Sexto Propércio (47 a.C.-14 d.C.)
Por que tens tanto prazer, vida minha, em andar com os cabelos enfeitados,
em fazer ondular as leves pregas de teu
traje, de tecido de Cós?
Por que tens tanto prazer em inundar os
cabelos com mirra do Orontes
e vender-te por presentes estrangeiros?
Por que tens tanto prazer em trocar tua
beleza natural por um luxo comprado
e em não permitir que teus membros brilhem
com seus próprios dotes?
Crê-me: nenhum cosmético é necessário ao teu
semblante;
o Amor é nu e não ama os artifícios da
beleza.
Observa as cores formosas que a terra produz
para que as heras, espontaneamente, cresçam
mais belas;
para que, nas grutas abandonadas, o
medronheiro surja mais formoso
e as águas indóceis saibam percorrer o seu
caminho.
As praias atraem, matizadas com seixos
nativos,
e os pássaros, sem aprender, cantam com
doçura maior.
Não foi assim que Febe, a filha de Leucipo,
inflamou o coração de Cástor;
não foi pela beleza cultivada que Hilaíra,
sua irmã, inflamou o de Pólux;
não foi assim que a filha de Eveno, na praia
do seu país,
foi motivo de discórdia para Idas e para o
cúpido Febo;
não foi com a falsa brancura de uma tez
pintada que Hipodâmia,
raptada por um carro estrangeiro, conquistou
um esposo frígio:
seu rosto não devia nada às pedras preciosas;
tal é o aspecto nos quadros de Apeles.
Nenhuma dela teve a intenção de conquistar o
amante de forma vulgar;
nelas o grande pudor já era suficiente
formosura.
Não tenho receio de ser para ti menos do que
todos estes.
Se uma mulher agrada a um único homem, ela já
é enfeitada
principalmente quando Febo te oferece seus
versos
e a jovial Calíope, sua lira aônia.
Não te falta a graça das palavras belas
e tudo o que Vênus e Minerva aprovam.
Serás sempre o encanto de minha existência
desde que sintas repulsas por todo esse luxo
infeliz.
NOVAK, Maria da Glória; NERI, Maria Luiza (orgs.). Poesia lírica latina.
São Paulo: Martins Fontes, 2003.p.133 e 135
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