ALESSANDRO GONDIM DA FROTA, natural de Rio
Branco, poeta, bacharel em Teologia, e formando em filosofia pela Universidade
Federal do Acre. Estreou na poesia com o livro HOMENS E DEUSES (2017). E agora
lança a sua segunda obra, O DRAMA DE SÍSIFO (2018), também de poesia. O poeta
integra, também, a Sociedade Literária Acreana, movimento literário, artístico e
cultural, composto por vários escritores e artistas acreanos. Sua poesia, embebida
em fontes filosóficas, é marcada, sobretudo, pelo senso crítico, social e existencial.
SOMBRAS E ESPEHOS
Olhar no espelho e não ver refletido seu
rosto,
Sua alma no arcabouço do extremado desgosto.
Caminhar sob o sol do meio dia e não
contemplar sua sombra.
Não pôde se ver face a face no espelho é está
com a alma ferida.
Comungar com nossa sombra é a cura para as
feridas.
Ouvir nossa alma em meio à tempestade nos
trás calma.
Extrair luz das trevas é obra dos gênios de
alma.
A luz do interior norteando o mundo exterior.
Eu e minha sombra na mesa de jantar,
alimentando-se
De sentimentos segredados pelo tempo.
Comunhão calorosa na noite fria do
contratempo.
Minha sombra ensinando-me a pescar doces
emoções.
Reconheço minha sombra como minha amiga
O diálogo face a face com ela produz vida.
O jogo de Sombras e luzes nos ensinando a
viver.
Jogando nas sombras para representar bem na
luz.
TAPECEIRO DO MUNDO
Tapeceiro unindo cores, amores e dores.
Unindo sabores, desamores e as flores.
Tecendo com maestria o destino dos meninos,
Tecendo com amor, dor e contumaz pudor.
Tapeceiro unificador do tempo, espaço e luz.
Unificando a dor com o amor ele gera sabor.
Unificando luz e trevas ele engendra vida.
Unificando o consciente com o inconsciente
Ele cria homens de puro valor.
Tapeceiro trançando com as linhas das
emoções,
Sentimentos e voláteis pensamentos de
alegria.
No emaranhado da sua obra existe o caos,
ordem,
Desordem e paradoxos de paixão e sabedoria.
Tapeceiro do caos constrói a ordem,
Da dor constrói o amor,
Da morte constrói A vida,
Das trevas constrói a luz.
De você constrói um novo amanhecer.
PROGRESSO OU RETROCESSO?
O progresso construindo regresso
Meu compromisso é com o sucesso
Minha luta é pela pomposa regressão
O progresso que fere sem discriminação
O progresso que derrama sangue em nome da
nação
Transformando o verde em cinza vivaz
Retrocesso é o jogo do progresso capital
Retroceder ao instinto selvagem moral
O progresso que feri
O progresso que infere
O progresso que submerge
O progresso que submete
O progresso que gera retrocesso
O retrocesso que gera alienação
Alienação gerando ilusão
Ilusão engendrando manipulação
Que progresso é esse que destrói a nação?
O verdadeiro progresso é aquele que respeita
o outro
Progresso ou retrocesso?
Ilusão ou alienação?
Qual a sua interação?
DEUS DA
GUERRA
Guerra santa, guerra fria, guerra sem
sintonia
O preço da guerra é o sangue puro das
crianças
As lágrimas das mães que ficaram na janela
esperando
As estrelas para decorarem os quartos dos
filhos
Não existem vencedores nos flancos da guerra
Quem é o inimigo, qual a face dele, quem é
ele?
Será que o inimigo sente fome, frio, sede e
medo?
Será que ele se parece comigo nas batalhas da
fronte?
