me. Mas, em verdade vos digo, maldito seja aquelle que cede
ao estrangeiro um palmo do territorio nacional!
O Malho, RJ, 24 de
outubro de 1903, Ano II, N.º58
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ETERNO ACRE
Rio
Branco:
– Olhem que me custou muito fazer esse arranjo do Acre, vejam lá agora si vão
estragar-me o capitulo...
O Malho, RJ, 31 de
outubro de 1903, Ano II, N.º59
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1O ACRE
– Vá, seu
Rio Branco, despache a cousa, que a expectativa é duvidosa.
– Duvidosa é a sua atitude. Pensa que Roma se
fez num dia?
O Malho, RJ, 21 de
novembro de 1903, Ano II, N.º62
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O PENEDO
– E está firme, sem se mexer...
– Inalteravel.
– Nem o Acre o move?
O Malho, RJ, 28 de novembro de 1903, Ano II,
N.º63
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OS TRÊS REIS NEGROS DE AGORA
(Reisado “ad instar” dos Mellos Amoras)
Aqui estamos nós três. Ultra-estafados
Vimos chegando de longínquas terras;
Corremos campos e galgamos serras
P’ra vir fazer aqui nossos reisados.
Tu, ó Cattete, paço dos morgados,
Que o menino Jesú no seio encerras,
Vê si tuas portas para nós descerras
Pois trazemos-te uns brindes escovados:
– Rio Branco traz um doce: é muito acre...
– O Coelho, um banco... é manco, mas álacre;
– Eu, Lima (capital), trago um Perú!
É quanto nestes tempos, tristes, agros,
Podemos vos trazer, ó Grão Jesú,
Nós três que somos reis, e somos magros.
Dario
( Da
Náo Catharininha)
O Malho, RJ, 9 de janeiro de 1904, Ano III,
N.º69
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O ACRE NA CÂMARA
A entrada do Bendegó
O Malho, RJ, 9 de
janeiro de 1904, Ano III, N.º69
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PARA O ACRE
– O embaraço da escolha.
O Malho, RJ, 12 de março de 1904, Ano III,
N.º78
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DESESPERO
– Por quem é! Attenda a um pobre coração
magoado... O seu desprezo obriga-me a um acto de desespero! Não queira que eu
me atire ao Acre ou ao Ceará...
O Malho, RJ, 9 de abril de 1904, Ano III,
N.º82
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Apre! Quantos pedidos para o Acre!
O Malho, RJ, 16 de
abril de 1904, Ano III, N.º83
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TRISTEZAS
– Afinal de contas, quem é que vai para o
Acre?
Se mandassem para lá certos gajos que conheço...
O Malho, RJ, 16 de
abril de 1904, Ano III, N.º83
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A CHEGADA DO PLÁCIDO
Foi recebido com applauso unanimo...
O Malho, RJ, 23 de abril de 1904, Ano III,
N.º84
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OS MASTIGANTES
– Você arranjou convite para o almoço ao
Plácido de Castro?
– Não. O avança
começou desta vez pelos próprios convites!
O Malho, RJ, 23 de abril de 1904, Ano III,
N.º84
PLÁCIDO DE CASTRO
Dos inhospitos climas acreanos,
Depois de porfiar mezes inteiros
Em lucta contra febres e guerreiros,
Praticando prodígios sobrehumanos;
Após trabalhos ásperos e insanos,
Voltas de novo aos lares prazenteiros
Ó tu, Plácido – para os brasileiros –
Ó tu, Terrivel – para os bolivianos –
És recebido agora entre banquetes,
Ao concerto de vivas e foguetes,
Enchendo de alegria a nossa terra:
– Bem mereces por tuas aventuras
Tantos banquetes, festas e doçuras
Tu que chegas do acre duma guerra!
D. Paulo
O Malho, RJ, 23 de
abril de 1904, Ano III, N.º84
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A DYNASTIA DOS NERYS
– Veja lá, seu Constantino, si quando tomar conta do Amazonas, também quer avançar
nos territórios do Acre!
– Que duvida! Sou irmão do Silvério em
tudo... E quando a borracha nos sobe ao nariz, não contamos com desgraça!
O Malho, RJ, 4 de
junho de 1904, Ano III, N.º90
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A UNIÃO ENTALADA COM O AMAZONAS
Ruy Barbosa: – Ouça: a Constituição, no seu
artigo...
Rio Branco: – Perdão, Exmo. Isto de
Constituição é fabula. O caso do é este: os territórios do Acre custaram couro
e cabelo à União. Não podem ir de mão beijada para o papo do Amazonas. Não
pode!
Ruy Barbosa: – V. Ex. passa pelo assumpto
como gato por brasas...
Rio Branco: – E V. Ex. puxa a brasa para a
sua sardinha e o seu cliente quer tirar a sardinha com a mão do gato. Não pode!
O Malho, RJ, 11 de junho de 1904, Ano III,
N.º91
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PINTOR BARRADO
– Fiz as Missões, o Amapá e o Acre. Esbocei o
Perú. Mas, agora, o seu Victor
Emmanuel borra-me a pintura da Guyana... Podia ser peior...
O Malho, RJ, 18 de
junho de 1904, Ano III, N.º92
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DE BOM HUMOR, NA INTIMIDADE
Zé Povo: – Deixe lá, que o Lauro pregou-lhe
duas espigas: O Walker e o caso de Santa Catharina; o Rio Branco, pregou-lhe
três: - O Acre, o Peru e a mobilização da forças; o Seabra pregou-lhe quatro: -
O Oswaldo, o Cardoso de Castro, o Pelino e elle mesmo...
Papai Grande: – Sim, mas eu arrumei em todas
uma espiga maior: – o Bulhões!
Zé Povo: – É exacto. Eu, porém, vou agradecer
a São Paulo o ter sido tão espigado... com V. Ex...
O Malho, RJ, 20 de agosto de 1904, Ano III,
N.º101
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DOUS PROVEITOS NÃO CABEM NO MESMO SACCO
– Aqui pr’a nós que ninguem nos ouve: foi uma
espiga dos diabos esta leva de quebra-lampeões para o Acre. Eram os melhores
freguezes do Paraty e do maduro...
– Não duvi; mas lucramos por outro lado: as
nossas barrigas ficam menos arriscadas a servirem de bainhas para as facas
daquelles patifes...
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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EM QUE DEU A BRINCADEIRA...
– Tanto quebramos lampiões, que agora são
elles que nos levam para o Acre. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro...
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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ENQUANTO O MUNDO FOR MUNDO
Estado de sitio no lar domestico, com
suspensão de todas as immunidades...
A
cozinheira:
– Credo! Nossa Senhora! O patrão é levado... O nhônhôzinho pinta c’oa gente...
Mas a patroa é pió que toda a ilha das Cobras, com o tá Acre e o tá Peru em
riba...
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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FORMAÇÃO DO NOVO MUNDO
– Que desaforo! Mandarem mulheres para o
Acre... lá para os confins do Judas, onde o diabo perdeu as botas!... Pouca
vergonha! Pois não basta irem os homens?
– Não, minha filha, não basta! Aquillo é um
novo Paraiso: já está cheio de Adões... só faltam as Evas... Si ellas não forem
– babáo! – lá se vai o mundo da borracha por água abaixo...
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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INQUERITO E JULGAMENTO
– O seu nome?
– Dictadura.
– A sua idade?
– Quinze annos.
– Só?... E já tá tão gasta!...
– É por causa de uns filhos malucos, que
tenho...
– O seu estado?
– De sitio!
– Onde mora?
– Não sei. Em qualquer parte...
– De quem é filha?
– De D. Ambição de Tal... Não sei quem é meu
pai.
– Sei eu: é muita gente boa...
– Não duvido!
– Sabe por que é accusada?
– Sei: por tentar exercer um direito que a
Constituição me garante: a liberdade de profissão...
– Ah!... E qual é a sua profissão?
– Fazer ma,horca! Pôr tudo de pernas para o
ar!
– Pois, saiba que essa resposta lavrou a sua
sentença. Escolha: ou Acre ou Hospicio dos Alienados...
– Prefiro o Hospicio: no Acre serei obrigada
a trabalhar!
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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O CALDO DA BERNARDA
R. Alves: – Vê, seu Argollo! como sai caldo em penca?!
Argollo: – Estou vendo!
Nunca pensei que as cannas da D. Bernarda fossem tão ricas de succo...
Chefe: – E olhe que são só
as graúdas... as de bico amarello... as miúdas não entram na misturada:
exportam-se para o Acre...
Seabra: – Vamos, seu Cardoso, vamos! Zé Povo está
impaciente pelo caldo do relatorio... Vá mettendo a canna, depressa, que força
não falta, graças a Deus. Ou vai ou racha!
Zé Povo: – Olha esse
caldinho especial que saia!
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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O HOMEM POZ E O PERÚ DISPOZ
Rio
Branco: –
Oh! com os diabos! Lá se me entornou o caldo do modus-vivendi! Rais partam
o estouvamento! Ahi tenho eu nova sarna para me coçar!
Militar:
–
Tenha paciência, barão! Foi este bicho o culpado... Eu não podia soffrer calado
as suas bicadas... Defendi-me dellas!
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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QUEM ANDA AOS PORCOS TUDO LHE RONCA
– Gentes! Como vai esta moça toda art-nouveau e devant droit...
– Da banda do Acre, vá elle! O sinhô ‘stá
muito enganado, si pensa que eu andei a quebrá os lampeão!... Tó tôlo, hein?
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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SUCCESSO DOS SUCCESSOS
Creoulo: – Ó seu moço lá da
frente! Faz favô da apará um pouco, que eu quero vê os nome dos companhêro que
fôro pô Acre!
