sexta-feira, 16 de junho de 2017

SEXTO PROPÉRCIO (elegia I 2)

Sexto Propércio (47 a.C.-14 d.C.)


Por que tens tanto prazer, vida minha, em andar com os cabelos enfeitados,
em fazer ondular as leves pregas de teu traje, de tecido de Cós?
Por que tens tanto prazer em inundar os cabelos com mirra do Orontes
e vender-te por presentes estrangeiros?
Por que tens tanto prazer em trocar tua beleza natural por um luxo comprado
e em não permitir que teus membros brilhem com seus próprios dotes?
Crê-me: nenhum cosmético é necessário ao teu semblante;
o Amor é nu e não ama os artifícios da beleza.
Observa as cores formosas que a terra produz
para que as heras, espontaneamente, cresçam mais belas;
para que, nas grutas abandonadas, o medronheiro surja mais formoso
e as águas indóceis saibam percorrer o seu caminho.
As praias atraem, matizadas com seixos nativos,
e os pássaros, sem aprender, cantam com doçura maior.
Não foi assim que Febe, a filha de Leucipo, inflamou o coração de Cástor;
não foi pela beleza cultivada que Hilaíra, sua irmã, inflamou o de Pólux;
não foi assim que a filha de Eveno, na praia do seu país,
foi motivo de discórdia para Idas e para o cúpido Febo;
não foi com a falsa brancura de uma tez pintada que Hipodâmia,
raptada por um carro estrangeiro, conquistou um esposo frígio:
seu rosto não devia nada às pedras preciosas;
tal é o aspecto nos quadros de Apeles.
Nenhuma dela teve a intenção de conquistar o amante de forma vulgar;
nelas o grande pudor já era suficiente formosura.
Não tenho receio de ser para ti menos do que todos estes.
Se uma mulher agrada a um único homem, ela já é enfeitada
principalmente quando Febo te oferece seus versos
e a jovial Calíope, sua lira aônia.
Não te falta a graça das palavras belas
e tudo o que Vênus e Minerva aprovam.
Serás sempre o encanto de minha existência
desde que sintas repulsas por todo esse luxo infeliz. 


NOVAK, Maria da Glória; NERI, Maria Luiza (orgs.). Poesia lírica latina. São Paulo: Martins Fontes, 2003.p.133 e 135

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