terça-feira, 15 de maio de 2018

ALESSANDRO GONDIM DA FROTA: ALGUNS POEMAS

ALESSANDRO GONDIM DA FROTA, natural de Rio Branco, poeta, bacharel em Teologia, e formando em filosofia pela Universidade Federal do Acre. Estreou na poesia com o livro HOMENS E DEUSES (2017). E agora lança a sua segunda obra, O DRAMA DE SÍSIFO (2018), também de poesia. O poeta integra, também, a Sociedade Literária Acreana, movimento literário, artístico e cultural, composto por vários escritores e artistas acreanos. Sua poesia, embebida em fontes filosóficas, é marcada, sobretudo, pelo senso crítico, social e existencial. 


SOMBRAS E ESPEHOS

Olhar no espelho e não ver refletido seu rosto,
Sua alma no arcabouço do extremado desgosto.
Caminhar sob o sol do meio dia e não contemplar sua sombra.
Não pôde se ver face a face no espelho é está com a alma ferida.

Comungar com nossa sombra é a cura para as feridas.
Ouvir nossa alma em meio à tempestade nos trás calma.
Extrair luz das trevas é obra dos gênios de alma.
A luz do interior norteando o mundo exterior.

Eu e minha sombra na mesa de jantar, alimentando-se
De sentimentos segredados pelo tempo.
Comunhão calorosa na noite fria do contratempo.
Minha sombra ensinando-me a pescar doces emoções.

Reconheço minha sombra como minha amiga
O diálogo face a face com ela produz vida.
O jogo de Sombras e luzes nos ensinando a viver.
Jogando nas sombras para representar bem na luz.


TAPECEIRO DO MUNDO

Tapeceiro unindo cores, amores e dores.
Unindo sabores, desamores e as flores.
Tecendo com maestria o destino dos meninos,
Tecendo com amor, dor e contumaz pudor.

Tapeceiro unificador do tempo, espaço e luz.
Unificando a dor com o amor ele gera sabor.
Unificando luz e trevas ele engendra vida.
Unificando o consciente com o inconsciente
Ele cria homens de puro valor.

Tapeceiro trançando com as linhas das emoções,
Sentimentos e voláteis pensamentos de alegria.
No emaranhado da sua obra existe o caos, ordem,
Desordem e paradoxos de paixão e sabedoria.

Tapeceiro do caos constrói a ordem,
Da dor constrói o amor,
Da morte constrói A vida,
Das trevas constrói a luz.
De você constrói um novo amanhecer.


PROGRESSO OU RETROCESSO?

O progresso construindo regresso
Meu compromisso é com o sucesso
Minha luta é pela pomposa regressão
O progresso que fere sem discriminação

O progresso que derrama sangue em nome da nação
Transformando o verde em cinza vivaz
Retrocesso é o jogo do progresso capital
Retroceder ao instinto selvagem moral

O progresso que feri
O progresso que infere
O progresso que submerge
O progresso que submete

O progresso que gera retrocesso
O retrocesso que gera alienação
Alienação gerando ilusão
Ilusão engendrando manipulação

Que progresso é esse que destrói a nação?
O verdadeiro progresso é aquele que respeita o outro
Progresso ou retrocesso?
Ilusão ou alienação?
Qual a sua interação?


DEUS DA GUERRA

Guerra santa, guerra fria, guerra sem sintonia
O preço da guerra é o sangue puro das crianças
As lágrimas das mães que ficaram na janela esperando
As estrelas para decorarem os quartos dos filhos

Não existem vencedores nos flancos da guerra
Quem é o inimigo, qual a face dele, quem é ele?
Será que o inimigo sente fome, frio, sede e medo?
Será que ele se parece comigo nas batalhas da fronte?

