LIGA COMMERCIAL
Bazar 19 de Abril, um comércio da época, em Vila Seabra, 1913. |
Desta feita não ficaram no deserto as nossas concitações ao commercio para que tratasse com interesse dos direitos de sua classe, pois que só desta maneira poderá ella influenciar nos negócios de alta transcendência do Paiz, ser olhada com o respeito a que tem direito, libertar-se do captiveiro das praças aviadoras e do logro da freguesia malandra chegada a esse ponto pelo abuso do credito.
Nunca desanimamos nas luctas que emprehendemos, por que sabemos que a lucta foi feita para o Ser pensante batel-a, e seguimos a opinião do Bom Ricardo, conjunto de persistência trabalho e perseverança: “água molle em pedra dura, tanto bate até que fura”.
Nova phase de liberdade abre-se aos horizontes tarauacaenses e em muita apropriada épocha chega ella, agora que reorganisa-se esta ubérrima região; urge, portanto, que se reorganise o systhema commercial até hoje adoptado, attestado de bolorenta velharia.
O commercio é a base da riqueza de qualquer paiz e sem elle as nações não poderiam existir, porque é elle o fator da fortuna publica, que concorre directamente para eleval-as.
Estamos satisfeitos da attitude tomada pelos srs. commerciantes desta zona e ao lado delles estaremos sempre que se tratar do engrandecimento e bem estar desta nobre classe.
Assim foi que no dia 24 de mez que hontem expirou reuniu-se o commercio do rio nesta villa e fundou a “Liga Commercial” que urgia vir por qualquer principio.
Necessário torna-se agora que cada um, sem distincção de espécie alguma, concorra com o seu contingente, com a pedra para que se erga sobre alicerce solido o grande Templo da solidificação do commercio da zona Tarauacaense.
Publicamos aqui a acta da fundação da “Liga”, adiante as circulares que foram expedidas bem como os telegrammas.
ACTA da primeira reunião para formação da Liga Commercial do Tarauacá
Aos vinte e quatro dias do mez de Novembro do anno de mil novecentos e doze, às duas horas da tarde, na villa Seabra, do rio Tarauacá, presentes os srs. Coronel José Vicente de Assumpção representando as firmas commerciaes Alves de Freitas & Ca., F. Olympio & Ca. e A. Furtado e Ca., Coronel José Marques de Albuquerque, representando a firma J. Marques & Irmão, Major João Onofre Filho representando a Casa Maceió de Mello & Ca., Major João Lopes Ibiapina e Manoel Elysio Frota, Antonio Nunes, representado pelo ultimo, C. Lima & Ca., pelo seu sócio Claudino Lima, dr. Hugo Ribeiro Carneiro, representando as firmas Van’Dick A. Tocantins, Mello, Frotas & Ca., Francisco C. Couto & Ca., R. S. Costeira, Thomas Dias de Oliveira, P. M. Telles & Ca., Sabino & Julio, Julio Rocque & Ca., Frota & Fortuna e Sousa & Marques; J. V. de Menezes & Filho, representados pelos sócios Coroneis Juvencio Victorino de Menezes e José Victorino de Menezes, fazendo uso da palavra o Sr. Dr. Hugo Carneiro explicou qual o fim da reunião, dizendo que todos alli se congregavam em torno de um direito proclamado e garantido pelas nossas instituições republicanas, o direito de associação e reunião. – Fez a apologia deste direito evidenciando as vantagens que as associações trazem à communhão e às nações politicamente organisadas, que nelas teem uma alavanca poderossima de progresso e grandeza. Mostrou como pelo espirito de associação as energias individuais desdobravam-se assumindo vulto considerável, dilatando-se, expandindo-se, vencendo todos os obstáculos, alcançando fins, resultados, que, zombariam da actividade e dos elementos individuaes não colligados. Alludiu ao extraordinário desenvolvimento que tem tido o grande principio de associação nas capitaes européas e norte americanas e apreciando a maneira porque vae elle se implantando em nossa Pátria, disse que aquelle direito representava na actualidade o passo mais avançado das civilizações cultas e adiantadas.
Fez ver que era de tal relevância na vida dos povos o espirito de congregar e reunir elementos esparsos que por elle os escriptores estudiosos auferiam o seu gráo de adiantamento e cultura. Falando a homens intelligentes e sabedores do commercio, achava-se dispensado de provar a utilidade das associações na vida commercial e ainda mais, a notável influencia que ellas exercem até mesmo ate os governos, conseguindo benefícios, melhorias, emfim o bem estar da collectividade. Terminando suas considerações, procurou estimular o animo dos seus collegas de reunião, mostrando o progresso sempre crescente das associações no Brazil e concluiu os concitando a levarem de vencida a útil, elevada e nobilíssima idéa em prol da qual alli se achavam presentes. Propôs em seguida que fossem indicados os Srs. Coronéis José Vicente de Assumpção, José Marques de Albuquerque e Major João Onofre Filho, para comporem a mesa directora dos trabalhos da reunião, o que foi unanimemente aceito sendo immediatamente envestidos dos seus cargos.
