sexta-feira, 4 de maio de 2018

QUATRO POEMAS DE JOÃO VERAS

MEU ESTADO ABISM A DOR
João Veras

Olhe, eu não quero o seu voto.
Nenhum de nenhum.
Chute a urna nessa hora.
Eu prometo nunca querer.
Não ser escolhido.
Essa é a minha escolha.

Apenas, se lhe for possível, observe-me.
Busque o que não significo.
Promessa, negócio, promoção, oferta.

Me alcance, com seu olhar, no abismo invisível em que submerso e canto.

Eu ali querendo tanto o que quero tanto para tudo, para todos.
O exato que quero tanto para mim.
E para mim não quero dor.

03.05.18


O JOIO E O TRIGO NA CARTILHA MENTAL
João Veras

Lá vem aquele negro... Sujo, ignorante, violento, feio, pobre...
Esse negro - eu conheço - foi todo esquadrinhado na minha mente. Peça por peça. Corpo, forma, cor, brilho, impotência.
Ele existe aqui muito bem antes de aparecer ali adiante.
Lá vem ele dentro de mim em minha direção...

Esse é o negro da educação e do catecismo.
Dos livros didáticos das famílias multicores (não “de cor”).
Das indústrias e dos mercados da imagem e da imaginação...
Do padrão da menoridade. Do imaginário e da dor.
Escravo, servil, doméstico, periférico, figurante, marginal...
E lá vem ele dentro de mim em minha direção...

Esse maldito fantástico anti-herói de meus pesadelos.
A quem se deve, reza a história, ou repugnar ou ter medo ou ter piedade. Ele mesmo, quiçá a salvo pela voz/força da arte/esporte. (se, somente se, enquanto ídolo!)

Se não...
Todo cuidado é muito pouco!
Melhor atirar antes!
Pois lá vem ele dentro de mim em minha direção...

24.04.18


DES-TINO DA SORTE
João Veras

Santa maria do ceará me deu a luz
josé do acre partiu
a cidade lavou a sua mão
e eu quase fui aquele anjo joão
nas correntezas turvas do rio.


PER SIGO
João Veras

tudo dar errado
até dar certo
dar caminho
até dar voltas

nada dar certo
até dar errado
dar voltas
até dar caminho

circulo o circular sem fim
meu globo da morte

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