O deus da guerra está comigo e exterminarei meus inimigos
A carnificina será bela na presença do nosso deus, ele nos honrará
O mau cheiro dos corpos dos nossos inimigos subirá como aroma suave
As narinas do nosso deus
As mulheres estupradas na guerra farão nosso deus sorrir
As crianças estripadas farão deus chorar e pular de êxtase

Na contagem dos mortos inimigos no campo de batalha
Contemplava e percebia que a face deles era minha face
Via na face deles o medo, a dor, o horror e o extremo pavor
Vi e interpretei que o inimigo era eu com meus deuses e fuzis


DOMESTICAÇÃO DA ALMA

No recôndito da minha alma moram lobos vorazes
E mordazes
Alimentando-se do ódio e da dor que há em mim
Lobo solitário uivando nas noites lacônicas da minha alma
Ferocidade intensa na matilha social dominicana global
Lobos bobos metamorfoseados em cães ferozes dentro do quintal
Na coleira do Domini é guiado para o submundo teatral
Vendeu a alma pela ração diária do canil
Outrora devorador de homens, hoje lambe as mãos do opressor
Tua alma selvagem foi domesticada pela luxúria e lenitivo do mundo
Dos medíocres
Ladra relembrando quem eras nas selvas mortais da vida lobal 
Tua cólera lobal se tornou pilheria global
Vendeste a alma pelo um pedaço de osso
Em outros momentos vivia nos montes iluminados pela lua cheia
Dominava as noites com maestria solitária
Senhor da noite, hoje cão de guarda do dia
Tua alma domesticada e adormecida está convencida que és senhora de si
Tu és o cão do senhor se alegrando com as migalhas que caem da mesa do Domini
Vive revirando o lixo sepulcral moral
Lambendo as próprias feridas existenciais


O DOMADOR DE ALMAS

O domador minha alma quer laçar
Com ouro de tolo quer me conquistar
Com sua fala mansa quer penetrar
Minha alma
Ao som do chicote quer me enjaular
Lança-me no gueto para tentar vencer-me
Pela fome, medo e violência.
Anseia vê minha alma curvar-se e sua
Mão beijar
Substâncias mágicas usam para entorpecer
Minha alma
Mil e um mecanismos inventa para sabotar
A ascensão da minha alma alada
Minha alma selvagem não se dobrará às
Estruturas de poder
Meu espírito indomável não aceitará o discurso
Verborrágico
Meu corpo indócil não se submeterá à disciplina
Mercantil global
Meu coração indômito repousará nas agitadas águas
Da revolução


TOQUE DE MIDAS

Midas vivendo prodigamente em seu suntuoso palácio
Ávido por mais moedas imaginárias
Nababescamente sempre desejando e nunca contente
Com o que possui
Sua vida palaciana de luxúria e glória oculta sua
Miserável alma esfarrapada
No trono com suas vestes reais esconde seu complexo
Mundo avaro
Quanto mais bebia dessa água salgada chamada poder
Mais sede sentia.
Baco concedeu-lhe um pedido, ele tomado pelo insano
Desejo pediu que tudo que tocasse fosse transformado em
Ouro
Tudo que tocava ouro se transformava
 Alegre e saltitante Caminhava
Dourado, gélido e imóvel tudo agora contemplava
Não existia mais calor
Somente estátuas douradas reluzentes e frias para abraçar
Foi nesse momento que percebeu que seu ouro sua alma
Não preenchia
Agora somente sete mergulhos nas águas correntes
Para a alma purificar
O ouro as águas levarão e o calor humano ficará
Para te enriquecer a alma
Trazer-te a calma
Dissipar o animalesco que há em ti
Vestir-te com pele humana para
Você poder sentir


CONFRONTO POÉTICO

A poesia não pode ser paliativa para a alma humana
Fugir da dura realidade
A poesia não é escapismo barato para a alma cretina
Marginal
Poesia é antes de tudo confronto profundo com o EU
Confronto com homens e com os deuses que os homens
Criaram

Poesia é desassossego eternal na alma do poeta marginal
É inquietude com o status quo luciferiano
É rebuscar um novo amanhecer, reaprender a ver o mundo
Com olhos poéticos
O poeta não pode ser o senhor do escapismo mundano, mas
Antes de tudo é aquele que rasga as entranhas da humanidade
Para contemplamos suas volúpias insanas

A poética do confronto é aquela que desveste a camisa de força
Da alma humana
Dar voz ao oprimido é amordaçar o opressor com maestria poética
A poesia do confronto reflete seu tempo com senso crítico imagético
Desconstrói a muralha do conceito pré-concebido na alma imunda

A poesia jamais pode ser sentimentalismo banal, a poesia não é
Pra ti te sentires bem, é pra te sentires mal
Para conduzir-te à reflexão-ação, não ao surrealismo bestial
É a chave mestra para a revolução da alma dentro da caverna sonífera

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