Para secretariar a sessão foi convidado o Sr. Antonio Regallo Braga, que disse desvanecidamente acceitar aquella honrosa investidura. Assumindo o exercio dos respectivos cargos, mandaram os membros da Directoria que se procedesse à leitura do expediente que constava de um officio do Sr. Dr. Pedro Leite, communicando não poder comparecer à sessão por motivos superiores, mas que estava disposto a auxiliar com seu jornal aquelle nobre emprehendimento e promettendo comparecer as fucturas reuniões da Liga para discussão dos respectivos estatutos. Communicou também ter recebido procurações dos Srs. Araujo & C.ª e Lourenço Ferreira da Silva, para represental-os perante as sessões da mesma Liga. Por proposta do Sr. Dr. Hugo Carneiro, ficou deliberado que se organisasse uma commissão formada exclusivamente de commerciantes, incubidos de se dirigir aos seus collegas solicitando a indicação das medidas que cada um julgue ser discutida na próxima reunião da Liga. Tomando a palavra o Sr. Coronel José Vicente de Assumpção, alvitrou a ideia de ser essa commissão constituída por três representantes de cada um dos rios – Tarauacá, Muru e Embira e trez outros pela zona commercial da Villa Seabra. Approvada a proposta do Sr. Coronel José Vicente de Assumpção, foram eleitos representantes do rio Tarauacá, os Srs. Aristarcho Torres, Antonio Nunes e Manoel Elysio Frota; Muru, Sr. Francisco Fortuna, Francisco Altino Angelim e José Manoel Lopes Filho; Embira, Srs. Bento Annibal do Bomfim, Antonio Saboya e José Soares; pelo commercio da Villa Seabra, Coronel José V. de Menezes, Antonio Alves de Andrade e Pedro Monassa. O Sr. Major João Onofre Filho, propôz que fossem distribuidas circulares a todos os commerciantes da zona interessada no assumpto de que se faz objecto a Liga, communicando a fundação da mesma e solicitano o concurso intellectual e material de todos para o completo êxito das ideias que ali os congregaram. Fallando o Sr. Coronel José Marques de Albuquerque, disse applaudir todas as indicações votadas e propunha a grande data nacional de 24 de Fevereiro, para a convocação da futura reunião em que se deve discutir os estatutos, eleger a Directoria da Liga e resolver definitivamente sobre as medidas tendentes a estabelecer as relações commerciaes entre freguezes e patrões com reciprocas garantias, fortificadas pelas solidariedade de todos os proprietários. Pelos Srs. Manoel Elysio Frota e João Lopes Ibiapina foi aventada a ideia de se radiographar à Associação Commercial do Juruá e ao Prefeito do Departamento enviando congratulações pela resolução que acabavam de tomar os seus collegas, membros do commercio Tarauacaense, ideia que foi unanimemente approvada e aplaudida. Em seguida foi approvada também unanimemente uma proposta de inteira solidariedade à attitude enérgica e digna do Sr. Major Francisco Olympio, em face dos últimos acontecimentos, em que se viu envolvida a sua casa commercial. Não havendo mais quem fizesse uso da palavra, a commissão Directora lembrou a ideia de serem prehenchidos os cargos vagos, sendo então aclamados: Presidente efectivo da “Liga” até a próxima reunião o Sr. Major Francisco Olympio, vice Presidente, o Sr. Claudino Lima; Presidentes honorários, Srs. Coroneis Antonio Frota Menezes, José Vicente de Assumpção e Manoel Elpidio de Andrade; Thezoureiro o Sr. Major João Onofre Filho; Secretario Geral, Sr. Antonio Regallo Braga e Sub-secretarios Srs. Manoel Elysio Frota e João Lopes Ibiapina. E, como nada mais houvesse a ser discutido, convocando a nova reunião para o dia 24 de Fevereiro, do anno próximo vindouro. Do que para constar lavrou-se a presente acta, que vai por todos assignada.
José Vicente de Assumpção
José Marques de Albuquerque
João Onofre Filho
Hugo Ribeiro Carneiro
João Lopes Ibiapina
Claudino Lima
Manoel Elysio Frota
Juvencio V. de Menezes
José V. de Menezes
Antonio Regallo Braga
Jornal O Municipio, Tarauacá-AC, 1 de dezembro de 1912, Ano III, N. 114, p. 1
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