– Nessa não caio eu. Quem quizer ler tem que
vir atraz de mim. Nada! Suei o topete pra comprar um exemplar. Custa um nicoláo
de tostão...
– Sim, sinhô! Tô scientes, mas não ha mais Tribuna p’ra vendê.
O Malho, RJ, 10 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º117
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ESTÁ BOM, DEIXE!
R. B.: – É isto que tenho
a honra de dizer a V. Ex.: O Nery do Amazonas, com as suas reclamações contra o
Thaumaturgo, estraga-me os cálculos do Tratado de Petropollis...
R. A.: – Não duvido, Sr.
barão, mas temos de fazer vista grossa para vivermos em paz com os nossos
irmãos. Farto de barulhos ando eu!
R. B.: – A vonte de V.
Ex. será feita, contanto que o Bulhões não me vá amollar depois, em
Petropolis...
O Malho, RJ, 17 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º118
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SITIO DA BORRACHA
– Vamos, rapaziada! Estiquem a corda para
mais 30 dias!
– Prompto! Si quizer para um anno inteiro é
só pedir por bocca!
O Malho, RJ, 17 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º118
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PRESENTE DE GREGO
– Sr. juiz! A minha liberdade está no passo
do constrangimento. V. S. será capaz de me despachar este habeas-corpus?
– Pois não! Despacho, sim... e até lhe faço
presente de um passaporte de livre transito.
– Passaporte?
– Sim... para o Acre.
– Muito obrigado. Ainda não resolvi...
suicidar-me.
O Malho, RJ, 17 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º118
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ISSO, SIM!
– Estás vendo? O teu marido também fazia
parte de uma quadrilha de ladrões.
– Mentira! mentira! mentira! Você é uma
língua de trapo, sua velha coróca do diabo!
– Não tenho medo das tuas caretas! O teu
marido é um homem perdido. Trata de arranjar outro!
– Não quero, não quero, não quero! Hei de
punir pelo Antonho até elle sahir da ilha das Cobras...
– E si elle fôr para o Acre?
– Ah! Isso é outra conversa: faço de conta que
elle morreu...
O Malho, RJ, 17 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º118
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PÃO, PÃO; QUEIJO, QUEIJO!
– Antão, ó seu Tiburço! q’ando é que bócês fazem oitra rebolução?
– Eu sei lá, seu Pereira! Provavelmente, há di sê quando os chefes mandá!
– Mas, q’ando será isso, homem!
Desembuche!...
– Com certeza não será mais neste governo.
Fica pó ôtro que vié. Cada um há di aguentá cô uma brincadêra dessa, até as
bicha pegá... Mas... p’ra que é qui seu Pereira
qué sabê dessas côsa? O sinhô não tem nada cô pêxe...
– Num tenho! Ora si tanho! Abise-me bócê
dessas maluquices e berá s’eu num feicho a porta... Nada! que o q’aqui’stá
custou-m’o meu rico dinheirinho e não é p’ra bócês m’o lebarem fiado e eu ter
de ir receber a conta no Acre...
O Malho, RJ, 17 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º118
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CONFIDÊNCIAS A BORDO
– Aqui está o que nós cavamos: cá vamos para
o Acre – hein? crioulo!
– Como assim?!
– Lá no Acre, nóis torna a quebrá os
lampião... Seu coroné Thaumaturgo
torna a mandá a gente s’embora...
– Tolo... Lá não há lampiões... não seu Vicente de Souza, nem outros cabras
como elle. O que há é muito páo e muita borracha.
– Tá bom! Nóis havemo de sahi daquella
borrachêra de quarqué geito: ou vivo ou morto...
O Malho, RJ, 31 de dezembro de 1904, Ano III,
N.º120
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PROJECTOS EM VIAGEM
– Camarada! Si nóis trabalhá no Acre, podemos
ficá pôdre de rico, e podemos vi a sê uns grandão no Rio de Janeiro!
– Si acontecê isso, eu, fallo co’ seu Irinêo
p’ra sê inleito deputado...
– Uê! mêmo sem sabe lê nem escrevê?
– Qui é qui tem isso? Dinhêro só faz as vez
de sabedoria e tapa a bocca do mundo...
O Malho, RJ, 7 de janeiro de 1905, Ano IV,
N.º121
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TRAPALHADAS TELEPHONICAS
(Commercio
e reportagem da policia)
Negociante:
– É
o Banco da Republica? Bem! Qual é o melhor cambio?
Telephone: – Está preso...
Negociante: – Que é lá isso?
Telephone:
–
Sim... na Brigada Policial...
Negociante:
–
Hein?
Telephone: – Talvez vá para a
ilha das Cobras...
Negociante: – Oh! senhor! Eu
quero saber do cambio!
Telephone: –Si duvidar muito,
vai para o Acre...
Negociante:
–
Horror!
Telephone: – Vá pondo as barbas
de molho, que marimbáo não é gaita!
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