O deus da guerra está comigo e exterminarei
meus inimigos
A carnificina será bela na presença do nosso
deus, ele nos honrará
O mau cheiro dos corpos dos nossos inimigos
subirá como aroma suave
As narinas do nosso deus
As mulheres estupradas na guerra farão nosso
deus sorrir
As crianças estripadas farão deus chorar e
pular de êxtase
Na contagem dos mortos inimigos no campo de
batalha
Contemplava e percebia que a face deles era
minha face
Via na face deles o medo, a dor, o horror e o
extremo pavor
Vi e interpretei que o inimigo era eu com
meus deuses e fuzis
DOMESTICAÇÃO
DA ALMA
No recôndito da minha alma moram lobos
vorazes
E mordazes
Alimentando-se do ódio e da dor que há em mim
Lobo solitário uivando nas noites lacônicas
da minha alma
Ferocidade intensa na matilha social
dominicana global
Lobos bobos metamorfoseados em cães ferozes
dentro do quintal
Na coleira do Domini é guiado para o submundo teatral
Vendeu a alma pela ração diária do canil
Outrora devorador de homens, hoje lambe as
mãos do opressor
Tua alma
selvagem foi domesticada pela luxúria e lenitivo do mundo
Dos medíocres
Ladra relembrando quem eras nas selvas mortais da vida lobal
Tua cólera lobal se tornou pilheria global
Vendeste a alma pelo um pedaço de osso
Em outros momentos vivia nos montes
iluminados pela lua cheia
Dominava as noites com maestria solitária
Senhor da noite, hoje cão de guarda do dia
Tua alma domesticada e adormecida está
convencida que és senhora de si
Tu és o cão do senhor se alegrando com as
migalhas que caem da mesa do Domini
Vive revirando o lixo sepulcral moral
Lambendo as próprias feridas existenciais
O
DOMADOR DE ALMAS
O domador minha alma quer laçar
Com ouro de tolo quer me conquistar
Com sua fala mansa quer penetrar
Minha alma
Ao som do chicote quer me enjaular
Lança-me no gueto para tentar vencer-me
Pela fome, medo e violência.
Anseia vê minha alma curvar-se e sua
Mão beijar
Substâncias mágicas usam para entorpecer
Minha alma
Mil e um mecanismos inventa para sabotar
A ascensão da minha alma alada
Minha alma selvagem não se dobrará às
Estruturas de poder
Meu espírito indomável não aceitará o
discurso
Verborrágico
Meu corpo indócil não se submeterá à
disciplina
Mercantil global
Meu coração indômito repousará nas agitadas
águas
Da revolução
TOQUE
DE MIDAS
Midas vivendo prodigamente em seu suntuoso
palácio
Ávido por mais moedas imaginárias
Nababescamente sempre desejando e nunca
contente
Com o que possui
Sua vida palaciana de luxúria e glória oculta
sua
Miserável alma esfarrapada
No trono com suas vestes reais esconde seu
complexo
Mundo avaro
Quanto mais bebia dessa água salgada chamada
poder
Mais sede sentia.
Baco concedeu-lhe um pedido, ele tomado pelo
insano
Desejo pediu que tudo que tocasse fosse
transformado em
Ouro
Tudo que tocava ouro se transformava
Alegre
e saltitante Caminhava
Dourado, gélido e imóvel tudo agora
contemplava
Não existia mais calor
Somente estátuas douradas reluzentes e frias
para abraçar
Foi nesse momento que percebeu que seu ouro
sua alma
Não preenchia
Agora somente sete mergulhos nas águas
correntes
Para a alma purificar
O ouro as águas levarão e o calor humano
ficará
Para te enriquecer a alma
Trazer-te a calma
Dissipar o animalesco que há em ti
Vestir-te com pele humana para
Você poder sentir
CONFRONTO
POÉTICO
A poesia não pode ser paliativa para a alma
humana
Fugir da dura realidade
A poesia não é escapismo barato para a alma
cretina
Marginal
Poesia é antes de tudo confronto profundo com
o EU
Confronto com homens e com os deuses que os
homens
Criaram
Poesia é desassossego eternal na alma do
poeta marginal
É inquietude com o status quo luciferiano
É rebuscar um novo amanhecer, reaprender a
ver o mundo
Com olhos poéticos
O poeta não pode ser o senhor do escapismo
mundano, mas
Antes de tudo é aquele que rasga as entranhas
da humanidade
Para contemplamos suas volúpias insanas
A poética do confronto é aquela que desveste
a camisa de força
Da alma humana
Dar voz ao oprimido é amordaçar o opressor
com maestria poética
A poesia do confronto reflete seu tempo com
senso crítico imagético
Desconstrói a muralha do conceito
pré-concebido na alma imunda
A poesia jamais pode ser sentimentalismo
banal, a poesia não é
Pra ti te sentires bem, é pra te sentires mal
Para conduzir-te à reflexão-ação, não ao
surrealismo bestial
É a chave mestra para a revolução da alma
dentro da caverna sonífera
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