segunda-feira, 5 de junho de 2017

BARCAROLA AO RIO ACRE

Florentina Esteves

Rio que passa assim tão manso e lento,
Correndo águas fundas e barrentas,
A que destino vais com qualquer vento,
Que porto buscas ou que mar intentas?

Teu caminhar afora flui constante,
Cumprindo a lei de ir, não importa, indo.
Depões os teus balseiros na vazante,
Se cheio és arrastão, caminho abrindo

Vais destruindo pontes e barranco,
Em igapós e igarapés tornando
De areias, nem sequer restando um banco,
Cego voraz, a tudo vais levando.

Mas se a estiagem chega de repente
E de repente escoa teus delírios,
Eis-te a passar humilde, novamente:
Esperas repiquete e outros rios.

Rio que hoje assim faz a corredeira
Em direção veloz à ribanceira,
Navego em teus balseiros, passageira.

Revista OUTRAS PALAVRAS, Ano II, N.12, julho de 2001, p.27



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