O resto é escória
O que amas de verdade não te será arrancado
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
Mundo de quem, meu ou deles
ou não é de ninguém?
Veio o visível primeiro, depois o palpável
Elísio, ainda que fosse nas câmaras do inferno,
O que amas de verdade é tua herança verdadeira
O que amas de verdade não te será arrancado
A formiga é um centauro em seu mundo de dragões.
Abaixo tua vaidade, nem coragem
Nem ordem, nem graça são obras do homem,
Abaixo tua vaidade, eu digo abaixo!
Aprende com o mundo verde o teu lugar
Na escala da invenção ou arte verdadeira,
Abaixo tua vaidade,
Paquin, abaixo!
O elmo verde superou tua elegância.
“Domina-te e os outros te suportarão”
Abaixo tua vaidade
Tu és um cão surrado e largado ao granizo,
Uma pega inchada sob um sol instável,
Metade branca, metade negra
E confundes a asa com a cauda
Abaixo tua vaidade
Que mesquinhos teus ódios
Nutridos na mentira,
Abaixo tua vaidade,
Ávidos em destruir, avaro em caridade,
Abaixo tua vaidade,
Eu digo abaixo.
Mas ter feito em lugar de não fazer
isto não é vaidade
Ter, com decência, batido
Para que um blunt abrisse
Ter colhido no ar a tradição mais viva
Ou num belo olho antigo a flama inconquistada
Isto não é vaidade.
Aqui, o erro todo consiste em não ter feito.
Todo: na timidez que vacilou.
REFERÊNCIA
POUND, Ezra. Poesia. (Introdução, organização e notas de Augusto de Campos; traduções de Augusto dos Campos… [et al.]; textos críticos de Haroldo de Campos). São Paulo: HUCITEC; Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário