MEU ESTADO ABISM A
DOR
João Veras
Olhe, eu não quero
o seu voto.
Nenhum de nenhum.
Chute a urna nessa
hora.
Eu prometo nunca
querer.
Não ser escolhido.
Essa é a minha
escolha.
Apenas, se lhe for
possível, observe-me.
Busque o que não
significo.
Promessa, negócio,
promoção, oferta.
Me alcance, com seu
olhar, no abismo invisível em que submerso e canto.
Eu ali querendo
tanto o que quero tanto para tudo, para todos.
O exato que quero
tanto para mim.
E para mim não
quero dor.
03.05.18
O JOIO E O TRIGO NA
CARTILHA MENTAL
João Veras
Lá vem aquele
negro... Sujo, ignorante, violento, feio, pobre...
Esse negro - eu
conheço - foi todo esquadrinhado na minha mente. Peça por peça. Corpo, forma,
cor, brilho, impotência.
Ele existe aqui
muito bem antes de aparecer ali adiante.
Lá vem ele dentro
de mim em minha direção...
Esse é o negro da
educação e do catecismo.
Dos livros
didáticos das famílias multicores (não “de cor”).
Das indústrias e
dos mercados da imagem e da imaginação...
Do padrão da
menoridade. Do imaginário e da dor.
Escravo, servil,
doméstico, periférico, figurante, marginal...
E lá vem ele dentro
de mim em minha direção...
Esse maldito
fantástico anti-herói de meus pesadelos.
A quem se deve,
reza a história, ou repugnar ou ter medo ou ter piedade. Ele mesmo, quiçá a
salvo pela voz/força da arte/esporte. (se, somente se, enquanto ídolo!)
Se não...
Todo cuidado é
muito pouco!
Melhor atirar
antes!
Pois lá vem ele
dentro de mim em minha direção...
24.04.18
DES-TINO DA SORTE
João Veras
Santa maria do
ceará me deu a luz
josé do acre partiu
a cidade lavou a
sua mão
e eu quase fui
aquele anjo joão
nas correntezas
turvas do rio.
PER SIGO
João Veras
tudo dar errado
até dar certo
dar caminho
até dar voltas
nada dar certo
até dar errado
dar voltas
até dar caminho
circulo o circular
sem fim
meu globo da morte
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