pelos filhos que vão
nascer.
Teremos que explicar
tanta coisa a tantos
deles.
Um dia hão de me
perguntar
Tudo o que perguntei:
Mãe, porque não posso
ver Augusto quando
quero?
Mãe, andei lendo
muito esses dias
e estou quase
chegando
a encontrar o que eu
queria.
Inutilidade das
palavras.
Tenho preguiça,
Tanta preguiça
Pelos filhos que vão
nascer.
Dez, vinte, trinta
anos
e estarão procurando
alguma cousa.
Nunca se lembrarão
daqueles que já
morreram
e procuraram tanto.
Vão custar (ó deuses)
a entender aqueles
que se mataram.
Os filhos vão nascer,
coitados!
Hão de pensar que são
eles
os destinados.
Hão de pensar que
você
nunca passou o que
eles estão passando.
Os filhos que vão
nascer...
Insatisfeitos.
Incompreendidos.
p.33-34
(do livro Presságio,
1950)
I
Eu cantarei os
humildes
os de língua travada
e olhos cegos
aqueles a quem o amor
feriu
sem derrubar.
Cantarei o gesto
dos que pedem e não
alcançam
a resignação dos
santos
o sorriso velado e
inútil
dos homens
conformados.
Eu cantarei os
humildes
o homem sem amigos
o amante sem
esperança
de retorno.
Cantarei o grito
de escuta universal
e de mistério nunca
desvendado.
Serei o caminho
a boca aberta
os braços em cruz
a forma.
Para mim virão os
homens desconhecidos. p.42
(do livro Balada de
Alzira, 1951)
HILST, Hilda. Da poesia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2017.
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